quarta-feira, 30 de maio de 2012

Assim se sentem muitos


Um xeque mate anunciado

Num anúncio de rádio, uma voz feminina, verificando uma lista de requisitos para entrar numa escola superior privada, vai dizendo:
- Mais de 23 anos... check; ensino secundário incompleto... check...; 
Depois da escolha da licenciatura a voz finaliza com um... xeque mate. 
Tratando-se de uma licenciatura e logo em Gestão imobiliária, sector bastante afectado pela situação económica desfavorável, tudo isto soa a cruel ironia. Os criativos tinham mesmo que fazer isto assim?

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Os sapatos castanhos

As pessoas circulam com a pressa de quem quer chegar rapidamente a casa. O dia está quente. Mesmo se a esta hora, já longe do pico do sol, não se esperasse tanto calor. Sentado na borda do passeio, na rua movimentada, o homem descansa. O fato cinzento está um pouco amarrotado. Da gravata só um pequeno ponto azul espreita de um dos bolsos do casaco. Pousados a seu lado, os sapatos castanhos, de atacadores, estão ao alcance da sua mão. Mas, por enquanto, repousam também até que o homem pegue neles para os calçar e seguir, então, o seu caminho.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Controlar ou ser controlado

- Mãe, às vezes penso que nós estamos dentro de um jogo de computador que alguém joga. Mas também podemos ser nós a controlar os jogadores.
E depois de uma gargalhada num tom malévolo:
- Bem, acabei de assustar duas pessoas que estavam a jogar... 

M., 12 anos

sábado, 19 de maio de 2012

Comunicado (2)

Dadas as pressões entretanto sofridas pelos membros do Conselho de Redacção e da Direcção deste Blogue, que incluíram ameaças mais ou menos explícitas, as quais foram levadas muito a sério, consideram estes que, afinal, uma pressão ou outra, de vez em quando, até faz bem.

Comunicado (1)

Depois de algumas notícias recentes o Conselho de Redacção e a Direcção deste Blogue resolveram divulgar publicamente que não serão toleradas quaisquer pressões em relação aos conteúdos nele publicados. 

quinta-feira, 17 de maio de 2012

I used to know... somebody

Ouvi-a na televisão associada a um vídeo que parodiava a relação entre Merkel e Sarkozy. Prendeu-me a atenção. Ouvi-a melhor depois e percebi que já anda pelos tops. Não é por isso que deixa de ser uma boa canção. 



E este belga-australiano parece ter muito mais para descobrir. Como o facto de ser um interessante multi instrumentista.

À espera de passageiros

O caixote do lixo está sujo. Mas tem exactamente a altura ideal para servir de mesa para quem está em pé. Como os quatro homens que, cada um de seu lado, seguram as cartas. O jogo não sei qual é. Mas a concentração dos jogadores é perturbada pelas pessoas que passam. É que qualquer uma delas pode entrar num dos táxis, dos quatro parados sem motoristas no interior.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Sábado à noite com J. P. Simões

É, nas suas palavras, "um tipo que se inspira na música brasileira para fazer música portuguesa". Fá-lo bem, na minha muito modesta opinião. Já aqui falei dele várias vezes.
No passado sábado fui vê-lo a Cascais. Um outro concerto nessa noite na vila ou um outro qualquer motivo fez com que fôssemos cerca de uma dezena, os espectadores. Mas o concerto valeu muito a pena. Apenas com uma guitarra, J.P. Simões cantou antigas canções e apresentou-nos outras que escreveu recentemente. Esta é uma delas:

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Mimos no Facebook

As minhas filhas, como quase todos os adolescentes, usam e abusam do Facebook. Aldrabam a idade e lá ficam prontos para entrar nesse mundo virtual onde os amigos se ganham às dezenas por dia. Além da partilha de vídeos e fotos e da escrita de comentários mais ou menos desinteressantes não há muito para dizer das actividades. Mas uma coisa salta à vista: a facilidade com que, a propósito de tudo e de nada, declaram a colegas e amigos que os amam. Uma foto em que estão juntos, um vídeo de que gostam em comum são pretextos para trocas de mimos, à medida da inocência que ainda têm. E nem sempre se escudam no inglês. Não, é mesmo em português. Mais ou menos sentidas, essas declarações são enternecedoras. Provavelmente elas não serão repetidas ao vivo. Mas, só o facto de serem escritas essas palavras, utilizadas essas expressões, tantas vezes apelidadas de ridículas até entre os mais velhos, pode ser um treino que se revele precioso mais tarde. Assim seja... 

quinta-feira, 3 de maio de 2012

A vida mesmo ao seu lado

O homem vinha numa das carruagens, há longos minutos, num tom de voz bastante alto, a contar anedotas intercaladas com frases em que pedia "a mais pequena moeda" que cada um tivesse na carteira. Que não roubava, só pedia.
A mulher vinha sentada à minha frente e, numa longa conversa de telemóvel, tratava de questões profissionais com alguém que conhecia bem. À passagem do homem, sem o olhar, pediu desculpa ao seu interlocutor pelo barulho: "é um mendigo que está aqui aos gritos". Antes de se despedir, recomendou a essa pessoa a leitura de um livro de Pepetela que não identificou. Eu pensei que podia ser um romance, ou um conto que contenha uma personagem como a que a mulher não viu mas que estava ali, mesmo ao seu lado.