sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Perseverança

Teria uns 10 anos. Seguro, para a sua idade, aproximou-se e ali ficou. Talvez tivesse sido atraído pelo grupo de seis miúdas sentadas na relva, talvez pelos cães que todas seguravam pelas respectivas trelas. Imediatamente começou a falar. De si, do seu irmão com quem se zangava muitas vezes, da sua casa. Elas, umas mais novas, outras mais velhas que ele, primeiro ignoraram-no. Ele não desistiu. Falava, ora olhando para uma, ora para outra, depois uma terceira, procurando um sinal que não vinha. Até que uma delas resolveu passar ao ataque: "vai-te embora! Não vês que não estamos interessadas nessa conversa?" O miúdo pareceu surpreendido. Mas não deu parte de fraco. Respirou fundo e recomeçou. A situação repetiu-se várias vezes. Até que elas, talvez cansadas ou talvez puxadas pelos cães, se foram levantando e se afastaram. Ele ficou sentado a olhá-las.  

Dúvidas incompreensíveis

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A bicicleta cor-de-rosa

De um dos lados um grande carro preto, não reparei na marca, brilhava de tão limpo. Do outro lado, um outro carro, este cinzento, gritava: "vá, admirem-me!". No entanto era ela que atraía todos os olhares. Tinham-na amarrado ao poste de um sinal de trânsito. Permanecia ali, altiva, resistente. Estava pintada de um cor-de-rosa forte. Assente na parte de trás, uma caixa de madeira, das que se usam normalmente para a fruta. Estava vazia. Mas não era difícil imaginá-la cheia de cor.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Foi há uns dias atrás

Um autor ambicioso...

(Este post não é publicidade)
Há uns dias atrás o Daniel falava da publicidade na RTP ao livro de José Rodrigues dos Santos. Hoje, em vários pontos da cidade, me deparei com a cara do senhor, sobretudo em montras de livrarias. Ao primeiro olhar parecia que a televisão estava ligada e tinha chegado a hora do telejornal pois a parte visível do corpo era exactamente a que vemos nos programas de informação. À saída da estação de comboios, dois rapazes, vestidos com o que pareciam ser fardas da guarda do Vaticano, seguravam um grande cartaz a anunciar o lançamento da obra. