quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Um documentário

A minha filha M. ficou acordada até mais tarde porque queria ver o documentário que a RTP1 iria passar sobre imagens feitas pelos aliados aquando da libertação dos campos de concentração nazis. Por ter passado tarde, acabou por não o ver. Eu vi e fiquei com dúvidas sobre se ela o deverá ver ou não. Bem sei que um documento histórico, como os que serviram de base a este documentário, é sempre importante para melhor compreender uma realidade. Mas este, que levantou questões interessantes sobre a divulgação, ao tempo, dos filmes então realizados; e que a RTP passou sem bolinha vermelha ao canto do ecrã, é demasiado definitivo. Uma mãe não deveria nunca ter que ajudar um filho a lidar com os sentimentos que aquelas imagens, por certo, suscitarão. Porque elas são demasiado reais e irreais e reais novamente, numa espiral de incompreensão que, por mais voltas que se dê, nunca terão qualquer paralelo com nada do que o nosso pensamento possa alcançar. Eu não lhe vou conseguir dizer grande coisa quando ela me questionar. Ninguém conseguirá certamente. Tantos anos de civilização e o ser humano ainda nos é tão desconhecido. 

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Uma opinião original

Estação de metro da Alameda. O senhor que, segundo dizia, tinha acabado de sair do local de culto nas imediações está sentado num dos bancos e, enquanto espera, vai falando sozinho, mas em voz alta, talvez à espera que alguém lhe responda, o que não acontece. O seu discurso anda à volta dos acontecimentos internacionais das últimas semanas ligados aos atentados terroristas. Percebe-se que o preocupa o fanatismo religioso. Finalmente remata: - Eu vou lá (à IURD), mas eles também são uns "fanatistas"!

O nevão

"- Estamos aqui isolados, olhe!"
Quem o diz é uma habitante da aldeia de Sendim em Trás-os-Montes. Não lhe parece estranho estar a dizer isto enquanto está a ser entrevistada por uma jornalista que prepara uma peça que passará no telejornal das 8 da RTP. O desabafo não dirá respeito, certamente, à situação provocada pelo forte nevão. Serão outras coisas. Mais antigas, mais profundas. Estão isolados quase sempre. Hoje, por causa do forte nevão, não.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

O concílio do A330

                                                 
                                              Foto aqui

Não é bem um concílio... Mas também se abordam questões pastorais, de doutrina, de fé e de costumes. E está a tornar-se um hábito. Será que assim o Papa Francisco se sente mais inspirado por supostamente estar mais perto de Deus?

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Presa no subúrbio

Sim eu sei que "o tráfego automóvel continua a ser a principal causa da degradação da qualidade do ar na cidade de Lisboa, dado que constitui a principal origem de poluentes atmosféricos prejudiciais à saúde humana" e que há que cumprir o "Plano e Programa de Melhoria da Qualidade do Ar (Região LVT)". Também sei que quem toma as decisões não tem a culpa que eu não resida no centro da cidade ou que não tenha tido capacidade para, ao longo dos meus anos de trabalho, amealhar dinheiro suficiente para trocar o meu carro matriculado no ano de 1993.  
Mas com esta e outras medidas ninguém me tira esta sensação de falta de liberdade. E não é a liberdade para levar o carro para o trabalho, o que nunca fiz desde 1995, quando comecei a trabalhar em Lisboa. É a liberdade para, por exemplo, quando as minhas filhas estão doentes, poder levá-las ao médico que fica numa área da cidade onde, mesmo que só raramente, o meu carro não pode emitir partículas (PM10) e dióxido de azoto (NO2). A liberdade para poder chegar a um jantar num restaurante da capital antes das 21.30, sem ter que utilizar os transportes públicos que a partir de certa hora deixam de ser uma boa alternativa.  
A Avenida de Ceuta, o Eixo Norte/Sul, a Avenida das Forças Armadas, a Avenida dos Estados Unidos da América, a Avenida Marechal António de Spínola, a Avenida Santo Condestável e a Avenida Infante D. Henrique,  no período compreendido entre as 7 horas e as 21 horas passam, a partir de hoje, a ser os meus limites. Fico presa do lado de fora. Ainda por cima eu tenho esta mania parva de cumprir as regras...

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Foram eles... Ou como os ovnis afinal são ovis

Tanto livro publicado, tanta série de televisão, tanto filme sobre o tema. Tantas vidas dedicadas a uma procura incessante de vestígios da passagem por aqui de seres de fora deste nosso planeta. Afinal havia uma explicação. A mais óbvia, a de que quase todos desconfiavam. A de que os criadores do nome da coisa foram os criadores da própria coisa. Para muitos, é um mito que se desmorona. Para outros, uma contribuição para a certeza de que não existem objectos voadores não identificados. Só objectos voadores identificados... Mas entre uns e outros há os que aguardam por novas notícias e que se questionam sobre se terão sido mesmo os U2 os responsáveis por todas as situações. Pelo sim pelo não é melhor não rever já a ortografia do acrónimo. 

sábado, 3 de janeiro de 2015

A terceira e a sétima

Integrar a pintura no cinema é algo que nem todos conseguiriam fazer da forma como Mike Leigh fez. Mr. Turner, artista reconhecido e ao mesmo tempo incompreendido na Inglaterra do seu tempo, precursor nas técnicas, capaz de absorver, quer a natureza mais selvagem, quer as mais recentes inovações da era industrial; é-nos apresentado como alguém excêntrico mas absolutamente humano, capaz de actos tão elevados quanto censuráveis.
Mas o filme, se se centra na figura do pintor, leva-nos a conhecer melhor a sua obra e vai muito para lá de uma simples história de vida (dos seus últimos anos e que não nos é contada, apenas sugerida). Compreendemos as suas fontes de inspiração, percebemos as relações com os pintores seus contemporâneos, com os críticos, com os compradores das obras, com o público ou os públicos e a forma como estes olhavam o seu trabalho. E com esta abordagem entendemos melhor a sociedade inglesa da época com tantos pormenores que nos vão sendo dados a ver. 
Timothy Spall, no papel principal, está de facto fantástico e Dorothy Atkinson é também excelente como a mulher que mesmo tratada com crueldade nunca deixa de amar o seu patrão.
A fotografia do filme, fundamental e sob os holofotes com um tema como este, está à altura e cenas há que nos deixam com um sorriso de satisfação. Numa das cenas, uma das que mais gostei, um comboio, maravilha da tecnologia da época, surge real, para se transformar no tema de uma das pinturas que vemos imediatamente a seguir. O filme vale por si e por aquilo que nos sugere. As duas artes estão bem representadas, portanto.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Poesia para começar ou só recomeçar

NOVO ANO

Sempre que recomeço
eu descuro o tempo
tentando seguir o próprio passo

pelo trilho do ano
que acabou
desenredando os nós

do seu baraço

E aquilo que é futuro
à minha frente
tanto pode ser

rosa como aço

Mas ao querer entender
um outro tempo
eu entreteço

sonho, poesia, liberdade
um ano de luz
no seu começo

Maria Teresa Horta, 31 de Dezembro de 2014 
(publicado no Facebook)