sábado, 30 de julho de 2011

Há comparações que nunca deveriam ser feitas

Eu gosto do "rapaz" (o.k., ainda mais dos The Smiths). E até posso perceber a sua intenção ao ter posto as coisas desta forma. Mas este tipo de fundamentalismos e comparações odiosas não me parece que sejam dignas de alguém com algum protagonismo. E não, isto não é normal. Mesmo que "there is no such thing in life as normal".

terça-feira, 26 de julho de 2011

Guitarra e voz

Uma versão linda da canção dos The Cure...



 E para verem o que ela é capaz de fazer com a guitarra:

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Há mudanças muito difíceis de fazer...

Num anúncio a um banco, que ouço na rádio, uma mulher tenta aceder ao site da entidade mas só com a ajuda do marido lá consegue chegar. Isto porque as palavras utilizadas na pesquisa não são as correctas, complicando o que, à partida, é muito simples.
Mais outra pérola, lida num texto do "Público", sobre um novo modelo automóvel da Lancia:
"Mas há coisas que não mudam: o novo Ypsilon continua a ser um modelo ultrafeminino com detalhes pensados, assegura a marca, especificamente para elas, ao acrescentar o Smart Fuel System, que facilita o reabastecimento ao substituir o vulgar tampão por um dispositivo automático que não permite enganos... ou à inclusão do Magic Parking com o qual o carro encontra o lugar que mais lhe convém e estaciona (quase) sozinho."

domingo, 24 de julho de 2011

Podia ter sido escrito hoje

"Riqueza e velocidade é tudo o que o mundo admira e a que todos aspiram. Caminhos de ferro, correios rápidos, barcos a vapor e todas as facilidades possíveis da comunicação, é para isso que tende o mundo civilizado, para se ultra-civilizar e assim persistir na mediocridade."


GOETHE, W. (1749-1832)  - «Carta a Zelter», cit. in W. Benjamin- Hommes Allemands, Paris, Payot, p.21-22

quinta-feira, 21 de julho de 2011

E o vento continua...

Ouço-o lá fora. Tenho-o ouvido todas as noites. Lembrei-me de um poema do Ruy Belo. Fui procurá-lo e aqui está ele:

O Valor do Vento


Está hoje um dia de vento e eu gosto do vento
O vento tem entrado nos meus versos de todas as maneiras e
só entram nos meus versos as coisas de que gosto
O vento das árvores o vento dos cabelos
o vento do inverno o vento do verão
O vento é o melhor veículo que conheço
Só ele traz o perfume das flores só ele traz
a música que jaz à beira-mar em agosto
Mas só hoje soube o verdadeiro valor do vento
O vento actualmente vale oitenta escudos
Partiu-se o vidro grande da janela do meu quarto

in Ruy Belo, Orla Marítima e outros poemas, Assírio & Alvim, 2008, p. 25

domingo, 17 de julho de 2011

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Começar e acabar a meio

A certa altura uma das personagens diz: "Nós não estamos perdidos. Só andamos à procura do nosso caminho."
Neste filme não sabemos exactamente como começou a viagem. Nem saberemos, no final, como acabará. Mas percebemos que isso não nos faz falta. As coordenadas espaço e tempo passam para segundo plano ao acompanharmos a evolução daquele grupo, no sentido de uma alteração das relações de poder, que está inicialmente do lado clássico, do mais forte; para estar, no final, do lado daquele que, noutras condições, seria certamente ignorado.
Talvez por a realização ser de uma mulher, a perspectiva feminina é predominante. A câmara está normalmente junto a elas e ouvimos muitas vezes os diálogos dos homens a uma certa distância. E é o comportamento de uma mulher que, apesar do medo face ao desconhecido, irá fazer mudar alguma coisa. 
O filme é também uma homenagem aos espaços agrestes e à natureza, que ali decide tanto quanto os humanos. 
Falta acrescentar que a música, tal como o silêncio, acentuam a tensão presente em certas cenas de uma forma muito bem conseguida.
Ah! E eu gosto tanto da Michelle Williams!

quinta-feira, 14 de julho de 2011

"Pequenos crimes conjugais"

Há uns anos atrás vi, no Teatro Nacional D. Maria II, a peça "Pequenos crimes conjugais", da autoria de Eric-Emmanuel Schmitt. A encenação era de José Fonseca e Costa e as interpretações principais de Paulo Pires e Margarida Marinho. O texto, muito inteligente, é um misto de desencanto, tragédia e ironia. Porque o encontrei à venda, comprei-o pouco tempo depois. Hoje reli algumas páginas das quais vos deixo aqui umas linhas: 

