quinta-feira, 3 de julho de 2014

"Mare nostrum"*

Foto via Facebook


A imagem, tirada de um helicóptero da Marinha italiana, suscita-nos emoções contraditórias. Este barco, cheio de pessoas que deixaram o seu país numa tentativa de poderem viver melhor ou, em muitos casos, só sobreviver; lembra-nos imediatamente as dramáticas notícias de naufrágios que têm provocado inúmeras mortes de homens, mulheres e crianças. Muitos nunca tinham visto o mar antes de se fazerem a ele desta maneira que, para nós, habituados à ideia de segurança em qualquer situação, nos parece absurdamente suicida. Mas a verdade é que este barco, para além do medo, está a abarrotar de esperança, de vontade de recomeçar, de vontade de começar. A Europa pode ser só um continente, aquele que a maior parte dos que cá estão assumem como o seu lugar, aquele onde, ainda hoje, se luta por territórios finitos que as fronteiras teimam em partir e repartir. Visto deste barco, pelo contrário, a Europa é um lugar infinito. E o que é a travessia de um mar para quem quer chegar ao infinito? 

* O título deste post, como é óbvio, nada tem a ver com as acepções atribuídas à expressão pelos antigos romanos (que a criaram), pelos nacionalistas italianos, ou pelos fascistas na época de Mussolini.

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