quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Amanhã

Queria tanto escrever aqui qualquer coisa sobre o ano que passou... mas o trabalho nestes últimos dias não me deixou. Talvez amanhã, talvez num novo ano.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Presentes sem esforço

Há também esta questão dos presentes. Dantes recebiam-se e mesmo que não gostássemos das meias, da toalha de chá, do conjunto de chávenas, lá agradecíamos e ficávamos com as coisas a pensar que, em último caso, poderíamos oferecê-las no ano seguinte a uma das tias. Agora tudo o que nos dão e não serve ou de que não gostamos temos oportunidade de trocar. Já não há qualquer pudor em dizer abertamente que não é bem aquele o tom de que gostamos ou que preferimos outro autor no caso dos livros. Além disso já não são só as embalagens a denunciar onde se compraram os artigos. Há os "talões de troca" que facilitam muito. 
Mas se assim se tornam mais fáceis as trocas, de alguma forma também se desresponsabiliza quem oferece uma vez que o esforço para escolher o presente certo tende a diminuir. E o que dizer do papel que se gasta? Numa altura em que o aspecto ecológico é valorizado faz uma certa impressão que, para além do talão do multibanco e da factura (com dois papéis), haja ainda um talão de troca por cada artigo comprado.
E depois há ainda os cartões-oferta para quem não quer ter trabalho a escolher ou a pensar o que oferecer. Muitas lojas os têm. Em algumas podemos optar por diferentes modelos e é o máximo de personalização que podemos obter.
Tudo isto tem como objectivo facilitar o consumo. Mesmo assim, eu ainda tenho algumas dúvidas em relação a uns presentes que ficaram por dar...

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Desabafo natalício

Mesmo não tendo uma especial ligação ao Natal, admito que estes dias têm algumas coisas positivas. Uma delas é, sem dúvida, pôr em contacto pessoas das quais, em alguns casos, só nesta altura temos notícias. Família, amigos e conhecidos, trocam entre si desejos favoráveis e optimistas, quase sempre, genuínos. 
Mas, de há uns anos para cá, deixámos de perceber se de facto quem nos envia os votos de Boas Festas está realmente a pensar em nós ou se limita a reenviar frases escritas por alguém, algures, não se sabe quando e que, só porque são engraçadas ou "cheias de significado", passam de telemóvel para telemóvel, de mural de facebook para mural de facebook, de forma absolutamente impessoal. 
Acho que começo a sentir saudades de um simples e sentido "Feliz Natal".

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

"The state or time of being a boy" = All life

Acho que nunca tinha lido ou ouvido a palavra antes. Mas bastou ver a apresentação para saber que ia gostar do filme.
Richard Linklater em "Antes do Amanhecer", "Antes do Anoitecer" e "Antes da Meia-Noite" já me tinha habituado à simplicidade presente nas histórias e na forma como elas nos são mostradas. E simplicidade é uma noção de que gosto especialmente. A vida, com todas as suas vertentes, já tem em si uma complexidade extrema. E essa complexidade cabe nessa minha noção. Aliás, no cinema, como na literatura ou outras artes, são os filmes onde não há grandes artifícios ou excessos que mais gosto de ver. Até na forma como foi filmado, acompanhando o envelhecimento real dos actores, há um realismo desarmante.
No que tenho lido acerca de Boyhood sobressai a ideia de que é um filme sobre "a vida como ela realmente é". Mesmo que o argumento diga mais a algumas pessoas do que a outras, vê-lo é uma experiência que não pode deixar de tocar todos os que estão a crescer e todos os que já cresceram, ou melhor, que pensam que já cresceram. É que, na verdade, e suponho que esta é uma realidade comum a todos nós, apesar das mudanças físicas e ao nível psicológico, que nos acontecem e que fazemos acontecer ao longo da vida, fica sempre uma sensação de que há determinadas áreas em nós que permanecem inalteráveis nesse percurso.
E é dessas áreas que este filme se aproxima, lembrando-nos os tais momentos em que, paradoxalmente, deixámos para trás partes importantes de nós e seguimos em frente, levando-as connosco.  



Entre aspas, no título, está a definição dada pelo tradutor da Google. 
Curiosamente as duas imagens deste e do anterior vídeo apresentam rapazes na escola durante a infância.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Um arquivo importante

Habituei-me a ouvir falar dela como a a única mulher que, até hoje, desempenhou o cargo de primeiro- ministro em Portugal. Eu era muito miúda quando isso aconteceu por isso achei a situação absolutamente natural. E era, claro. Mas não deixava de ser, também, uma novidade num país onde, até há pouco tempo atrás, as mulheres tinham tantas restrições na sua vida cívica. Ainda hoje quando se fala em Maria de Lourdes Pintassilgo é esse facto que se refere sempre, apagando outros que não deveriam ser esquecidos. É que esta mulher deixou uma obra importante, materializada em documentos como ensaios, relatórios, artigos, etc.
O seu arquivo político e pessoal estará agora à guarda do Centro de Documentação 25 de Abril na Universidade de Coimbra que virá a disponibilizá-lo ao público. O público, certamente, agradecerá.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Homonímia

"Só agora eu sei", "Senhor delegado", "Encontro por telefone", "Rosto inocente", "Busca sem fim", "Motivo", "Jogo sujo", "Queria tanto", "Vou pegar no pé", "Não tem mais jeito", "Porque você não responde", "Sei", "Agora é tarde", "Vá pra cadeia", "Chora", "Eu queria ter poderes", "Sei sei", "Não vou abrir a porta", "Nem pense nisso", "Te prendo outra vez", "De uma vez para sempre", "Chega de papo".

Alguns dos títulos de êxitos do artista brasileiro (já falecido), Carlos Alexandre.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Nos telejornais das oito

Depois dos directos constrangedores dos primeiros dias em que meios técnicos e humanos se amontoavam à frente do edifício do tribunal no Campus de Justiça, onde estaria Sócrates, passámos agora aos directos e reportagens frente ao estabelecimento prisional de Évora. Se no primeiro caso ficámos a conhecer melhor algumas das viaturas usadas pela PSP, agora ficamos a saber que naquele lugar se come queijo, que o local é muito usado como cenário de "selfies" e que é um bom sítio para o sindicato dos jornalistas fazer uma reunião com os seus associados.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Ainda o Cante

Desde há alguns dias a esta parte toda a gente parece adorar o cante alentejano. Eu, apesar do episódio contado no post anterior, nunca lhe atribuí, pensando em mim em particular, uma importância relevante. 
Já como traço do património cultural percebo que tem um valor que se enquadra bem nas definições que levam a UNESCO a atribuir estas classificações. As regras daquela organização são muito rígidas e a burocracia necessária para se chegar onde o Cante chegou agora parece não ter fim. Mas, sendo um dos principais objectivos desta classificação, torná-lo visível a todo o mundo e contribuir para sensibilizar os poderes para a necessidade de se tomarem medidas para assegurar a transmissão desta forma específica de cantar, percebe-se, de facto, a sua importância. Claro que a inclusão nesta lista é um princípio e não um fim. Implica trabalho constante e a participação de um conjunto alargado de intervenientes pois não basta apenas identificar e protegê-lo. É preciso valorizá-lo, transmiti-lo, devolver às comunidades que o integram nas suas vivências, algumas das vantagens que estas classificações podem trazer. Ninguém deixará de concordar que, no caso do Fado, por inúmeras razões, esse movimento está mais facilitado.
Eu não passei a adorar o cante alentejano. Mas ele merece que as manifestações de regozijo que agora se multiplicam se transformem em verdadeiro apoio.  

domingo, 30 de novembro de 2014

Numa noite fria, no Alentejo

Na sala do lado, a do restaurante, as vozes, só de homens, misturavam-se naquele burburinho normal das refeições em conjunto. De repente, silêncio. E então, de forma que me pareceu espontânea, eles começaram a cantar. Eu estava de saída do bar daquele hotel. Aquelas vozes, naquele lugar de paredes brancas, fizeram-me sentir arrepios e ficar. Permaneci à escuta. Não havia na sala mais ninguém para lá daqueles homens. Eles cantavam para si, uns para os outros, numa comunhão de emoções que partilhavam por puro prazer. Talvez pela situação inusitada senti aquele como um momento mágico e não mais o esqueci.

(Este episódio passou-se há poucos anos, num hotel em Portel.) 

