É verdade que, naquela altura, a nossa escolha era muito limitada. A televisão oferecia e para nós era "pegar ou largar". Mas ninguém nos obrigava a ver o TV Rural. E, mesmo nas cidades, eram muitos os que não perdiam um. Certamente não era por acaso. E não foi por acaso, também, que aquele foi o programa com maior longevidade na televisão portuguesa (esteve no ar de 1959 a 1990). E o elemento chave era, sem dúvida, o seu apresentador, o Engenheiro Sousa Veloso que percorria o país a falar de um tema que manifestamente o apaixonava. Todos recordam o respeito que demonstrava pelos agricultores que entrevistava mas também pela própria natureza. A forma como ela era transformada pela agricultura era apresentada de forma didáctica mas também emocionante, até. Era um conceito muito moderno, mesmo se os meios técnicos não eram muito evoluídos.
Esta noite, a RTP Memória passou um programa, de 2005, em que era ele o convidado. Percebi que o final do TV Rural não o preocupou tanto quanto a sensação que tinha do abandono da agricultura, enquanto actividade produtiva. E gostei de o ouvir dizer que ficava irritado quando ouvia, mesmo da boca de jornalistas, que estava um tempo muito bom quando, em tempo de chuva, ela teimava em não cair; porque se lembrava daqueles para quem a chuva era um bem precioso.
Talvez pelas minhas raízes rurais, durante alguns dos anos da minha infância e adolescência, nunca perdia um programa ao domingo. Provam-no os registos do meu diário. Depois fui crescendo e a minha atenção não acompanhou o TV Rural. Hoje, com a morte do Engenheiro Sousa Veloso, não podia deixar de o recordar.
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