segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Edifício Reabilitado? - a importância das definições


As ironias de um dia

R. da Prata, Lisboa, cerca das 19 horas do dia 28 de Novembro. Uma mendiga abriga-se do frio na entrada de uma dependência bancária, junto às caixas de multibanco. Está suja e descalça, sentada no chão, com as costas encostadas à parede. À sua volta, espalhadas pelo chão, estão dezenas de beatas que ela parece contar e escolher com enorme cuidado, como quem olha para um tesouro que lhe custou a encontrar.

Duvido que  esta mulher saiba da iniciativa do "Buy nothing day". Mas certamente não terá comprado nada durante todo o dia.

domingo, 29 de novembro de 2009

Gazeta dos Caminhos de Ferro (2)

No dia 30 de Outubro falei da colocação em linha desta gazeta (aqui e aqui). Agora chamo a atenção para um texto que ajuda a melhor compreender as quase 30.000 páginas que podemos consultar na Hemeroteca Digital.

Numa sala de cinema, este foi o primeiro

Não sei qual foi o primeiro filme que vi. Foi certamente na televisão. Mas o primeiro que vi no cinema foi um filme francês, de 1973, chamado "Le grand bazar", com uns actores que se intitulavam "Les Charlots" (percebe-se porquê). De algumas cenas nunca me esqueci. Há uns tempos descobri que, apesar da imagem ser má, e aos bocados, conseguia ver o filme praticamente todo aqui.
Por aqui deixo só as primeiras cenas:

sábado, 28 de novembro de 2009

Buy Nothing Day

Apesar deste vídeo se dirigir ao mercado americano não deixa de fazer sentido também por aqui.



Confesso que sou um pouco consumista. Não resisto a muitas coisas que sei que não me fazem falta. Este dia, mais do que evitar as compras a todo o custo, serve sobretudo para reflectirmos sobre os excessos que todos cometemos (lembro o que escreveu a Manuela Araújo no Sustentabilidade é Acção). Por isso mesmo convém não esquecer uma frase que, durante muito tempo, tive pendurada junto à minha mesa de trabalho e que dizia:

The more you buy the less you live

“A política como vocação” (continuação II)

“Com o incremento do número de cargos, consequência da burocratização geral e o crescente apetite por esses cargos como modo específico de assegurar o futuro, esta tendência aumenta em todos os partidos, cada vez mais encarados pelos seus seguidores como o meio para alcançar o fim: a obtenção de um cargo.

No entanto opõe-se a esta tendência a evolução do funcionalismo moderno, que se está a converter num conjunto de trabalhadores intelectuais, altamente especializados, mediante uma vasta preparação e com uma honra do tipo feudal muito desenvolvida, cujo supremo valor é a integridade. Sem esse funcionamento abater-se-ia sobre nós o risco de uma terrível corrupção e uma generalizada incompetência…

A questão que agora nos interessa é a de qual seja a figura típica do político profissional… Esta figura modificou-se com o passar dos tempos…

… a figura do advogado moderno fica estreitamente unida à moderna democracia… A política actual é, cada vez mais, conduzida face ao público e, consequentemente, utiliza como meio a palavra falada e escrita. Pesar as palavras é tarefa central e peculiaríssima do advogado…

Para ser fiel à sua verdadeira vocação… o autêntico funcionário não deve fazer política, mas limitar-se a administrar, e acima de tudo imparcialmente… o que lhe está vedado é precisamente aquilo que sempre, e necessariamente, têm que fazer os políticos, tanto os chefes como os seus partidários. Parcialidade, luta e paixão constituem o elemento do político … Toda a actividade deste se coloca sob um princípio de responsabilidade diferente, e mesmo oposto, ao que orienta a actividade do funcionário. O funcionário honra-se com a sua capacidade de executar precisa e conscientemente… uma ordem da autoridade superior… A honra… do estadista dirigente, está, pelo contrário, em assumir pessoalmente a responsabilidade de tudo o que faz, responsabilidade esta que não deve nem pode repelir ou lançar sobre outro…

Desde que apareceu o estado constitucional e, mais completamente, desde que foi instaurada a democracia, o “demagogo” é a figura típica do chefe político no Ocidente… A demagogia moderna também se serve do discurso, mas, embora o utilize em aterradoras quantidades… o seu instrumento permanente é a palavra impressa. O publicista político, e sobretudo o jornalista, são os mais notáveis representantes da figura do demagogo na actualidade”… (págs. 26 a 40)

(o negrito é meu)

(continua)

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O que nos ensina o cinema sobre nós?

Este podia ter sido o título (se tivesse havido um título) do debate que se seguiu à projecção do filme “O quarto do filho” de Nanni Moretti em mais uma sessão do Ciclo de Cinema e Saúde Mental que aconteceu ontem no Cinema S. Jorge e na qual estiveram presentes Graça Castanheira, realizadora e professora na Escola Superior de Cinema e Teatro e António Coimbra de Matos, psicanalista da Ass. Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica.

Nunca tinha visto o filme. Já me tinham avisado que era muito triste. O tema, a perda de um filho, não seria para menos. No entanto a sua construção não me permitiu achá-lo assim tão triste. Os elementos de comédia, tão caros ao realizador, estão presentes e a conclusão a que chegamos é que é possível, pelo menos possível, ultrapassar uma situação que, à partida, parece condenar-nos ao sofrimento para toda a vida.

Do debate aprendi que a representação da dor, neste filme, permite-nos falar de dois tipos de luto que, no caso, se segue à morte de alguém tão próximo como é um filho. O luto patológico, assente numa lógica de culpabilidade e um luto “normal” em que intervêm os elementos clássicos associados à perda. Um pai com uma personalidade narcísica (que ainda por cima, sendo psicanalista, se confronta com as suas pulsões e as soluções para as ultrapassar) estará menos predisposto a ultrapassar esta situação extrema.