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Um conceito moderno de televisão

É verdade que, naquela altura, a nossa escolha era muito limitada. A televisão oferecia e para nós era "pegar ou largar". Mas ninguém nos obrigava a ver o TV Rural. E, mesmo nas cidades, eram muitos os que não perdiam um. Certamente não era por acaso. E não foi por acaso, também, que aquele foi o programa com maior longevidade na televisão portuguesa (esteve no ar de 1959 a 1990). E o elemento chave era, sem dúvida, o seu apresentador, o Engenheiro Sousa Veloso que percorria o país a falar de um tema que manifestamente o apaixonava. Todos recordam o respeito que demonstrava pelos agricultores que entrevistava mas também pela própria natureza. A forma como ela era transformada pela agricultura era apresentada de forma didáctica mas também emocionante, até. Era um conceito muito moderno, mesmo se os meios técnicos não eram muito evoluídos. 
Esta noite, a RTP Memória passou um programa, de 2005, em que era ele o convidado. Percebi que o final do TV Rural não o preocupou tanto quanto a sensação que tinha do abandono da agricultura, enquanto actividade produtiva. E gostei de o ouvir dizer que ficava irritado quando ouvia, mesmo da boca de jornalistas, que estava um tempo muito bom quando, em tempo de chuva, ela teimava em não cair; porque se lembrava daqueles para quem a chuva era um bem precioso.
Talvez pelas minhas raízes rurais, durante alguns dos anos da minha infância e adolescência, nunca perdia um programa ao domingo. Provam-no os registos do meu diário. Depois fui crescendo e a minha atenção não acompanhou o TV Rural. Hoje, com a morte do Engenheiro Sousa Veloso, não podia deixar de o recordar.

Acto de contrição

Depois do post anterior, confesso que fiquei um pouco arrependida de ter brincado com esta questão. Não porque ache que no humor há assuntos tabus mas porque nesta, como noutras questões, todos falamos muito do que não sabemos. De facto sabemos tão pouco sobre o caso que é até constrangedor ouvir tanto comentador a dar a sua opinião. E se há os que se limitam a referir teorias aplicadas a cenários variados, há aqueles que enviam recados aos que têm o poder para fazer avançar o caso. Esperemos que estes façam o seu trabalho sem serem influenciados. Às vezes penso que deveriam fazer como os jurados em julgamentos. Fechavam-se numa sala, alheios às opiniões de outros e decidiam o melhor que podem. Todos nós, cidadãos portugueses, merecemos que tudo se faça de acordo com a lei. E a lei não prevê consultas a "opinadores" profissionais. Acho que mais vale, de facto, a abordagem dos humoristas que, essa sim, apela a sentimentos, quer os mais básicos, quer os mais elaborados, permitindo sempre um avanço. E nós precisamos mesmo de avançar.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Um êxito a médio prazo

Não sei quem poderia fazer, no PS, um dueto com Sócrates, neste bonito tema... Mas um destes intérpretes tem o apelido Costa...

Publicidade, ali não, obrigada

Nas cidades, lugar por excelência da diversidade, cabe tudo. E desde que alguém se começou a dedicar à publicidade que esta está ligada àquele espaço de uma forma marcante. Dificilmente conseguimos pensar numa cidade sem os painéis, os mupis, e outros, que anunciam produtos ou acontecimentos. A eles nos fomos habituando e frequentemente nem os notamos. No entanto, muitas são as situações em que esses elementos criam verdadeira poluição visual. Na Europa há já alguns locais onde se tentou minorar os efeitos dessa realidade e agora os responsáveis de uma cidade com alguma dimensão, como Grenoble, vão tomar medidas que certamente terão grande impacto. Será um exercício interessante e cá estaremos para saber como correrá a experiência. Em cidades como Lisboa o que se perderia em verbas que chegam à câmara com a publicidade certamente não permitirá a realização de uma experiência semelhante. Mas não deixa de ser curioso imaginar certos locais sem o mobiliário urbano que suporta a publicidade. Eu já o fiz e gostei do que vi.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Popper ao final do dia

Tinha acabado de saber que se comemorava o Dia Internacional da Filosofia. De regresso a casa, no metro, a rapariga sentada no banco à minha frente comia uma maçã e olhava para fora, pela janela, embora, provavelmente, porque o que se vê é reflexo, o que via fosse o interior da carruagem.Terminada a maça tirou um livro da mala. Como é costume, espreitei para ver o título. Era Busca Inacabada, de Karl Popper. Não podia ser mais adequado, pensei. 

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

terça-feira, 18 de novembro de 2014

A rapariga

Habituei-me a vê-la na rua. Sempre de chinelos de enfiar no dedo, de Verão e de Inverno. Aproveitava as portas entreabertas e esgueirava-se para o interior dos prédios, muitas vezes só para dormir nalgum canto mais escuro. O seu ar era sempre de alguém a quem o cansaço nunca deixava. Desta vez vi-a no centro comercial. Era um dia de semana à noite e pouca gente andava por ali. Provavelmente ninguém reparou nela. Dormia num sofá no meio do corredor, o corpo dobrado, a cabeça pendente para um dos lados. Estava descalça mas, numa das mãos, segurava um par de sapatos. 

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Manoel de Barros sabia...

...que crescer não adianta muito. Hoje morreu um guri.

"Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade. A gente só descobre isso depois de grande. A gente descobre que o tamanho das coisas há que ser medido pela intimidade que temos com as coisas. Há de ser como acontece com o amor. Assim, as pedrinhas do nosso quintal são sempre maiores do que as outras pedras do mundo. Justo pelo motivo da intimidade. (...) Se a gente cavar um buraco ao pé da goiabeira do quintal, lá estará um guri ensaiando subir na goiabeira. Se a gente cavar um buraco ao pé do galinheiro, lá estará um guri tentando agarrar no rabo de uma lagartixa. Sou hoje um caçador de achadouros da infância. Vou meio dementado e enxada às costas cavar no meu quintal vestígios dos meninos que fomos (...)."

Citação copiada daqui

O marco do correio

Já tinha escurecido. Aproximei-me da passadeira e vi um homem, com cerca de 80 anos, a afastar-se do centro do passeio e a aproximar-de da berma. Travei e parei pensando que ele iria atravessar. Em vez disso dirigiu-se ao marco do correio que, apesar de ali passar todos os dias, eu nunca tinha reparado que ali estava e depositou nele uma carta. Fiquei surpreendida. Percebi, então, que há já muito tempo não via alguém a utilizar um marco do correio. Lembrei-me de mim própria quando era criança. Deve ter sido um dos primeiros recados que fiz. O marco do correio ficava no cruzamento. Quando dizíamos cruzamento já sabíamos que era daquele cruzamento que falávamos. Era preciso andar um bocadinho mas não tinha que atravessar ruas. E lá deixava as cartas que seguiriam depois para a aldeia no Norte ou para Moçambique e para o Brasil. Nessa altura achava extraordinário como é que, algum tempo depois, o envelope com aquela folha de papel iria estar na mão de outra pessoa que estava num sítio tão longe. Ao pensar nisso sorri sozinha. Depois avancei. 

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Para trocar o sofá lá de casa pela cadeira do teatro

Há cartões para tudo e para nada. Este é um cartão para uma coisa boa, muito boa: ir ao teatro. E a divulgação está interessante. Vários vídeos testemunham o que acontece quando se cruzam uma Maria e um Luiz. Este é um deles:




sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Um ano com dores

Fazer uma ressonância magnética no Serviço Nacional de Saúde não é coisa fácil. Mas, após 8 meses à espera, lá conseguiu. O médico tinha-lhe dito para ir logo à consulta mal tivesse o resultado. Por azar, quando o resultado ficou pronto, o médico entrou de férias. Logo a seguir entrou em licença de paternidade. Quando finalmente, dois meses depois, a consulta ficou marcada para o mês seguinte ela pensou que bastava ter mais um pouco de paciência. Mas umas semanas depois uma carta informou-a que, por motivos imprevistos, a consulta tinha sido adiada mais um mês. Com resignação, pensou: ainda bem que é só um pé!

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Enquanto o autocarro percorria as ruas

Foi o sorriso da rapariga que primeiro me chamou a atenção. Ela olhava em frente. Sentados nos bancos, que eu também via, estavam dois rapazes. Eram gémeos e, aos nossos olhos, só as roupas eram diferentes. Ambos tinham auriculares nos ouvidos. Não sabemos se estariam a ouvir a mesma música. Estavam de olhos fechados e as suas cabeças balouçavam nas mesmas direcções em simultâneo e com o mesmo ritmo. Durante longos minutos foi assim. Quem os olhava não podia, de facto, deixar de sorrir.

domingo, 26 de outubro de 2014

No interior de um tanque. No interior de uma guerra.

