segunda-feira, 26 de maio de 2014

Votar / Não votar

Por razões de saúde o meu pai não pôde votar ontem. 
Para que não fosse confundida com quem está acamado; com quem, por razões de trabalho, não consegue deslocar-se; com quem prefere ir dar um passeio fora da área de residência; com quem simplesmente tem mais que fazer; ou mesmo, com quem acha que isto das eleições não lhe diz respeito; eu fui votar. Desta vez não tive grandes hesitações. Depois de alguns dias a ouvir os tempos de antena na rádio, decidi-me por um partido que esclareceu apenas questões relativas ao trabalho do Parlamento Europeu e apresentou apenas ideias para serem discutidas naquela assembleia. Não elegeu nenhum deputado mas eu procurei saber, previamente, alguma coisa sobre as propostas em cima da mesa e escolhi a que mais me agradou. Sei que cumpri a minha parte e por isso as eleições para mim correram bem. 
Uma grande percentagem dos eleitores não poderão dizer o mesmo. Se é certo que não poderemos saber correctamente qual a percentagem, de entre os cerca de 66 %, dos que o fizeram deliberadamente, tudo nos diz que ela é elevada. Até por isso não compreendo quem considera que a abstenção é a melhor forma de mostrar a falta de confiança nos partidos políticos ou nos políticos. A desactualização dos cadernos eleitorais, a existência de cada vez mais idosos para quem a deslocação a uma assembleia de voto é quase impossível e outras razões imperiosas não deviam poder ser confundidas com quem quer fazer da sua abstenção um voto de protesto. Para tal, o voto branco e o voto nulo deveriam servir na perfeição.
Sei que a abstenção é um fenómeno complexo, com inúmeras variáveis a serem analisadas. Mas, para quem gosta de democracia, mesmo com os seus defeitos, o acto de ir votar não deveria, nunca, ser posto em causa. Quando isto acontece é porque afinal é o próprio regime democrático que está a ser questionado. Sendo estas, eleições a nível europeu, significará que a atitude dos portugueses deve ter uma leitura mais alargada? Claro que sim. E os resultados europeus mostram-nos que questionar desta maneira não traz bons resultados.
Por razões de saúde o meu pai não pôde votar ontem. Mas não deixou de me chamar a atenção para a necessidade de eu ir votar. Ele sabe que poder votar é um privilégio.                                                                                                                     

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