Outra das questões debatidas foi o afastamento entre as pessoas (entre o casal, entre pais e filhos) que se segue a situações traumáticas deste tipo. Quanto a mim, ele poderá ser entendido como uma defesa; poderá haver uma reacção de desinvestimento em relações que se prova que poderão ter, abruptamente, um fim.

No caso deste filme é o aparecimento de um novo elemento, alguém que, estando de fora da esfera familiar, mas tendo tido contacto com quem desapareceu, tem a distância suficiente e ao mesmo tempo a aproximação para que seja possível a cooperação entre os membros da família, no sentido do renascimento após o trauma. A simbologia da cena da chegada à fronteira (um novo espaço), ao nascer de um novo dia (um novo tempo) é bastante clara; e a aparente conciliação com o mar, na cena final, também parece ir no mesmo sentido.

Graça Castanheira dizia que, apesar de amar o filme, há coisas menos boas nele que não consegue ultrapassar. Uma delas é a presença da banda sonora, não por ser a que é, mas por achar que não há banda sonora para a dor e que a intensidade do cinema se vê, por vezes, diminuída com a introdução de música.

Mas, para mim, apesar de compreender o seu ponto de vista, a música não está a mais. Sobretudo sendo esta música, esta fantástica música:

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Martim Moniz (I)


Setembro 2009

A Gripe A A

(sendo o segundo A de Assintomática) Fiquei hoje a saber que se pode ter Gripe A sem ter sintomas. E agora? Será que já tive Gripe A? Queria tanto saber... é que já estou farta de usar os cotovelos para empurrar portas...

terça-feira, 24 de novembro de 2009

"A política como vocação" (continuação)

"A diferença entre o viver para e o viver de situa-se pois, a um nível muito mais grosseiro, ao nível económico. Vive da política como profissão, quem trata de fazer dela uma fonte de receita; vive para a política quem não se acha neste caso. Para que alguém possa viver para a política neste sentido económico… deve ser economicamente independente das receitas que a política lhe possa proporcionar. Dito da maneira mais simples: tem que possuir um património ou uma situação privada que lhe dê rendimentos suficientes… Quem vive para a política tem de ser… economicamente "livre"…

A direcção de um estado ou partido, por parte de pessoas que, num sentido económico, vivem para a política e não da política, significa necessariamente um recrutamento plutocrático das camadas politicamente dirigentes. Naturalmente que esta afirmação não implica a sua inversa. O facto de existir essa direcção plutocrática não significa que o grupo politicamente dominante não trate também de viver da política, acostumando-se ainda a utilizar o seu domínio político para benefício dos seus interesses económicos privados. Não é disto, evidentemente, que se trata. Nunca existiu grupo algum que, de uma forma ou de outra, o não tenha feito. A nossa afirmação significa apenas que os políticos profissionais deste tipo não se vêem na obrigação de procurar uma remuneração através do seu trabalho político, o que, por outro lado, têm que fazer aqueles que carecem de meios de fortuna. Por outro lado, também não pretendemos dizer que os políticos carecidos de fortuna se proponham apenas, e nem sequer principalmente, atender às necessidades pessoais e não pensem principalmente na causa. Nada poderia ser mais injusto. A experiência ensina que para o homem endinheirado a preocupação pela segurança monetária da sua existência é, consciente ou inconscientemente, um ponto cardeal de toda a sua orientação vital. Como podemos observar, sobretudo em épocas excepcionais, ou seja revolucionárias, o idealismo político totalmente desinteressado e isento de alvos materiais é próprio principalmente, se não exclusivamente, dos sectores que, em virtude da sua falta de bens, não tem qualquer interesse na manutenção da ordem económica de uma determinada sociedade. Queremos significar apenas que o recrutamento não plutocrático do corpo político, tanto dos chefes como dos subordinados, se vai apoiar sobre o evidente pressuposto de que a empresa política irá proporcionar a esse pessoal receitas regulares e seguras. A política pode ser “honorífica”, e então será conduzida por pessoas a quem chamaríamos independentes, quer dizer ricas, e principalmente em rendimentos; mas se a direcção política é acessível a pessoas carentes de património, elas terão forçosamente de ser remuneradas. O político profissional que vive da política pode ser um puro prebendado ou um funcionário a soldo. Ou recebe receitas provenientes de taxas e direitos por serviços determinados (as gratificações e subornos não passam de uma variante irregular e formalmente ilegal deste tipo de receitas), ou recebe um emolumento fixo, em espécie ou em dinheiro, e, por vezes, em ambos ao mesmo tempo. Pode assumir o carácter de patrão… Pode ainda receber um ordenado fixo, como é o caso do redactor de um jornal político, ou de um secretário de partido, ministro, ou funcionário público moderno… O que os chefes de partido dão hoje como pagamento de serviços leais são cargos de todo o tipo em partidos, jornais, confrarias, Caixas de Segurança Social e organismos municipais ou estatais. Toda e qualquer luta entre partidos visa, não só um fim objectivo, mas ainda e acima de tudo o controlo sobre a distribuição dos cargos.” (págs. 20 a 24)

(o negrito é meu)

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Uma conferência e uma das razões/poemas porque gosto de Cecília Meireles



Porque gosto da poesia de Cecília Meireles aí vai a divulgação de uma iniciativa interessante:

Conferência Cecília Meireles e o Mar das Descobertas
O poeta brasileiro Carlos Nejar vai estar na Casa Fernando Pessoa, dia 26 de Novembro pelas 18h30, para apresentar a conferência Cecília Meireles e o Mar das Descobertas. "Nejar tratará do vínculo de Cecília às raízes portuguesas, relacionando o mar de Cecília e o de Pessoa (Álvaro de Campos), e o mar de Sophia de Mello Breyner Andresen. Haverá ainda lugar à leitura de poemas da autoria desta voz singular e universal."

Divulgação da Câmara Municipal de Lisboa
Casa Fernando Pessoa
R. Coelho da Rocha, 16
http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt
www.mundopessoa.blogs.sapo.pt

E para vos dar uma razão/poema escolhi esta:

Encomenda

Desejo uma fotografia
como esta - o senhor vê? - como esta:
em que para sempre me ria
com um vestido de eterna festa.

