Já tinha escurecido. Aproximei-me da passadeira e vi um homem, com cerca de 80 anos, a afastar-se do centro do passeio e a aproximar-de da berma. Travei e parei pensando que ele iria atravessar. Em vez disso dirigiu-se ao marco do correio que, apesar de ali passar todos os dias, eu nunca tinha reparado que ali estava e depositou nele uma carta. Fiquei surpreendida. Percebi, então, que há já muito tempo não via alguém a utilizar um marco do correio. Lembrei-me de mim própria quando era criança. Deve ter sido um dos primeiros recados que fiz. O marco do correio ficava no cruzamento. Quando dizíamos cruzamento já sabíamos que era daquele cruzamento que falávamos. Era preciso andar um bocadinho mas não tinha que atravessar ruas. E lá deixava as cartas que seguiriam depois para a aldeia no Norte ou para Moçambique e para o Brasil. Nessa altura achava extraordinário como é que, algum tempo depois, o envelope com aquela folha de papel iria estar na mão de outra pessoa que estava num sítio tão longe. Ao pensar nisso sorri sozinha. Depois avancei.
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