Não gosto de filmes de guerra. Por isso ir ver "Fúria" seria sempre um risco. Mesmo assim fui. Tinham-me dito que este era um filme diferente. Logan Lerman, que interpreta o papel de um muito jovem soldado que se vê, de repente, na tripulação de um tanque, dizia outro dia numa entrevista que, durante as gravações, todos os dias se chocava com o que via. De facto, mesmo estando com toda a equipa em filmagens não deve ser fácil participar naquelas cenas. A mim custou-me ver o filme. O seu realismo obrigou-me a fechar os olhos algumas vezes. Senti-me muito desconfortável como se também eu estivesse presa naquele tanque. Isso significa que eu não gostei do filme? Não. Isso significa que eu não gosto da guerra.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Refeição especial

Vou com alguma frequência ao Café Império. Mesmo que a comida não seja nada de especial, o espaço compensa. Fechado durante algum tempo, temeu-se que não voltasse a reabrir com a anterior função o que teria sido lamentável. Felizmente tal não aconteceu.
Integrado no edifício do Cinema Império, um projecto de Cassiano Branco, podemos ver, no interior, numa parede revestida a cerâmica (de Jorge Barradas), uma composição de esculturas de Martins Correia. Na mesma sala e ocupando uma área considerável, uma pintura mural de Luís Dourdil. 
Durante muito tempo, sentia-me triste ao olhar para esta obra, de 1955, tal era o seu estado de degradação. Nas últimas vezes que lá estive, porém, pude apreciar muito melhor aquele magnífico trabalho, agora restaurado no âmbito das comemorações do centenário do nascimento do pintor.
Não sei se os estudantes que enchem a sala ao almoço estarão conscientes da importância das obras em causa. Talvez não. Eu sinto-me uma privilegiada por poder tomar uma refeição na sua companhia. Passem lá e vejam. O café ganha muito. Lisboa também. 

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Prémio "Um pouco de modéstia não ficava nada mal"

Se é que a TSF citou bem (foi de uma notícia da rádio que a copiei), foi assim que Cristiano Ronaldo se referiu às suas novas chuteiras: «Estas chuteiras têm tudo a ver comigo: são elegantes, bonitas e brilham (...)»

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Uma consequência positiva da greve do metro de hoje

Estava quase a chegar ao meu destino depois de longos 45 minutos de autocarro. O rádio foi-me fazendo companhia. Em pé e sem possibilidade de me mexer nem o livro tinha sido aberto.  Nada faria pensar que terminaria a viagem com um sorriso nos lábios com o prazer da descoberta. Mas foi o que aconteceu ao ouvir a voz de Marisa Mena, ou melhor, Mimicat. Esta voz e esta canção.




terça-feira, 14 de outubro de 2014

Publicidade barata

Depois de ter herdado, há algum tempo, um iPod que está já bastante desactualizado, a minha filha mais nova tem tentado convencer-me que o ideal seria comprar um mais recente.
Após a minha argumentação no sentido de lhe dizer que faria mais sentido algo que a ajudasse mais na escola ela respondeu: -Sim, é um brinquedo... Mas eu ainda sou uma criança. E isso é bom. Isto depois do já clássico: - Não estou a pedir para tabaco.
Por fim, perante a minha pergunta: - E tem que ser mesmo um iPod?; ela responde: -Ó mãe, o mundo da Apple só tem porta de entrada. Não tem porta de saída.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O Outono de Modiano

Não tenho uma opinião clara sobre a atribuição do prémio Nobel da literatura deste ano. Aliás, de nenhum ano. A sua importância é muito grande mas o júri, tal como noutros prémios, terá, certamente, dificuldades em decidir e as suas decisões não podem ser aceites por todos. Vem isto a propósito deste post do Pedro Correia. Depois de o ler resolvi fazer o mesmo exercício.
Tenho dois livros de Patrick Modiano. Dora Bruder, foi-me oferecido em Janeiro de 2001 e li-o no mês seguinte. A memória que tenho dessa história de uma rapariga de origem judia no período de ocupação de Paris pelos alemães não é nítida embora ache que gostei de o ler (a falta de sublinhados, no entanto, poderá indicar o contrário). Anos depois fui eu a comprar No café da juventude perdida (lido em Maio de 2012). Mais uma vez a personagem principal é uma mulher e o cenário é Paris, mas agora nos anos 60 (do século XX). Deste sei que não gostei especialmente. Mesmo assim, este último tem mais sublinhados. Deixo aqui um deles. Porque também gosto do Outono.

"Para mim, o Outono nunca foi uma estação triste. As folhas secas e os dias cada vez mais curtos nunca me recordaram o fim de alguma coisa, antes uma expectativa do futuro. Há electricidade no ar, em Paris, nas tardes de Outono, à hora em que cai a noite. Mesmo quando chove. Não fico deprimido, nem tenho a impressão de que o tempo me foge. Sinto que tudo é possível. O ano começa no mês de Outubro."

in , Patrick Modiano, No Café da Juventude Perdida, Edições Asa, 2009, pág. 16

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

505

Uma grande canção dos Arctic Monkeys que é, ao mesmo tempo, neste dia mundial da música, o novo valor do salário mínimo nacional em Portugal. Se, na canção, não podemos saber ao certo a que corresponde o número (que pode ser um quarto de hotel, por exemplo) já para muitas famílias portuguesas ele significa mais 20 euros por mês. Ainda chega para comprar um CD da banda britânica mas, dada a situação real, não me parece que seja a comprar discos que a maioria o irá gastar. 

Frugal, espartano e que mais?

Da Mouraria, para Lisboa. E agora, quem sabe, a caminho de Portugal inteiro... 
Alguém com um estilo de vida espartano pode ser exactamente o que o país precisa. Esta, pelo menos, será a opinião dos credores da dívida pública portuguesa. 
Para fazer jus a esta fama e depois de um primeiro-ministro a morar em Massamá e a passar férias na Manta Rota; ainda teremos um primeiro-ministro a morar num quartinho arrendado na R. da Imprensa à Estrela e a passar férias no Parque de Campismo da Costa da Caparica...

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Parabéns, Sr. Joaquín Tejón

                                                                                                                  (imagem encontrada na net)

Os livros sempre tiveram, para mim, grande importância. Por isso, há muitos anos atrás, fiz uma lista dos livros que emprestei e das pessoas a quem os emprestei para não lhes perder o rasto. Infelizmente, nunca tive coragem de os pedir de volta e muitos deles nunca foram devolvidos. Entre eles estava o álbum "Toda a Mafalda".
Há muitos anos que não sei da amiga da altura a quem o emprestei. Ela certamente não conhece este blogue. Mas no dia em que se somam 50 anos desde que esta menina inocente e contestatária apareceu, pela primeira vez, nas páginas de um semanário argentino; apelo à sua devolução. Se tal não acontecer serei, certamente, uma das primeiras compradoras desta edição.
Gostaria muito de dar a ler às minhas filhas as reflexões, cheias de crítica social e de sentimentos de justiça, que Quino punha na boca da sua personagem, mesmo sabendo que, o próprio autor já o disse, Mafalda, hoje, seria diferente (esta entrevista é muito interessante).
Ao mesmo tempo não posso deixar de pensar que aquilo que me fascinava na idade que as minhas filhas têm agora, já não será tão marcante para elas. A minha ingenuidade, que encontrava eco nas palavras e atitudes da Mafalda, é difícil de repetir hoje em dia. Ou será que esta é a minha sensação, agora que essa ingenuidade se perdeu? Pelo sim, pelo não, o melhor é fazer as apresentações. Elas depois dirão.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Simpatizante "ma non troppo"

Sempre me julguei simpatizante do PS. Nestes últimos tempos percebi, no entanto, que não era simpatizante o suficiente para me inscrever como simpatizante. Da minha parte tinha todas as condições formais necessárias: sou cidadã portuguesa, tenho idade suficiente e estou inscrita no recenseamento eleitoral; não sou militante do Partido Socialista; não sou militante de qualquer outro partido político; não fui expulsa do partido; não fui reconhecida como demente, entre outras. Mas da parte do PS não estavam reunidas as condições mínimas. Entre Costa e Seguro só não se pode dizer que venha o diabo e escolha porque, provavelmente, um dos dois será, de facto, primeiro-ministro e o assunto já é demasiado do reino das trevas para pôr a personificação do mal a decidir. Confesso que Seguro tinha mais a minha simpatia porque sou das que, perante a sensação de vitória antecipada de um dos candidatos, tendem a pender para o perdedor. E o estilo "isto são favas contadas" de Costa não me agrada. Mas isso não chega para querer ver Seguro como primeiro-ministro de Portugal. Por isso esta disputa despertou-me um interesse relativo. Nem vi os debates anteriores. Mas, esta noite, lá me predispus a ouvi-los. Já me tinham falado da estranheza que é ouvir adversários tratarem-se por tu. Mas isso ainda foi o menos. O que se viu e ouviu não esclareceu absolutamente nada mesmo quem, ao contrário de mim, apresenta um grau de simpatizante suficiente para votar no domingo. As disputas de estilo e as acusações trocadas sobrepuseram-se a qualquer assunto ligado a propostas concretas que, no futuro, possam vir a ser apresentadas. Fiquei com a sensação de que, depois do debate de hoje, será muito difícil aos dois candidatos e respectivos apoiantes entenderem-se num futuro próximo. E isto tudo dentro de um mesmo partido... 
Ora, numa altura em que se questiona se estes não serão os últimos dias de Passos Coelho no Governo, mercê de uma situação que tem a ver, não com alguma medida concreta do executivo, mas com um crime que, mesmo que o seja, já não o é, e que envolve dificuldades de memória do primeiro-ministro; nesta altura, dizia, poderia ser mais fácil simpatizar com o Partido Socialista. O facto é que, com uma situação interna destas, nem com estes bombons oferecidos pela Comunicação Social, os simpatizantes serão capazes de simpatizar mais que um tanto...