Lisa. O destino do amor é a decadência… No início eu era a preferida mas será que continuo a sê-lo? Tu pretendes que me amas mas será que te continuo a agradar? Como eu estou aqui, a questão desapareceu e o desejo também. Tu já não desejas viver comigo porque tu vives comigo. Eu já não sou a tua fuga para a liberdade, eu sou a tua prisão, tu prendes-te a mim, tu estás resignado a suportar-me. 
Gilles. Mas eu quero continuar. Ou melhor, queria… 
Lisa. Continuar porquê? Também em relação a esse aspecto eu li o que escreveste. Homens e mulheres só permanecem juntos pelo que têm de mais sórdido, de mais vil, de mais feio neles: o interesse, a angústia que está presente na mudança, o medo de envelhecer, o medo da solidão. Eles ficam num estado de dormência, apoucam-se, abandonam a ideia de que podem fazer alguma coisa das suas vidas, apenas dão as mãos para não avançarem sozinhos para o cemitério. Tu só ficaste comigo pelas piores razões. 
Gilles. Enquanto que tu, naturalmente, só tinhas boas razões. 
Lisa. Sim. 
Gilles. Quais? 
Lisa. Tu. 
Embora emocionado pela violência com que ela admite a sua dedicação, Gilles não pode impedir a ironia: 
Gilles. Tu amas-me e por isso matas-me? 
Lisa, de cabeça baixa e os olhos no chão, murmura mais para ela que para ele: 
Lisa. Eu amo-te e isso mata-me. 
Gilles compreende que ela está a ser sincera. 

in Eric-Emmanuel Schmitt, Petits crimes conjugaux, Paris, Éditions Albin Michel, 2003, p. 96-98

(A tradução é minha) 

segunda-feira, 11 de julho de 2011

"I know all there is to know about the crying game"

Um pouco a propósito da temática... uma cena de um filme de que gosto muito. E uma bela canção.

Será que ainda há esperança?

A leitura da primeira epístola aos Coríntios 6, 10, atribuída ao apóstolo Paulo pode fazer parte, segundo o bispo de Alcalá de Henares, de um conjunto de leituras a consultar por "hombres y mujeres que experimentan una atracción sexual hacia personas del mismo sexo". Segundo diz, "es posible la esperanza". Será? Será mesmo que considerar esta questão como um mal à espera de cura nos dá alguma esperança de que, no futuro, a igreja católica a aborde de uma forma diferente?

terça-feira, 5 de julho de 2011

Luzes

As paredes dos velhos armazéns ameaçam ruir. Mas as placas de aviso não os afectam. Na escuridão da noite eles ali estão, no silêncio, à espera. Na cabeça um boné com uma pequena lâmpada que se acende quando precisam de mudar o isco. O rio está salpicado de luzes verdes a boiar, pequenos flutuadores assinalando o local onde caiu o anzol. Do outro lado do rio, as luzes de Lisboa.

domingo, 3 de julho de 2011

Afinal não sou da classe média

A autora deste blogue vai de férias alguns dias. Não promete, por isso, que o ritmo de publicação de posts e comentários seja o habitual. 
Seguindo os conselhos de José António Saraiva vai de férias cá dentro, beberá água, cerveja e outras bebidas de marcas nacionais e quanto ao hotel a opção é claro que será de menos de cinco estrelas. Não viajará num Audi 6, guardará os pacotes de açúcar que não usar e, se comer em restaurantes, levará os restos de comida consigo (se ela for boa). Não vestirá roupa Armani nem usará sapatos de luxo e, mostrando a sua beleza natural, os produtos de beleza ficarão em casa. O cabeleireiro ficará talvez para a altura do Natal... Já a depilação... Bem, estamos no Verão.
Vendo bem... o que é que será diferente para mim nestas férias? Ah! Talvez o facto de sair de casa sabendo que, em Portugal, há directores de jornais que não sabem em que país vivem...

Uma das razões/poemas porque gosto de Pedro Mexia

Os Domingos de Lisboa


«Os domingos de Lisboa são domingos
terríveis de passar», mais terrível
este verso ter quarenta anos.

Tenho menos de quarenta, prazo
de alegrias, mas ao domingo
é plos domingos que tenho tristeza.

Os domingos em que não soube
e se soubesse não seria diferente,
os domingos de pó e naftalina.

Os domingos sem pão e sem
correio, dia do Senhor
que morreu à sexta-feira.

Os domingos de arrumações,
de matutinos do mês passado,
da sesta hipocondríaca na cama maior.

Os domingos decrescentes,
dia em que se envelhece, missa
para os que são de missa,

futebol para os da bola,
e para as famílias almoços
em melancólicos restaurantes,

parques e lojas onde também
estou, passeando com os olhos
os filhos, saudáveis, dos outros.

in Pedro Mexia, Menos por Menos, Lisboa, Publicações D. Quixote, 2011, p. 83