Como tenho a testa sombria,
derrame luz na minha testa.
Deixe esta ruga, que me empresta
um certo ar de sabedoria.

Não meta fundos de floresta
nem de arbitrária fantasia...
Não... Neste espaço que ainda resta,
ponha uma cadeira vazia.

Cecília Meireles, Antologia Poética, Relógio d'Água, 2002

Após uma breve leitura …

do Borda d’Água que contém "todos os dados astronómicos e religiosos e muitas indicações úteis de interesse geral", fiquei a saber, entre outras coisas igualmente interessantes, que:

- os homens e mulheres do signo Aquário são calados mas aventureiros. Procuram estar próximos da água e as viagens são uma tentação;
- no mês de Março devem-se vacinar os porcos contra doenças rubras e os bovinos, caprinos e ovinos contra o carbúnculo.
- o Feriado Municipal de Freixo de Espada à Cinta é no dia 5 de Abril
- em Julho, no jardim, se deve semear amores-perfeitos, calêndulas, cinerárias, etc., e as plantas bienais e vivazes de germinação lenta, para transplante no Outono;
- em Setembro, na horta, se deve semear, ao ar livre e local definitivo, agrião, cenoura, chicória, feijão, nabo, rabanete, repolho, salsa; em canteiro, acelga, alface, alho-porro, cebola e tomate;
- Novembro é o mês em que, aos pomares, se deve estercá-los no Crescente e podá-los no Minguante;
- em 11 de Julho irá acontecer um eclipse total do Sol que será visível a partir do Sul da América do Sul e no Sul do Oceano Pacífico;
- existem vários modos de fazer enxertias: de borbulha, de garfo, de canudo ou de verruma. As árvores devem ser enxertadas quando têm a casca a despegar ou quando querem rebentar. Só se deve proceder a enxertias quando a Lua está no Crescente; contudo os “garfos” devem ser tirados em Lua Minguante, devendo enterrá-los até à Lua Crescente.

Por fim não resisto a citar o último parágrafo do “Juízo do Ano”, texto de Célia Cadete, na contracapa:
“Aos jovens digo para não ficarem parados, olhem sempre para a frente, o futuro será vosso. O caminho faz-se caminhando. Os nossos comportamentos determinam em grande parte os próximos (comportamentos); procurem uma relação sadia com o natural, o diálogo cara a cara é mais saudável do que o ecrã de PC. Exercitem a argumentação; ponderem as vossas teses e deixem que os outros possam convosco debater, mas afastem-se da manipulação, sejam verdadeiras pessoas.”

Desde as simples informações aos conselhos aos jovens sobre atitudes e comportamentos... que mais podemos nós querer por 1,50 €?

domingo, 22 de novembro de 2009

Uma das razões/textos poéticos porque gosto de Carlos de Oliveira

(em consonância com o T. Mike)

Fruto

Por um desvio semântico qualquer, que os filólogos ainda não estudaram, passámos a chamar manhã à infância das aves. De facto envelhecem quando a tarde cai e é por isso que ao anoitecer as árvores nos surgem tão carregadas de tempo.

Do livro "Sobre o Lado Esquerdo". Carlos de Oliveira, Trabalho Poético, Círculo de Leitores, 2001

Parabéns...



Foto encontrada aqui

a Paulo Freitas do Amaral, que foi o único presidente de junta, entre as 10 que constituem o concelho de Oeiras (a da Cruz-Quebrada/Dafundo), a ser eleito por um partido que não o movimento Isaltino Oeiras Mais à Frente (no caso o PS). É certo que apenas 16 votos o separaram do 2.º mais votado mas... Uma coisa é certa: a sua tarefa não será, de modo algum, fácil.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Poço do Borratém

Depois das aldeias históricas, uma noite num bairro histórico de Lisboa: a Mouraria


Setembro, 2009

“Reportório útil a toda a gente”

É este o subtítulo do “Verdadeiro Almanaque Borda D’Água”.
1,50€ é quanto custa a edição para 2010. "Descontraia no comboio e ofereça-o à família". Era isso que ia dizendo o senhor que o vendia hoje no comboio.

- Quantos anos tem o senhor?, pergunta uma passageira
- 80, responde ele.
- Está aí rijo!
- Sabe, foram muitos anos dedicados à agricultura.

Deve ser também pelo facto de lhe estar tão grato, por o ter conservado assim, que este senhor lhe presta homenagem, vendendo este almanaque, presença indispensável nas casas onde os ciclos naturais ainda regem os dias. Na cidade estamos longe disso mas hoje, talvez com alguma nostalgia, lembrando-me que, na casa dos meus avós havia sempre um exemplar, resolvi comprá-lo.

"A Política como Vocação"

Sou daquelas pessoas (ou serei mesmo só eu?) que consideram a política uma nobre ocupação. A ideia de alguém se dedicar a pensar na melhor forma de resolver problemas que nos afectam a todos sempre me fez olhar os políticos como pessoas diferentes do resto dos cidadãos e que deveriam merecer o nosso respeito.

Considero, no entanto, que a escolha de uma carreira política quase nunca é baseada em motivos altruístas. Ou porque a família já possuía capital político, ou porque algum acontecimento na vida pessoal levou alguém a inscrever-se num partido, ou porque as organizações juvenis partidárias têm uns programas engraçados que levam os miúdos a inscreverem-se… Enfim as hipóteses são múltiplas. Mas aquilo que é verdadeiramente importante não é a forma como se chegou lá (desde que não seja de forma ilícita). É o que se faz com o poder que, inevitavelmente, se adquire quando se está em determinadas situações.

Se não me engano, foi logo no primeiro ano da faculdade que li um pequeno (mas só no tamanho) livro de Max Weber, “O Político e o Cientista”, que, ainda hoje, considero uma obra fundamental e a que recorro com frequência (a minha edição deste livro é a da Biblioteca Universal da Editorial Presença, Lisboa, de 1979).

Trata-se do conjunto de dois textos publicados, pela primeira vez, em 1919 e cujas ideias tinham sido previamente apresentadas numa conferência dirigida a estudantes em Munique.

Do primeiro, A política como vocação , porque as ideias nele contidas continuam válidas e sempre actuais, vou deixar uns excertos de vez em quando. Para começar:

“Que entendemos por política? O conceito é extraordinariamente lato... Por política entenderemos apenas a direcção ou a influência sobre a direcção de uma associação política ou seja, no nosso tempo, de um Estado (pág. 8)…

a política significará… a aspiração a participar no poder ou a influir na distribuição do poder entre os diversos estados ou, dentro de um mesmo Estado, entre os diversos grupos de homens que o compõem. (pág. 9).

Quem faz política aspira ao poder; ao poder como meio para a consecução de outros fins (idealistas ou egoístas) ou ao poder pelo poder, para desfrutar o sentimento de prestígio que ele confere. (pág. 10)

Pode fazer-se política,… como político ocasional, como profissão secundária ou como profissão principal. … Políticos ocasionais somos todos nós quando depomos o nosso voto, aplaudimos ou protestamos numa reunião política, fazemos um discurso político ou realizamos qualquer outra manifestação de vontade de natureza análoga. Para muitos homens, a isto se reduzem as relações com a política. Políticos semi-profissionais são hoje, por exemplo, todos os delegados e dirigentes de associações políticas que, em geral, apenas desempenham essas actividades em caso de necessidade, sem viver principalmente delas e para elas, nem no plano material nem no espiritual… (pág. 18)

Há duas formas de fazer da política uma profissão. Ou se vive “para” a política ou se vive “da” política. Os opostos não se excluem absolutamente. Pelo contrário, fazem-se geralmente as duas coisas, pelo menos idealmente; e, na maioria dos casos, também materialmente. Quem vive “para” a política faz dela a sua vida num sentido íntimo; ou goza simplesmente com o exercício do poder que possui, ou alimenta o seu equilíbrio e tranquilidade com a consciência de ter dado um sentido à sua vida, pondo-a ao serviço de algo. Neste sentido profundo, todo o homem sério que vive para algo, vive também desse algo." (pág. 20)


Agradecimentos

- Ao João Severino do Jornal do Pau Para Toda a Obra que, no dia 8 deste mês, fez uma ligação a este blogue;
- Ao Pedro Correia do Delito de Opinião que, no dia 17, fez uma ligação para o post "os muros à nossa escala";
- À Sylvia Beirute, do blogue Uma casa em beirute por considerar o dias imperfeitos digno de ser blogue da semana.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Há coisas que não mudam

Hoje fui lanchar à Bénard. Há já algum tempo que não o fazia e por isso já quase me tinha esquecido como é bom beber um chá, naquele espaço tão agradável. E também já quase me tinha esquecido da antipatia e dos maus modos dos empregados. Dos que recordo de há décadas atrás, já poucos sobram mas, mesmo os novos seguem rigorosamente o que devem ser as regras da casa a esse nível: não sorrir, não falar, ser simpático apenas com os clientes habituais e ignorar os outros. Há coisas que não mudam. Mas seria tão fácil...

À espera da sombra das árvores

Desde o início da semana o Jardim França Borges, mais conhecido pelo Jardim do Príncipe Real, está em obras (segundo li, por 4 meses). Vedações metálicas impedem o acesso a toda a zona ajardinada. Hoje, à hora de almoço, um grupo de habituais frequentadores, mais velhos, reunia-se junto às vedações. Conversavam e verificavam o andamento dos trabalhos. Parecia já estarem à espera da reabertura e não se importarem de esperar.

Duas boas razões para ir ao Campo Pequeno a 10 de Dezembro

Os Editors estarão no Campo Pequeno (pois é, Daniel, em Lisboa) no início de Dezembro, num concerto cuja primeira parte será da responsabilidade dos The Maccabees.
Dos primeiros fica uma amostra do último álbum:

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A ténis dados não se olha o número

Hoje, pela manhã, no Largo Camões, um mendigo apertava os seus ténis. E o que tem isto de estranho? Nada se os seus ténis estivessem realmente calçados. Mas não. Os seus dedos estavam por cima da pala e os atacadores apertavam-nos directamente.
Certamente se assim não fosse não conseguiria usá-los. Mas os ténis eram pretos e as meias também, o que mostrava alguma preocupação estética. A verdade é que não lhe ficavam nada mal.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Desalinhado

E não foi com o vento!


Mais música

Os Modest Mouse editaram este Verão um EP. O único trabalho deles que tenho é o disco de 2007,"We Were Dead Before the Ship Even Sank". Porque estou a ouvi-lo agora partilho este "Fire it up" convosco.


domingo, 15 de novembro de 2009

Finalmente!

Depois de ter falhado o concerto de 2006 e do que estava previsto acontecer, nesse mesmo ano, ter sido cancelado, foi ontem, finalmente, que vi os Depeche Mode ao vivo, de quem sou fã desde há muitos, muitos anos.
O Pavilhão Atlântico, em termos acústicos, mais uma vez, não fez jus ao magnífico espectáculo que se viu. Muito bom visualmente (com um ecrã onde os jogos de imagens se sucediam milimetricamente ajustados à música) o que mais me tocou foi a enorme energia de Dave Gahan, Martin Gore e Andrew Fletcher (acompanhados por mais dois músicos).
Dançar, dançar, dançar foi o que fizeram todos os que lá estiveram. As minhas pernas ainda se ressentem. E a garganta, de tanto cantar, também. Mas valeu taaaaaaaaaanto a pena!
O alinhamento permitiu-nos ouvir canções mais recentes e outras que já têm uns anitos mas todas muito bem interpretadas. De umas e de outras deixo aqui exemplos:





Alô, Alô, está alguém à escuta?

Não há muito tempo atrás comentava-se o receio do PR perante a hipótese de ser escutado pelo PM. Agora comenta-se o facto de, por essa altura, o PM, sem receios, ter conversas telefónicas que estavam a ser escutadas. Cá para mim os titulares de órgãos de soberania, quando quiserem falar em privado, têm de regressar aos velhinhos encontros marcados em locais ermos, de óculos de sol e vestidos com gabardines, mesmo no Verão.

sábado, 14 de novembro de 2009

Os muros à nossa escala

As conversas e comentários sobre o muro de Berlim, a sua queda e/ou o seu derrube, fizeram-me reflectir sobre uma questão menor, quando comparada com a dos muros que continuam a ser construídos por esse mundo fora e que dividem países, regiões, modos de pensar; mas que, a uma escala bem diferente, também denota os mesmos sentimentos de medo dos outros, de fechamento sobre si próprio, de tentativa de afastar os que são diferentes de nós.
Falo dos muros que, cada vez mais, se erguem na paisagem urbana, sobretudo nas zonas suburbanas, que cercam o que se tem designado por condomínios fechados.
A casa há muito que deixou de ser um mero abrigo. Ela é actualmente um elemento de um projecto individual ou familiar, alvo de investimento financeiro e afectivo, um espaço que marca um território que é o nosso.
A rua onde, no passado, se esbatiam as divisões entre o espaço privado e o público, e que eram um ponto estratégico de encontro, observação e conversa é hoje um local onde se torna necessário circular para ir de um ponto a outro, um obstáculo a transpor. E para isso conta-se com a ajuda do automóvel que, além de ser o maior consumidor de espaço público, afasta quem gosta de circular a pé e simultaneamente afasta os seus ocupantes do mundo exterior.
Se passarmos para as noções de vizinhança e de bairro vemos que, em muitos locais, deixaram de fazer sentido. Com efeito, a ideia de um território onde se interage socialmente, onde existem redes informais de entreajuda, pressupondo-se o uso concentrado de recursos da área, uma apropriação do espaço que implica uma noção de pertença, está cada vez mais afastada.
E se é verdade que as cidades nasceram para lutar contra o medo, a insegurança, o isolamento, ao aproximar os seus habitantes; é a sobrevalorização do indivíduo e o seu afastamento das redes sociais tradicionais que propicia o seu crescente sentimento de insegurança.
E a realidade, por incrível que pareça, é que vivemos actualmente nas sociedades mais seguras que alguma vez existiram embora, por vezes, na comunicação social, se dê a impressão contrária.
Mas claro que a segregação sempre existiu. Os grupos considerados marginais e outros considerados excedentários, supérfluos sempre foram afastados para zonas onde a sua presença não incomode os que se consideram indispensáveis ao bom funcionamento das cidades.
A novidade actualmente é que não chega escolher, para morar, uma zona da cidade que se considera melhor. É preciso afastar os outros a todo o custo. Assiste-se então a uma outra segregação, esta uma auto-segregação. Erguem-se muros, instalam-se sistemas de vigilância, contratam-se empresas de segurança. Vive-se fechado, em condomínios fechados. E se, em certos países, como o Brasil, onde esta realidade já tem muito tempo, a violência urbana é apresentada como justificação para a construção destes espaços, em Portugal tal não faz sentido. (É interessante ver que hoje em dia já se adopta, muitas vezes, a expressão “condomínio privado” para obviar à sensação de falta de liberdade que a expressão condomínio fechado “encerra”).
Ao mesmo tempo que os indivíduos têm maior liberdade e que alargam à esfera internacional o âmbito das suas comunicações (através da internet, por exemplo) fecham-se sobre si próprios, afastando os outros.
Toda esta situação reduz a capacidade de tolerar a diferença entre os habitantes das cidades e multiplica as ocasiões que podem dar origem a reacções de medo tornando a vida urbana mais carregada de ansiedade, funcionando tudo isto como um círculo vicioso.

Que mais haverá por lá?

Que isto não seja motivo para descurarmos os rios do nosso planeta.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Sexta-feira, 13

Paraskavedekatriaphobia ou parascavedecatriafobia, ou ainda frigatriscaidecafobia.
Superstições à parte, como poderia eu sofrer de um mal cujo nome não consigo pronunciar?

Os mais supersticiosos sempre podem ir até Montalegre e esconjurar os medos.

Maqueta

Desta vez o Rui Ribeiro mandou um filme em que José Cadilha apresenta a sua maqueta de modelismo ferroviário que, como diz, nunca estará acabada. Vê-se que existe paixão neste hobby.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Há já tanto tempo que não ouvia isto...

As arrumações têm destas coisas. Porque já há algum tempo não mexia nos meus discos de vinil não me lembrava deste senhor, David J., de quem nunca mais ouvi falar. O último álbum que tenho é o "Songs from another season", de 1990, quando já estava a solo. (Descobri agora que os Bauhaus lançaram um novo álbum de estúdio em 2008, que parece ter sido o último). E como a rede tem estas coisas descobri um vídeo de uma canção desse trabalho.

Para recordar:

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Selo, mais vale fazê-lo...?

Naquela fase da vida em que se fazem colecções de colecções também eu coleccionei selos. Ainda os tenho, tal como as moedas, os autocolantes, sei lá o que mais. Nessa altura os selos eram normalmente temáticos, com emissões que reproduziam figuras alusivas ao tema que tinha sido escolhido.
Receber uma carta com um selo, com a imagem da tia Amélia a regar as couves no quintal, está, agora, ao alcance de todos.
Mas será que alguém vai querer coleccionar estes selos?

O caso "bochechas" ocultas

Eu ouvi bem. Noronha do Nascimento, presidente do Supremo Tribunal de Justiça, disse que as certidões relativas ao processo "Face Oculta" estavam a chegar às «bochechas» (e não aos bochechos, como simpaticamente quis emendar a TSF). "Digamos" que é um lapsus linguae compreensível num processo com esta designação.

Da tomada de posse à toma da vacina

Foto encontrada aqui
Dois comentários me suscitam as imagens que vi hoje na televisão:
- atendendo à existência de algumas dúvidas quanto aos reais efeitos secundários que esta vacina pode ter não terá sido contraproducente acompanhar a inoculação com o disparo simultâneo de dezenas de flashes?
- ainda bem que esta vacina é ministrada no braço!

O que é feito da Declaração Millenium?

E agora, de forma mais séria, a propósito de uma conversa que tive hoje, parece-me que vale a pena relembrar uma questão que constitui uma preocupação para as Nações Unidas, mas que, em muitos países, é uma situação corrente: falo do analfabetismo feminino, cuja diminuição está associada uma baixa dos níveis de subnutrição, da mortalidade infantil e da propagação de doenças como a SIDA bem como uma alteração positiva da situação económica. Os números são na ordem dos milhões de crianças do sexo feminino que são desencorajadas de ir à escola ou mesmo impedidas de o fazerem, a maior parte das vezes por motivos económicos e religiosos. Esta realidade, que nos parece estar tão longe, era comum ainda há umas décadas em Portugal. E já sabemos que os problemas ao nível planetário afectam-nos a todos. Para o bem e para o mal, assim é a globalização.



Esta declaração, assinada em 2000, por 189 países, mantém-se activa mas a meta de 2015, para obtenção, por exemplo, da paridade escolar parece muito distante.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Está a apetecer-me ser feminista

Hitchcock terá dito que era possível resumir todas as histórias a isto: um rapaz encontra uma rapariga.
E digo eu, porque não: uma rapariga encontra um rapaz?

Como disse?

Mais uma vez não resisto a partilhar aqui o excerto de um texto de um crítico, Rocha de Sousa, desta vez, acerca de uma exposição de pintura de Fátima Mendonça (que encerrou no dia 7):

"Fátima Mendonça atravessa um mar de escolhos de preciosíssimo apelo. Primeiro talvez sejam fios enleados, como algas do fundo das lagoas não sei onde, mas nas suas mãos o milagre torna os fios cabelos de sereia e depois linhas de pó, de riscos gerados pelos pastéis de óleo. Na formação inicial da pintora, que antecede naturalmente as próprias algas, houve os cinzentos de espaços teatrais, a menina-mulher e o cão-lobo, em diversas encenações a que só Becket poderia dar vida. Digo isto com alguma nostalgia mas por esse mundo imagístico, depois transformado em cozinha caseira de fazer bolos, pudins inenarráveis, com a memória de menina mulher cravada neles e declaradas em frases carregadas de non-sense ou óbvias de gulodice, uma gelatina diversa do habitual, flutuando nas entranhas e coroas dos bolos, à flor da gelatina que trazia consigo o desejo e outros apetites perversos."
Jornal de Letras, 21 Outubro-03 Novembro 2009

Este é só o primeiro parágrafo de um texto que se prolonga por mais quatro no mesmo tom e que, ou bem que se conhece a fundo o trabalho anterior desta artista, ou então, como eu, apenas se retém a expressão "frases carregadas de non sense". Ou serão frases "óbvias de gulodice"?

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O muro e os muros

"O muro caiu por causa de uma gafe". É este o título desta notícia que nos lembra que hoje o Canal História inicia um ciclo de documentários dedicado ao 20º aniversário da queda do muro de Berlim.
Com tantas notícias, nos últimos dias, sobre este aniversário, sexta feira ao jantar, a minha filha mais velha perguntou-me "ó mãe, mas afinal que muro é esse?". Eu lá lhe tentei explicar as razões da sua construção, o que implicou a sua existência e as razões da sua queda. E aproveitei para lhe falar de outros muros construídos ao longo da História.
O que já não consegui explicar tão bem foi quais as justificações para se continuarem a construir tantos muros hoje em dia.

A hora do holandês

E porque nem só de Benfica vive o homem (neste caso a mulher) aqui deixo a minha homenagem a Mitchell van der Gaag por ter conseguido que o Marítimo superasse bem a demissão do anterior treinador, por saber falar tão bem português, por aparentar uma humildade que só lhe fica bem e por ser uma figura tão agradável de se ver no universo dos treinadores em Portugal. (OK, está bem... e por ter contribuído para deixar o Porto um bocadinho mais para trás).

Foto retirada daqui

"A hora dos franceses"

O final de tarde estava pouco convidativo para sair de casa. Mas para ouvir o violino de Augustin Dumay devemos sempre arranjar vontade. Foi o que fiz e não me arrependi. Mais uma vez este senhor mostrou que não é por acaso que se tem um curriculum como o seu.

domingo, 8 de novembro de 2009

Uma (e mais uma) das razões/poemas porque gosto de Mia Couto

A propósito do último comentário do Manuel Gouveia lembrei-me deste poema:

Desleitos

Recuso o leito.
Quero dormir
onde não tenha cabimento.

O problema da cama
é que, tal como no caixão,
ganhamos o tamanho da tábua.

Para sonhar,
prefiro o inteiro chão.

Tenho a sede
do embondeiro:
ao invés de beber,
eu engulo o chão inteiro.

E, já agora, acrescento outra razão, esta suscitada por recentes polémicas:

Avesso Bíblico

No início,
já havia tudo.

Mas Deus era cego
e, perante tanto tudo,
o que ele viu foi o Nada.

Deus tocou a água
e acreditou ter criado o oceano.

Tocou o chão
e pensou que a terra nascia sob os seus pés.

E quando a si mesmo se tocou
ele se achou o centro do Universo.
E se julgou divino.

Estava criado o Homem.


in Mia Couto, idades cidades divindades, Caminho, 2007

sábado, 7 de novembro de 2009

Gostava de poder sentar-me neste céu!