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A t-shirt

Era ainda cedo mas, pelo passo apertado, já deveria estar atrasada. A inclinação da rua, acentuada, não ajudava e as crianças, agarradas a ela em fila indiana, meio arrastadas, trotavam no passeio estreito até ao cimo, onde ficava a escola. A sua expressão fechada e de preocupação acentuava-se quando se virava para trás e dizia: - Vá lá! Despachem-se, que eu ainda tenho que ir trabalhar! Deixá-las-ia junto ao portão e desceria, novamente apressada, para ir em direcção à estação dos comboios, provavelmente, rezando para que o patrão não lhe descontasse a primeira hora que já não faria por completo. Na t-shirt que vestia estava escrito" La vie est Belle".

O lado bom

ou a ingenuidade numa canção:

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Enganos

Ontem entrei num café e li em rodapé na televisão "Quaresma no banco". Pensei cá para mim: - Olha, queres ver que o Banco de Portugal resolveu colocar de quarentena o Novo Banco?
Quando chegou a vez de falarem sobre o assunto percebi que, afinal, a notícia era sobre o facto de Lopetegui ter decidido deixar Ricardo Quaresma no banco de suplentes, num jogo do F. C. Porto.
Sendo assim, parece que os coleccionadores de lepidópteros não precisam de cumprir um período de meditação preenchido por jejuns e orações. Para alguns dos que se têm pronunciado sobre este assunto a ressurreição terá que ser precedida de uma reflexão. Para outros, mais vale agir já, convencidos que estão de que o arrependimento dos pecados não leva a lado nenhum. Entre uns e outros os fiéis estão confusos e por enquanto sentem-se em plena época carnavalesca.
Seja como for, o treinador é que decide quem põe a jogar e todos (accionistas e depositantes, perdão, sócios e simpatizantes) esperam que o resultado do jogo seja favorável. Aliás, os portugueses em geral, salvo alguns mais empedernidos, torcem por esses bons resultados. É que, mais uma vez, mesmo quem não comprou bilhete, pode ser chamado a contribuir, em caso de derrota.

Lá estão eles outra vez...

Ainda o calor aperta e já os estudantes mais velhos correm para as universidades vestidos de preto e branco envergando as pesadas capas ou levando-as apenas no braço. O traje académico, um nicho de mercado aproveitado pelas empresas que os produzem, é usado com desenvoltura por uns, com alguma falta de jeito por outros. É a integração dos caloiros que os move, dizem. Estes, ao fazerem a matrícula, cumprindo uma obrigação que fariam de qualquer maneira, vêem-se "ajudados", por estes colegas mais velhos, quer queiram quer não. Talvez por serem tão visíveis ficamos com a ideia que, por cada caloiro, há dois ou três alunos mais velhos que zelam pela sua "feliz integração". Penso não existir nenhum estudo sobre a postura dos novos alunos perante as praxes. No entanto, certamente, serão muito variadas, incluindo os que as praticam por prazer até aos que se recusam a participar. Muitos, sem qualquer convicção, limitar-se-ão, de forma passiva, a tolerar a situação pensando que os anos que passarão na universidade serão mais difíceis se não o fizerem. Para esses, a campanha lançada pela Secretaria de Estado do Ensino Superior que tem como um dos slogans “Não és obrigado a ser praxado!" poderá servir como um alerta que eventualmente os fará, pelo menos, pensar.
Em todo este panorama, há algumas coisas que me intrigam (obviamente, sem generalização possível): o afinco com que estudam regulamentos de uma maneira que nunca repetirão com as sebentas; o aprumo dos trajes que vestem que dificilmente repetiriam se fossem incorporados na vida militar; a observância de hierarquias rígidas; a agressividade, mesmo que apenas linguística e aparente, de "praxantes" para com "praxados"; o cumprimento de regras que, em quantidade e qualidade, rivalizam com as de uma verdadeira sociedade secreta. Isto quando, com frequência, esquecem e passam por cima das simples regras da boa educação e da convivência com os seus pares e pessoas com quem se cruzam.
Mas o que mais me chama a atenção e que muitas vezes apercebo em conversas ouvidas na rua, é a ânsia dos novéis universitários em serem praxados como se disso dependesse o sucesso da vida académica ou, pelo menos, daquela parte da vida académica que mais suscita entusiasmo: a que acontece fora das aulas. Não sei se as preocupações com os conteúdos das cadeiras que têm que fazer alguma vez rivalizará com as preocupações em cumprir as normas apertadas impostas pelos códigos das praxes. Fico com a sensação de que o objectivo da frequência universitária não é, para muitos, a formação e a preparação para a vida profissional mas sim este percurso de alguns anos em que o que conta é brincar a ser estudante em vez de verdadeiramente o ser.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

The big puffs are watching you

Pois eu nem dados queria esta espécie de budas sentados em versão filme de terror...


Maniche em dose dupla ou as personalidades que ficaram em casa

Mais um momento divertido nos telejornais das nossas televisões, neste caso, da RTP 1. José Rodrigues dos Santos falava da rescisão de contrato de Paulo Bento com a Federação Portuguesa de Futebol. Depois de Gilberto Madaíl apresentar a sua surpresa via telefone passa uma entrevista a Maniche que dá a sua opinião sobre o assunto. De seguida o apresentador anuncia que "muitas figuras do futebol concentraram-se no lançamento de um livro sobre José Mourinho" onde se encontra, em directo, um repórter do canal. Este dá imediatamente conta aos telespectadores que "houve algumas personalidades que acabaram por não comparecer de alguma forma também para fugirem às reacções" à notícia desportiva do dia. Mas uma estava no local. E quem era? Nada mais nada menos que Maniche que teve direito a dar a sua opinião pela segunda vez, agora em directo. 
Quanto ao livro apresentado, de um autor que já escreveu a biografia de Paulo Futre, é descrito como "uma análise de Mourinho numa analogia entre futebol e música", sendo o treinador comparado a Jim Morrison ou Mick Jagger. Tenho impressão que as figuras do futebol português gostam mais dos Beatles.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Go ask Alice

Esta é uma música muito adequada aos dias de loucura que o mundo tem vivido e que as televisões nos têm devolvido. E tem a minha idade... Não podia ser mais actual. Talvez a Alice saiba mesmo. Nós definitivamente não. E juro que não comi nenhum bollycao crack...

domingo, 31 de agosto de 2014

Crack!?

Considerando que o crack é uma das formas mais perigosas de consumir cocaína o que é que teria passado pela cabeça dos responsáveis da Panrico quando resolveram dar o nome de bollycao crack a um dos seus produtos? E o spot publicitário é, no mínimo, de mau gosto. Numa suposta "Vila Crack" os seus habitantes apresentam um comportamento... agitado e eufórico porque comem o tal bollycao crack. O protagonista ainda pergunta, incrédulo: - crack!? Pois...

Na feira

À sua volta as luzes fortes e a música estridente das diversões enchem os olhos e os ouvidos de todos os que passam e que parecem não se incomodar. Também ele parece indiferente à algazarra. Olha as filas que se formam junto aos carrocéis que são novidade este ano. Ali, à frente da sua barraquinha, não está ninguém. Os cromados brilhantes, os nomes em inglês e os apelos gritados pelos altifalantes atraem o público, mesmo que aquilo que se paga por uma "viagem" que dura poucos minutos afaste algumas pessoas com bolsos menos recheados. A sua atitude contrasta com a dos outros feirantes. Vestido com fato e gravata, calado, limita-se a estar perto da espécie de teatro de fantoches onde três bonecos nos olham. Numa mesa, três bolas de pano esperam que alguém pague para as atirar contra os bonecos. Apenas isso. São quase iguais aos bonecos e bolas que se encontravam nas feiras na sua infância. De repente, o homem anima-se. Um pai aproxima-se com uma criança. No entanto o objectivo não é atirar as bolas mas utilizar a mesa para a criança se sentar enquanto o pai lhe ata os atacadores dos ténis. A criança nem olha para os bonecos. O homem olha para a criança. Está triste. Penso se para o ano ainda cá virá...

terça-feira, 12 de agosto de 2014

O Captain! my Captain! our fearful trip is done...

