terça-feira, 13 de maio de 2014

Corda da roupa (2)

Uma rua que já teve dias de bulício quando era por ali que se ia para o estaleiro de construção e reparação de barcos que cruzavam o Tejo. Agora não se vê qualquer movimento e os únicos sons que ouvimos, nesta tarde de primavera, são os das cigarras. Algumas casas modestas, de um piso só e muros brancos que dão para terrenos que já foram hortas e que agora poucos cultivam.
Num desses muros, presa por dois pregos, uma corda. As molas, que parecem fortes, seguram uma dúzia de peças de roupa. Vista de longe é apenas roupa que alguém deixou a secar e que apanhará logo que esteja enxuta. Quando nos aproximamos vemos que, na realidade, se trata de roupa que foi estendida há muito tempo. Está seca, suja de pó, sem cor. Parece que alguém se esqueceu dela ali ou então, sem atender a afazeres domésticos, a morte chegou sem avisar, levando a única pessoa que a poderia apanhar. 

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