É preciso olhar a realidade

© João Pina

A Kgaleria fica mesmo ali, quase no final da R. da Vinha, em Lisboa. Foi lá que vi hoje a exposição de fotografias de João Pina feitas na "Cidade Maravilhosa", mas aquela que os turistas fotografam de longe, a dos morros que, de noite, com as suas luzes, quase parecem presépios. O nome da exposição é GANGLAND e o texto de apresentação pode ser consultado aqui. E são os membros dos gangs e os "policiais" que os perseguem que são retratados, bem como outros residentes em favelas onde a dureza do quotidiano é esmagadora. Também as fotografias, como a realidade, nos esmagam.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Os Amigos são para as ocasiões

Em 21 de Outubro, no Tribunal Administrativo e Fiscal de Sintra, foram ouvidas testemunhas (9 para 9 buracos) ligadas ao dono da obra e à elaboração do projecto do campo de golfe do Estádio Nacional, que apresentaram a defesa desse projecto, no âmbito da providência cautelar interposta pelos AMIGOS DO ESTÁDIO NACIONAL, que se lhe opõe. Os principais pontos contestados por estes últimos têm vindo a ser alterados e o juiz ordenou que fosse entregue documentação, cuja análise foi já entregue ao Tribunal pelo que o processo terá uma decisão, provavelmente, no final de Novembro.
Não se sabe qual será a decisão. Dificilmente será contra o Instituto do Desporto de Portugal e a Federação Portuguesa de Golfe, pelo menos no que respeita à 1.ª fase do projecto. Vamos aguardar. Mas, por enquanto, esta acção já deu alguns frutos mostrando que não é impossível exercer uma cidadania activa, para lá da simples conversa de café.

Os Jornalistas

Considero a profissão de jornalista de uma importância vital. São eles que nos transmitem aquilo que acontece e que, não raras vezes, nos chamam a atenção para coisas que, de outro modo, não saberíamos, não conheceríamos.
O poder da comunicação social é, por isso, enorme. São eles, no caso os editores, nos jornais, nas rádios, nas televisões, que decidem quais as notícias que nos vão dar e de que forma as vão transmitir. E nós, aos jornalistas, não os elegemos para formarem a nossa opinião. No entanto é quase sempre isso que acontece. Estamos habituados a desconfiar das palavras dos políticos e a acreditar nas dos jornalistas.
Quantas vezes, ao longo da história, as atitudes de determinados jornalistas não condicionaram a forma como determinado assunto se desenrolou. E se alguns casos nos são dados a conhecer, até através do cinema, a verdade é que são, normalmente, aqueles em que o trabalho jornalístico consegue desvendar uma teia de corrupção, um escândalo financeiro ou político. Deixam-se para trás muitas situações em que, por causa de um trabalho descuidado, a vida de determinadas pessoas foi irremediavelmente alterada, de forma negativa.
Ora é por isso que, embora comum a todas as profissões, a responsabilidade de um jornalista tem de ser levada ao extremo. E nós devemos exigir esse comportamento responsável. Na realidade esse rigor, que deveria ser uma qualidade sempre presente, está frequentemente, ausente.
Na minha vida profissional sempre que foram transmitidos dados à comunicação social, no caso jornais, aquilo que foi publicado não correspondia ao que tinha sido dito; eram coisas sem importância mas sempre me fez desconfiar do que leio, ou pelo menos relativizar. Acredito que a maior parte das vezes não se cometem erros deliberadamente mas sim por falta do tal rigor e zelo profissional.
Lembrei-me disto a propósito da entrevista que Bárbara Reis, a nova directora do jornal Público, deu esta semana a Carlos Vaz Marques, no programa Pessoal&Transmissível da TSF, na qual contou a sua experiência de ter sido, entre 2000 e 2002, porta-voz da missão de Paz das Nações Unidas em Timor Leste, chefiada na altura por Sérgio Vieira de Mello. Nessa qualidade, segundo disse, não era raro as notícias que eram postas a circular não corresponderem ao que era transmitido aos jornalistas. Esperemos que, por tudo isto, a direcção do jornal Público dê prioridade ao tal rigor de que tanto precisamos.
Jean Daniel, jornalista há décadas, que considera o jornalismo o ofício mais belo do mundo e que esteve recentemente em Lisboa para apresentar o livro, Com Camus – Como aprender a resistir, dizia numa entrevista, ao JL: “o poder de denegrir de que um jornalista dispõe é incrivelmente forte e incrivelmente injusto. É um poder enorme. Os limites desse poder são por vezes não independentes… O poder de um jornalista é a sua própria consciência. Já uma vez escrevi … que o jornalismo é o fruto da delação e da impostura. Porquê da delação? Porque estamos incumbidos de transmitir qualquer coisa a outrem e essa tal coisa, por assim dizer, não está presente, o que é uma forma de delação. Uma vez dei uma conferência a jovens jornalistas e disse-lhes que todos os dias, no momento de escreverem, devem desconfiar. Têm de ser contra a delação. Por exemplo, não se meterem na vida privada das pessoas, não publicarem coisas não confirmadas… A impostura? Essa acontece quando pedem ao jornalista que trate de um assunto que ele não conhece. O jovem jornalista deve evitar ambas as situações se quiser tornar-se um homem e praticar um ofício de homem.”

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Trabalhar ao som de música...

não é nada de extraordinário. Mas da maneira que vi hoje sim. É, pelo menos, inusitado. Num prédio da R. D. Pedro V, em Lisboa, um operário da construção civil retirava, pela varanda do 1.º andar, barrotes de madeira que eram recebidos por um colega de trabalho que estava na rua. Na varanda do lado duas grandes colunas debitavam, com um som altíssimo, ópera (que eu não identifiquei) e que chamava a atenção de todos quantos passavam na rua, cujos olhares se detinham na cena. Os dois trabalhadores pareciam estar contentes e até orgulhosos.

O centro de dia ou a universidade?