Dizem que era um dos melhores actores de comédia de sempre. Dizem que nos papéis dramáticos nunca deixou de nos impressionar. Dizem que o álcool esteve sempre presente na sua vida. Dizem que a cocaína também. Dizem que tinha uma depressão grave. Dizem que se suicidou. 
Há umas semanas atrás, vi com as minhas filhas "O Clube dos Poetas Mortos". Achei que já era tempo de verem o filme que ficará sempre associado à passagem à idade adulta e à ajuda da figura livre que era o professor Keating, Robin Williams. Elas gostaram do filme. Saber isso é a minha homenagem.

“Fui para os bosques para viver livremente,
para sugar o tutano da vida,
para aniquilar tudo o que não era vida,
e para, quando morrer, não descobrir que não vivi.”

Thoreau

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

"Canto porque és real"

Porque sou fã de Fausto e de Noiserv gostei desta versão ainda antes de a ouvir.



E depois também.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Escorregando...

As imagens deste vídeo fazem disparar a imaginação. Mal o vi pensei em alguns assuntos que poderiam ser comentados, num tom humorístico, à luz deste mega escorrega.
A primeira coisa de que me lembrei é que, comparada a isto, a iniciativa de um presidente de uma Junta de freguesia da Capital ao reutilizar, como piscina, um lago num jardim, não é nada!
Já António Costa, continuando no tema autarquias, se visse isto teria certamente vontade de aproveitar a ideia para instalar “uma destas coisas” desde o Largo do Rato, via Marquês de Pombal e Av. da Liberdade, atravessando a Baixa para finalmente desaguar no Tejo (com direito a duas voltas completas na rotunda). Para a sessão experimental seriam convidados Seguro e os seus apoiantes, de preferência sem bóia ou colchão…. Ou então, dada a circunstância de ser Seguro o actual inquilino do edifício que já se designou Palácio Marquês da Praia e Monforte (isto anda tudo ligado), poderia ser ele a querer levar a ideia para a frente (mas talvez, neste caso, a obtenção da licença fosse mais complicada). O mais certo seria os dois digladiarem-se para ver quais dos dois seria o autor da iniciativa…
A verdade é que o caso GES/BES veio fazer com que outras imagens se sobreponham. As escorregadelas, trambolhões e reviravoltas dadas pelos utilizadores deste escorrega associam-se quase involuntariamente na nossa mente à situação actual de muitos portugueses, das nossas empresas, da nossa economia, no fundo de todos nós. Isto tudo, obviamente, sem a sensação de alegria que parece estar presente no caso dos moradores de Salt Lake City.
Este ano, se pensarmos nas notícias, quer nacionais, quer internacionais, parece que a silly season definitivamente não nos visitou.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

No jardim do Campo Grande

Calças demasiado curtas para as pernas. Fato demasiado quente para um dia de Verão. Mãos que junta atrás das costas, demasiado vazias para trazer alguma coisa consigo. Passos demasiado lentos para ir ao encontro de alguém.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Diálogo entre irmãs

- Ó mana tens pó no cabelo!
- O que é que queres? O cabelo já tem 14 anos, já é velho...

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Uma das razões/poemas por que gosto de Angélica Freitas

"eu durmo comigo/ deitada de bruços eu durmo
comigo/ virada pra direita eu durmo comigo/ eu
durmo comigo abraçada comigo/ não há noite tão
longa em que não durma comigo/ como um trovador
agarrado ao alaúde eu durmo comigo/ eu durmo
comigo debaixo da noite estrelada/ eu durmo comigo
enquanto os outros fazem aniversário/ eu durmo
comigo às vezes de óculos/ e mesmo no escuro sei que
estou dormindo comigo/ e quem quiser dormir comigo
vai ter que dormir do lado."

in, Angélica Freitas, Um útero é do tamanho de um punho 

Este e outros poemas da autora foram descobertos por aí na net.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Os tolos e os espertos

"Será necessário, apenas, levá-lo a concluir que o dinheiro dos tolos é, por direito divino, o património dos espertos! – exclamou Blondet."

Honoré de Balzac, “A Casa Nucingen” in
A Comédia Humana, VII Volume (Cenas da Vida
da Província), Livraria Civilização, Lisboa, 1980


Citação copiada do blog experimental e que vem a propósito da situação do GES/BES, mesmo que o argumento do direito divino não tenha sido apresentado.

"how strange the change from major to minor..."

Também Charlie Haden nos deixou.



terça-feira, 15 de julho de 2014

P. O. Box 269, Old Chelsea Station

A notícia já tem uns dias mas foi hoje, através desta crónica de Miguel Esteves Cardoso, que soube. É verdade que, mesmo antes da morte de Tommy Ramone, os Ramones já não existiam como banda. O tempo, o desaparecimento dos outros elementos bem como algumas vicissitudes ligadas à própria evolução de qualquer grupo de músicos tinham-nos colocado numa área já não actualizável da história do rock. Mas os Ramones, segundo Tommy, eram também "uma ideia". E essa ideia está ainda presente não só na cabeça dos que gostavam de os ouvir mas até dos que não conhecem a sua história. O logo estampado em t-shirts de muitos miúdos adolescentes (que várias marcas continuam a produzir) não corresponde muitas vezes a um interesse genuíno sobre o grupo mas a uma imagem que associam a uma rebeldia que sentem que lhes assenta bem.
A mim, os Ramones marcaram-me mesmo que as suas canções dissessem respeito a uma realidade muito longe da minha: uma miúda de uma escola secundária da periferia de Lisboa, um pouco ingénua e "bem-comportada". Eu era assim quando comprei o álbum "Rocket to Russia", lançado em 1977. A fotografia da capa que todos reconhecem, os desenhos de John Holmstrom, as letras decoradas e na ponta da língua até hoje, fazem parte dos discos que ainda estão ali na estante. As músicas eram curtas e repetitivas na sua fórmula mas eu não me cansava de as ouvir. Na verdade nunca estive perto da realidade de que falavam Johnny, Joey, Dee Dee e Tommy. Mas isso não me impede de partilhar o sentimento de M.E.C.



O título do post corresponde à morada do clube de fãs dos Ramones, na altura.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Há três mas são verdes...

- São tugas, são tugas!... disse a mulher para o homem. E, sendo assim,  lá ficaram sentados no banco da paragem (no caso, do eléctrico 15). Decidiram esperar por algum grupo maior a caminho da zona de Belém. As suas tácticas aplicam-se melhor a turistas incautos, mais atentos à paisagem que vêem da janela do que aos movimentos destes mestres na arte do "carteirismo". Os motoristas, polícias e passageiros habituais, que os conhecem certamente, sabem que a forma como "trabalham" dificulta muito o flagrante delito, única forma de agir. Agora a Carris decidiu que, já que não pode vencê-los nem juntar-se a eles, vai criar carreiras especiais para turistas, contando que estejam livres destas já "figuras típicas de Lisboa". Não se sabe como vai resultar esta iniciativa. Pelo preço avançado, serão os turistas mais endinheirados a escolher este novo serviço pelo que aos carteiristas restarão as carteiras menos abonadas... Mas uma coisa é certa: entre outras coisas, e para lá do lado mais genuíno (referido em guias), que incluía conversas interessantes entre quem vem de fora e sobretudo idosos que utilizam este meio de transporte nas suas deslocações diárias;  lá se vai, para alguns, a emoção toda de viajar no 28...  

quinta-feira, 3 de julho de 2014

"Mare nostrum"*

Foto via Facebook


A imagem, tirada de um helicóptero da Marinha italiana, suscita-nos emoções contraditórias. Este barco, cheio de pessoas que deixaram o seu país numa tentativa de poderem viver melhor ou, em muitos casos, só sobreviver; lembra-nos imediatamente as dramáticas notícias de naufrágios que têm provocado inúmeras mortes de homens, mulheres e crianças. Muitos nunca tinham visto o mar antes de se fazerem a ele desta maneira que, para nós, habituados à ideia de segurança em qualquer situação, nos parece absurdamente suicida. Mas a verdade é que este barco, para além do medo, está a abarrotar de esperança, de vontade de recomeçar, de vontade de começar. A Europa pode ser só um continente, aquele que a maior parte dos que cá estão assumem como o seu lugar, aquele onde, ainda hoje, se luta por territórios finitos que as fronteiras teimam em partir e repartir. Visto deste barco, pelo contrário, a Europa é um lugar infinito. E o que é a travessia de um mar para quem quer chegar ao infinito? 

* O título deste post, como é óbvio, nada tem a ver com as acepções atribuídas à expressão pelos antigos romanos (que a criaram), pelos nacionalistas italianos, ou pelos fascistas na época de Mussolini.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

A rapariga ao fundo do café

A luz do dia não chega ao fundo do café que está na obscuridade. As paredes pintadas num tom escuro acentuam ainda mais essa ideia. Sentada a uma mesa, sozinha, a rapariga, com um computador portátil à frente, parece estar concentrada a olhar para o ecrã. Veste roupa escura e discreta. Escolheu a mesa mais afastada da porta e por isso quase se confunde com o ambiente. Mas, mesmo assim, é para ela que confluem os olhares de todos os que entram. Nos seus pés, desafiando todo aquele cenário, uns sapatos amarelos.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

São cordas, senhor, são cordas...

Em "modo socialmente responsável"

As televisões preparavam os seus directos, frente à casa de Isaltino Morais. Ele, por essa hora, saía da prisão onde esteve um ano e uns meses. Mais magro e com o cabelo e a barba já completamente brancos. A defesa conseguiu, junto do Tribunal da Relação de Lisboa, a sua liberdade condicional. Para nosso bem esperemos que não seja o Ministério Público a ter razão... 

quinta-feira, 19 de junho de 2014

A medição do tempo

As imagens nocturnas na aldeia de Monsanto constituem um fundo para a voz de Luísa Cruz que diz este poema de Camilo Pessanha (1895). Cine Povero, responsável pelo vídeo, interpreta-o como sendo "representativo da fase da depressão, quando o indivíduo toma consciência de que a perda é inevitável e incontornável, e com ela se esfumam todos os sonhos e projectos, ao mesmo tempo que todas as lembranças associadas ao/à falecido/da se tornam particularmente pungentes".


quarta-feira, 18 de junho de 2014

Das interrupções...

Passaram 5 anos e nem dei por isso... Da constância inicial já pouco resta. Mas o fim ainda não está à vista. Mesmo se, devido a outras concorrências e à falta de tempo da autora para estas interrupções, bem como para manter viva a troca de visitas que alimenta a vida dos blogues; este exercício seja, cada vez mais, um caderno fechado numa gaveta. 

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Ainda a propósito da nos, ou da nós...

Depois de tanto tempo de suspense sobre o nascimento de uma nova marca o resultado apresentado para a designação e logótipo da fusão da Zon com a Optimus é propício a brincadeiras. Na altura lembrei-me que era caso para dizer: "A montanha pariu um... prato".
E agora nem na sede aquele logótipo se aguenta. Ele próprio insiste em dizer: no, no, no! Ou então, lido na perspectiva da empresa, como se tivesse acento - um grande nó!



O distrito de Sines

Depois de, na semana passada, ter assistido à apresentação, por parte de José Alberto Carvalho, de uma cena de gatinhos em pleno horário nobre, no jornal da noite da TVI; na noite que passou lá dei conta de mais uns disparates, no mesmo Jornal das 20 (a partir do min.08.40). A propósito do calor e das praias é entrevistado um  nadador salvador que diz, com alguma esperança na voz, reveladora da sua vontade de acção: "esperemos que haja então o boom das pessoas e muitas ocorrências, em princípio". Logo de seguida a jornalista faz uma ligação a outro assunto com a expressão "boas notícias"... E quando eu pensava que tinha sido um engano na inserção das palavras que diziam respeito à notícia eis que a própria jornalista também diz que "os distritos de Leiria, Lisboa, Sines, Évora e Beja estão sob aviso amarelo". Devem ser mesmo efeitos do calor... 

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Pensamento do dia...

Percebemos o quão por baixo está a nossa vida social quando escrevemos na nossa agenda: "fazer sopa"...

Uma música improvável por aqui...

... mas que gosto de ouvir. E o vídeo está simples e muito bom.

O disparate deste dia da libertação

Mesmo com uma ressalva para o facto de não perceber bem o papel da tal "New Direction-The Foundation for European Reform", este artigo refere (muito bem) o que pensei ao ouvir aquela história de estarmos uma boa parte do ano a trabalhar para pagar impostos. Este fait-divers, poderia ser referido mas, desta forma, repetindo-o sem que se perceba as suas implicações, não é nada mais que um grande disparate.

terça-feira, 10 de junho de 2014

A conferir a 10 de Junho

"E tu, como chama?..." "E tu, como chama?..." "E tu, como chama?..."
"Vocês viram eles partirem para a corrida, viram?"

Estas frases pertencem a: 
1. um treinador de um clube de futebol das distritais 
2. uma criança de 3 anos 
3. um concorrente de um reality show em voga
4. um presidente de um país

É favor conferir aqui.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Com S. Jorge à frente?

Então em Portugal, um país com tantos santos de nomeada, não se arranja uma selecção deles para derrotar este "Kahwiri Kapam"

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Post ao gosto do PS na noite de 25 de Maio

(Imagem na net)

Ena!!!!!!!!!! Viva!!!! Viva!!!!!
Recebi uma mensagem a dizer que o "Dias Imperfeitos" está em 2.571.306º no ranking do Brasil!!!!

quinta-feira, 29 de maio de 2014

As espigas não são todas iguais

Naquela altura nem percebia bem o significado da "espiga". Tal como nas suas terras de origem, muitos dos habitantes do subúrbio de Lisboa onde eu vivia iam, nesse dia, "ao monte" apanhar as espigas e as flores que por ali cresciam para fazer os seus ramos. Lembro-me sobretudo da quantidade de crianças e avós que por ali andavam logo de manhã. Hoje, nesse espaço, uma paisagem familiar para quem tinha vindo do Alentejo (e eram bastantes, naquela zona), existe uma escola e um hotel e as respectivas estradas de acesso. As crianças e os rapazes e raparigas que por ali passam provavelmente não saberão que a espiga simbolizava o pão; as flores, os metais mais ricos; as outras ervas, saúde, força e outros aspectos positivos. O ramo deixou de estar pendurado todo o ano atrás da porta. Muitos avós até já esqueceram o antigo costume.
Algumas mulheres, contudo, continuam a comprá-lo à entrada da estação, onde os vendedores ambulantes aproveitam todas as datas para fazerem negócio. Mas a verdade é que não é a mesma coisa. Os "montes" fazem falta nos subúrbios.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

A propósito de um livro

É quase irresistível, o apelo de uma montra cheia de livros. Invariavelmente entro na livraria e frequentemente me perco nas estantes. Gosto de folhear os livros e, quando alguma página me prende a atenção, acontece muitas vezes que o impulso de o comprar se sobrepõe à contenção que a condição financeira me obriga. Mas quase sempre penso: para quê estar a comprar livros com tantos ainda por ler nas estantes de casa. 
A realidade é que depois, em certas alturas, sabe tão bem a surpresa de olhar para essas estantes, ver um livro que comprámos e arrumámos sem ler, pegar nele e descobrir que é um livro de que passamos a gostar incondicionalmente. Nessas alturas percebemos que afinal o nosso impulso estava certo.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Votar / Não votar

Por razões de saúde o meu pai não pôde votar ontem. 
Para que não fosse confundida com quem está acamado; com quem, por razões de trabalho, não consegue deslocar-se; com quem prefere ir dar um passeio fora da área de residência; com quem simplesmente tem mais que fazer; ou mesmo, com quem acha que isto das eleições não lhe diz respeito; eu fui votar. Desta vez não tive grandes hesitações. Depois de alguns dias a ouvir os tempos de antena na rádio, decidi-me por um partido que esclareceu apenas questões relativas ao trabalho do Parlamento Europeu e apresentou apenas ideias para serem discutidas naquela assembleia. Não elegeu nenhum deputado mas eu procurei saber, previamente, alguma coisa sobre as propostas em cima da mesa e escolhi a que mais me agradou. Sei que cumpri a minha parte e por isso as eleições para mim correram bem. 
Uma grande percentagem dos eleitores não poderão dizer o mesmo. Se é certo que não poderemos saber correctamente qual a percentagem, de entre os cerca de 66 %, dos que o fizeram deliberadamente, tudo nos diz que ela é elevada. Até por isso não compreendo quem considera que a abstenção é a melhor forma de mostrar a falta de confiança nos partidos políticos ou nos políticos. A desactualização dos cadernos eleitorais, a existência de cada vez mais idosos para quem a deslocação a uma assembleia de voto é quase impossível e outras razões imperiosas não deviam poder ser confundidas com quem quer fazer da sua abstenção um voto de protesto. Para tal, o voto branco e o voto nulo deveriam servir na perfeição.
Sei que a abstenção é um fenómeno complexo, com inúmeras variáveis a serem analisadas. Mas, para quem gosta de democracia, mesmo com os seus defeitos, o acto de ir votar não deveria, nunca, ser posto em causa. Quando isto acontece é porque afinal é o próprio regime democrático que está a ser questionado. Sendo estas, eleições a nível europeu, significará que a atitude dos portugueses deve ter uma leitura mais alargada? Claro que sim. E os resultados europeus mostram-nos que questionar desta maneira não traz bons resultados.
Por razões de saúde o meu pai não pôde votar ontem. Mas não deixou de me chamar a atenção para a necessidade de eu ir votar. Ele sabe que poder votar é um privilégio.                                                                                                                     

terça-feira, 20 de maio de 2014

Isto é um anúncio de rádio?

A abstenção continua a figurar como uma das maiores preocupações para as eleições do próximo domingo.
Pelos dados disponíveis de eleições anteriores para o Parlamento Europeu e atendendo ao facto de muitos não compreenderem o papel deste parlamento e a sua importância nas nossas vidas (que se revelou sem qualquer peso na situação actual de tantos europeus do sul) percebe-se esse receio.
Daí se compreender a realização de campanhas como esta:



Mas se, visto o vídeo, este nos parece interessante, é completamente incompreensível a versão para a rádio (que não consegui reproduzir aqui). Nela, umas vozes de "meninas da rádio", de que até gosto, repetem algumas expressões, tornando ridículo o anúncio e, aposto que de forma involuntária, o próprio acto de votar. Não sei se só eu me sinto assim. Mas se o objectivo era o apelo ao voto este anúncio é mesmo um tiro ao lado.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Terá sido comprada a um adepto do Arouca?

A vitória de ontem, a taça conquistada, enchem-no de um poder e de um orgulho incompatível com qualquer tipo de pudor. Por isso exibe o seu equipamento completo do Benfica, com ténis a condizer. Na cabeça um boné do Benfica. Às costas uma mochila encarnada com o emblema do clube. Agarrado a ela um cachecol do Benfica. E, ao vento, a bandeira culmina todo o conjunto. É uma mancha encarnada que faz sorrir todos os que com ele se cruzam. 
Só a bicicleta, com que serpenteia por entre os carros, pintada de azul e amarelo, destoa.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

No domingo há mais

Esperemos que um pouco menos enferrujado... (E nada de fazer piadas com as palavras "portuguesas" e "tomate" já para não falar no clássico: "até os comemos").


terça-feira, 13 de maio de 2014

Corda da roupa (2)

Uma rua que já teve dias de bulício quando era por ali que se ia para o estaleiro de construção e reparação de barcos que cruzavam o Tejo. Agora não se vê qualquer movimento e os únicos sons que ouvimos, nesta tarde de primavera, são os das cigarras. Algumas casas modestas, de um piso só e muros brancos que dão para terrenos que já foram hortas e que agora poucos cultivam.
Num desses muros, presa por dois pregos, uma corda. As molas, que parecem fortes, seguram uma dúzia de peças de roupa. Vista de longe é apenas roupa que alguém deixou a secar e que apanhará logo que esteja enxuta. Quando nos aproximamos vemos que, na realidade, se trata de roupa que foi estendida há muito tempo. Está seca, suja de pó, sem cor. Parece que alguém se esqueceu dela ali ou então, sem atender a afazeres domésticos, a morte chegou sem avisar, levando a única pessoa que a poderia apanhar. 

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Corda da roupa (1)

Já foi um armazém organizado. Agora aquele conjunto de paredes, que já foram brancas e que estão cheias de inscrições, não passa de um testemunho de um passado em que algumas fábricas ocupavam aquela zona da cidade mas que, fruto de requalificações do território e da crise que as foi atingindo, foram encerrando.
Sem portas nem janelas, adivinham-se correntes de ar, chuva que não encontra resistência sempre que quer entrar, o frio que se instala à vontade.
Contra todas as probabilidades, quem passa na estrada vê, num dos compartimentos esventrados, uma corda que vai de um lado ao outro das paredes ainda de pé. Nela, a roupa a secar balança ao ritmo do vento.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Três cidades na cidade

                                Imagem retirada daqui

Ainda continuo a pensar como aqui escrevi. Também sei que, em termos económicos, esta faceta de Lisboa como porto de passagem dos navios de cruzeiro é de grande importância para a APL, para muitos comerciantes, etc. A presença constante de um grande número de turistas em Lisboa, vindos em cruzeiros ou não, tem sido uma realidade que, em certos locais, altera até a forma como olhamos para a cidade. Lisboa é uma cidade cosmopolita e por isso haverá sempre lugar para os que, sendo de fora, a querem visitar. 
O grande perigo de tudo isto é começar-se a olhar para Lisboa como sendo uma cidade dirigida para os visitantes e não para os seus residentes e para os que nela têm o seu trabalho. E, de há uns tempos para cá, há algumas questões que me parece que deveriam ser melhor equacionadas. A proliferação de hotéis, hostels e outros é uma delas. A multiplicação dos veículos poluidores de duas, três ou quatro rodas que fazem visitas guiadas e que deixam pelas ruas gases e sons estridentes, é outra. Mas há mais. Os preços praticados em certos estabelecimentos, por exemplo.
Não queria que se esquecesse que Lisboa não é só nossa. Mas também é nossa.

sábado, 3 de maio de 2014

Ayrton

Dia 1 foi um dia cheio de reportagens e homenagens feitas a Ayrton Senna. Desde as mais sentidas às mais ridículas (no Algarve, um responsável por um resort de luxo onde o piloto tinha uma casa fez, quando entrevistado, publicidade descarada ao local) muitos relembraram a terrível data. Mas foi uma imagem no facebook que me fez escrever alguma coisa sobre o assunto. Nela se lia: "hoje faz 20 anos que a Fórmula 1 morreu". Claro que isso é um exagero de linguagem. 
No entanto dei por mim a pensar que, de facto, para mim, a morte de Ayrton marcou o fim do encantamento com a Fórmula 1. Durante anos, na época dos grandes prémios, aos domingos, durante ou a seguir ao almoço, era um programa que não perdia. Eu e o meu pai víamos as transmissões em directo, ouvíamos os comentários de Adriano Cerqueira ou de Domingos Piedade, comentávamos as estratégias de cada piloto. O duelo entre Senna e Prost alimentava muitas corridas e a preferência que tínhamos pelo primeiro levava-nos a vibrar intensamente.
Depois da sua morte nada voltou a ser igual. É verdade que a minha vida pessoal sofreu mudanças por volta dessa altura. Mas tenho a certeza que não foi só por isso. Muitas pessoas que conheço têm também a mesma sensação. A Fórmula 1 continua a ser um desporto que desperta muitas paixões. Mas não há dúvida nenhuma que com ele era diferente.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Comemorar é o verbo de hoje

A especial importância atribuída aos números redondos, normalmente terminados em zero, tem destas coisas.
1974 foi há 40 anos. E também por isso as comemorações deste 25 de Abril se multiplicam de uma forma impressionante. As iniciativas dos partidos e sindicatos e as mais institucionais são reforçadas. Os meios de comunicação social inventam novas formas de lembrar a data. Não há entidade pública, câmara municipal, junta de freguesia, museu, etc, que não tenha a sua programação. As Associações culturais e cívicas, mesmo com localizações muito próximas, rivalizam entre si nestes últimos dias pela divulgação dos seus programas. E, se não tinha nada preparado especificamente para a data, nada como adaptar as actividades normais e transformá-las em comemorações. Encontramos, assim, a par das tradicionais exposições, concertos, pinturas murais, lançamentos de livros, conferências, inaugurações, espectáculos de teatro, ou ciclos de cinema, etc.; as tais aulas de Yoga e até de Zumba...
Não me recordo de nos 20 ou nos 30 anos da Revolução, ter havido este afã de querer recordar aquele dia.
E dei por mim a pensar que alguma desta ânsia de comemoração terá a ver com o facto de sentirmos que na próxima data redonda (os 50 anos) muitos dos protagonistas já cá não estarão e mesmo os que têm recordações nítidas desse dia estarão mais velhos, com dificuldades em reconstituírem, como hoje ainda conseguem fazer, os acontecimentos.
É para que a memória continue bem viva que se multiplicam os documentários, a gravação de testemunhos, a recolha de opiniões. O esforço para deixar os melhores registos ajudará a fazer a história daquela época quando, já hoje, para muitos dos mais novos, que não viveram esse Abril, esta é uma data tão significativa quanto qualquer uma das outras que aprendem na disciplina de História. Sabem que o que aconteceu nesse dia  teve uma influência importante no país e no quotidiano mas muitos deles confundem até datas e acontecimentos diferentes.
E nós, enquanto responsáveis pela sua socialização, sentimos alguma angústia perante a possibilidade de ela não ter sido suficientemente eficaz para que daqui a algumas décadas o dia 25 de Abril não seja comemorado como apenas mais um dia feriado, sem qualquer sentido, mas tenha o sabor que tem ainda hoje.
Por isso estes dois sentimentos em simultâneo. O que me faz pensar que todo este ambiente de comemoração é exagerado e até forçado e aquele que me diz ser importante a avalanche de iniciativas que nos lembram que Abril, mesmo que de forma apenas sonhada, é para todos. 
E depois, a partir de amanhã, regressamos ao pós 25 de Abril, à nossa realidade, à que não nos dá muitos motivos para comemorar.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Um olhar