Já todos sabemos do aumento do número médio de anos que vivemos. Já sabemos também que esses anos vividos a mais, comparando com o que acontecia não há muito tempo, são cada vez mais saudáveis. Apesar dos problemas associados ao envelhecimento, cada vez mais estudados e conhecidos, e do aumento do número de anos de trabalho, vai sobrando, por enquanto, algum tempo que felizmente os mais velhos vão aproveitando de forma mais ou menos inovadora.
A propósito da realização do congresso das universidades da terceira idade já li e ouvi hoje alguns dos "kotas" que não se conformam em passar os dias frente à televisão a ver programas com o nome das respectivas apresentadoras e que preferem aprender coisas novas ou reaprender o que entretanto já foi esquecido. O Sr. Silvestre é um deles.
Pelo que me apercebo têm surgido ultimamente um número considerável de universidades da terceira idade. Mas parece-me que falta aqui algum controle uma vez que a qualidade exigida, no que toca a formadores e assuntos abordados, não está a ser acompanhada como deveria ser. Num daqueles folhetos, distribuídos na rua, a fazer publicidade a uma universidade destas, aparecem como "finalidades: cursos humanísticos, desportivos, artísticos, visitas de estudo, tertúlias poéticas, concertos e festas académicas". E as disciplinas, para todos os gostos, incluem 4 línguas estrangeiras, Direito, História, Literatura Portuguesa, Nutrição e Saúde, Psicologia, Sociologia, Canto Coral, Tuna, Cavaquinhos, Segréis, Informática, Pintura Impressionista, Artes Decorativas, Yoga, Ginástica, Tai-Chi, Teatro, Tapetes de Arraiolos, Conferências, Visitas de estudo e Viagens, entre outras.
Muitas vezes a funcionar em locais com poucas condições, não raramente, está na boa vontade dos formadores, muitos voluntários, prestar um bom serviço a quem procura estes locais de ensino. E se há muitos que estão ali para passar o tempo e conhecer pessoas novas também há os que têm mesmo empenho em aprender.
Para já podem contar com o "Magalhães para idosos" que, como se pode ler, para além das características específicas do equipamento, apresenta conteúdos específicos para idosos. Sempre gostava de saber que conteúdos serão estes... De repente vêm-me ao pensamento alguns mas são disparatados de mais.

Ver e ouvir os comboios

O Rui Ribeiro, que trabalha em audiovisuais, mandou-me este pequeno filme sobre uma das estações da Linha de Cascais: a da Cruz-Quebrada, que aqui partilho. E neste site há mais filmes a ver.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Da imunidade parlamentar à imunidade gripal

Já não basta a discutível questão de saber se os "elementos insubstituíveis" dos partidos deverão ser considerados prioritários na vacinação contra o vírus H1N1. Não sei se foi um erro na publicação da notícia ou se a subdirectora geral da saúde terá mesmo dito a última frase, que, a ser verdade, merece um prémio: os partidos "fazem parte da nossa democracia e devem ser vacinados". Vacinar os partidos? E porque não pasteurizá-los? (lembrei-me da crónica de hoje do Bruno Nogueira). Mas como isto não vai lá com uma vacina eu proponho que, em vez de tomarem a Pandemrix, os elementos dos partidos sejam mergulhados num caldeirão da "poção mágica". Se o efeito for o esperado teremos finalmente hipóteses de lutar contra os "nossos romanos". E eles são tantos.

...every time it rains, you're here in my head...

Finalmente o Outono! Parece que vamos poder guardar a máquina.

Uma verdadeira "santanete" nunca perde a pose

Hoje, pela hora de almoço, algumas pessoas retiravam rolos de cartazes e outros objectos que terão sobrado da campanha de Santana Lopes, da sua sede, junto ao Príncipe Real. De entre eles uma mulher se destacava. Alta, com o cabelo apanhado, usava um vestido vermelho, pelos joelhos, com uma grande abertura atrás. Os sapatos, muito altos, fariam pensar que o transporte dos objectos não seria uma tarefa fácil. Mas o à-vontade que demonstrava, apesar do simbolismo da situação e do inusitado traje, não a traiu.

Combustível

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

That was it!

Dada a minha condição de mãe, tive que trocar a ida ao CCB por uma ida ao cinema, que já estava programada há alguns dias, para ver (com três miúdos de 9, 10 e 11 anos) o filme/documentário sobre a preparação dos concertos que Michael Jackson daria a partir de Julho deste ano.



A sala tinha bastantes crianças que, no final, não se coibiram de bater palmas e que vibraram com a música e a dança que saltavam do ecrã. Apesar de não ser realmente um filme pareceu-me haver um fio condutor entre as diversas cenas e esse fio era a presença de MJ, num registo humano e de anti-vedeta que não é a imagem que muitos associavam à sua figura.
Curiosamente, não pude deixar de fazer um paralelismo com o poema de ontem. É que a independência de que falava Jorge de Sena, aplica-se perfeitamente a este MJ que se recusou, ao longo da sua vida, a ser o que lhe parecia estar destinado a ser e as verdades que, à partida, pareciam acabadas mas que, no entanto, ao recusar-se a morrer, recusou a vida.

domingo, 1 de novembro de 2009

Ser independente é recusar

Caso estivesse vivo Jorge de Sena faria amanhã, dia 2, 90 anos (e não 80). É por isso que este domingo, no CCB, vai haver uma evocação da sua obra, da qual faz parte este poema:

Independência

Recuso-me a aceitar o que me derem.
Recuso-me às verdades acabadas;
recuso-me, também, às que tiverem
pousadas no sem-fim as sete espadas.

Recuso-me às espadas que não ferem
e às que ferem por não serem dadas.
Recuso-me aos eus-próprios que vierem
e às almas que já foram conquistadas.

Recuso-me a estar lúcido ou comprado
e a estar sozinho ou estar acompanhado.
Recuso-me a morrer. Recuso a vida.

Recuso-me à inocência e ao pecado
como a ser livre ou ser predestinado.
Recuso tudo, ó Terra dividida!

Jorge de Sena, in 'Coroa da Terra'