A foto foi tirada há cerca de um mês sob o Arco da Rua Augusta. Aí, a Câmara Municipal de Lisboa, a propósito do lançamento deste livro colocou uma tela com uma das mais famosas fotografias tiradas por Alfredo Cunha naquele dia de Abril, que mais uma vez comemoramos. Tirei duas fotografias. Esta, a que me parece melhor, está invertida (foi tirada da rua e não do Terreiro do Paço). Salgueiro Maia está, portanto, a olhar-nos numa outra direcção, que não a mesma da fotografia original.
Sabemos, pelo próprio fotógrafo, que foi interrompendo a revolução e numa atitude de pose, que o capitão decidiu ser fotografado. Não sei se em alguma situação ele chegou a dizer o que estava a pensar naquela altura.
As consequências de certos actos só muito mais tarde são conhecidas. Mas a verdade é que, numa pose estudada ou por verdadeira convicção, Salgueiro Maia sempre nos pareceu, nesta imagem, transmitir uma ideia de segurança, de quem está a fazer o que tem que ser feito.
A mim, impressionam-me os olhos cansados que podem indicar apenas a noite mal dormida ou revelar mais do que isso, um cansaço partilhado por muitos mais que ele. Impressiona-me a calma do seu rosto, uma boca fechada, mas sem rasgo de ira  ou de entusiasmo, quando tudo à volta se desfazia e fazia de novo. 
Mas impressiona-me, sobretudo, o seu olhar onde vejo alguma tristeza interrogativa, longe de adivinhar o rumo que outros dariam a uma revolução que estava a acontecer ali, naquele momento e que poderia ter acontecido de outra forma se não fosse ele naquela fotografia. 

segunda-feira, 21 de abril de 2014

A ressaca do dia seguinte

O encarnado a sobressair nas capas dos jornais.
O café onde costumo ir de manhã, deserto.
A autoestrada, normalmente com um trânsito enorme, sem filas.
A Praça Marquês de Pombal cheia de lixo.
O homem a pedir na mesma esquina de todos os dias.
Factos que podem não ter directamente a ver com a vitória do Benfica na Primeira Liga de Futebol. Há, no entanto, nuns mais que noutros, alguma probabilidade de ligação. O.K. Talvez mais fraca no caso do último.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

"Yo... lo que quiero es contar"

"...Yo lo único que he querido hacer en mi vida - y lo único que he hecho más o menos bien - es contar historias... El día que descobrí que lo único que realmente me gustaba era contar historias, me propuse hacer todo lo necesario para satisfacer ese deseo. Me dije: esto es lo mío, nada ni nadie me obligará a dedicarme a otra cosa...
...Modestamente, me considero el hombre más libre del mundo - en la medida en que no estoy atado a nada ni tengo compromisos con nadie - y eso se lo debo a haber hecho durante toda la vida única e exclusivamente lo que he querido, que es contar historias..."
"...Yo nunca me despido, porque el que se despide no vuelve..."

in , Taller de Guión de Gabriel García Márquez, La Bendita Manía de Contar , Ollero & Ramos, 2003, págs.  177, 11, 15 e 196

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Aqui o 84 já não é Chop Suey de Lulas

De há alguns anos para cá tem-se assistido ao movimento de transformação dos restaurantes de comida chinesa em restaurantes de comida japonesa.
Hoje deparei-me com outra realidade: o restaurante chinês por onde passo todos os dias é agora uma agência imobiliária muito especializada.




terça-feira, 15 de abril de 2014

O Terreiro do Paço é que é lindo.

Primeiro foi o Arco de Luz para comemorar a conclusão da reabilitação do Arco da Rua Augusta. Depois foi o Circo de Luz, que animou as fachadas no Natal passado.
Agora o motivo é a Primavera e, no dia 24, a Revolução dos Cravos. Os autores são os mesmos em todos os espectáculos.
Não é que não ache interessante este tipo de trabalhos. É certo que gostei do primeiro espectáculo, gostei menos do segundo e este não faço questão de ver. Na verdade penso que não é bom repetir uma ideia até ela se esgotar, como parece que pode ser o resultado deste afã em criar espectáculos multimédia para projectar nos edifícios do Terreiro do Paço. Ele vive bem sem eles. 

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Toma lá, para não te armares em snob...

O que fazer quando uma filha nossa nos diz que quer ir ver o filme "Sei lá!"? Talvez não sermos tão duros connosco próprios e pensarmos que a educação que lhes demos não foi assim tão má como este episódio parece fazer crer.

Pela manhã, uma partilha musical...

Os outros passageiros nem queriam acreditar. Normalmente são outras pessoas que correspondem ao estereótipo de quem ouve música alta, sem headphones, nos transportes. Desta vez, uma senhora, com mais de 40 anos, de traços orientais, partilhava, com todos, música também oriental, talvez da China. Não foi fácil concentrar-me no meu livro. Mas não pude deixar de sorrir de cada vez que, numa nova estação, alguém entrava e procurava, com estranheza, a fonte daquele som.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Acreditar ou não

Irrita-me este dia das mentiras. Não consigo ler ou ouvir as notícias sem me questionar: será que isto aconteceu mesmo? 
Por outro lado,  há algumas notícias que lemos e pensamos: isto não pode ser verdade! E descansamos. No dia seguinte saberemos que foram inventadas... O problema é que algumas são mesmo reais.
Pensando bem, este dia das mentiras não é muito diferente dos outros dias. 

terça-feira, 1 de abril de 2014

Os livros, os tamanhos, as capas ou como cada um os veste como quer

Esta coisa das modas é mesmo assim... Durante muito tempo era frequente encontrar, nos transportes públicos, mulheres que costumavam trazer consigo livros que eram transportados junto ao peito, com as capas viradas para fora, mostrando a todos que tinham um enorme orgulho em ler o último de José Rodrigues dos Santos ou outro best seller que, invariavelmente, tinha muitas páginas. Para mim, que já carrego sempre muito peso, uma das condições para escolher os livros que diariamente trago comigo é exactamente, ao contrário, a sua pequena dimensão. Nem sempre é possível mas com tantos livros para ler lá vou conseguindo.
De há algum tempo para cá, essas mulheres passaram a envolver os tais livros com umas capas de tecido. Mas não são uns padrões quaisquer. As flores, as cornucópias, as pequenas bolas, tudo em tons muito suaves, são os eleitos. Percebi, entretanto, que até as livrarias vendem essas capas feitas, sobretudo (lá está!), para os livros grandes. É como se certos livros pudessem tornar-se melhores ao apresentarem-se vestidos.
O meu livro, quando o tiro de dentro da mala, embrulhado num saco de plástico, na sua nudez, como quando o trouxe da livraria, não é tão vistoso, é verdade. Ainda hoje, uma senhora que agarrava um belo exemplar, envolto numa capa de pequenas riscas verde clarinhas, o olhou como se olha um maltrapilho do alto de um fatinho Chanel. Mas, depois de eu perceber que livro era, a diferença que pudesse existir entre os dois era largamente favorável ao meu. Pode não andar vestido, é certo. Mas é tão mais bonito!

sexta-feira, 28 de março de 2014

quinta-feira, 27 de março de 2014

E não são só eles!

A ideia não é nova por cá.
De uma coisa podem estar certos: a minha mãe, de 80 anos, e o meu pai, de 79, não gostam de andar na montanha russa.

sábado, 22 de março de 2014

A actualidade de Bordalo

Comemoraram-se neste 21 de Março os 168 anos do nascimento de Rafael Bordalo Pinheiro. 
Aqui fica um desenho seu publicado a 12 de Março de 1902, no n.º 113 de "A Paródia": 

Imagem retirada daqui. Clicar para ler melhor.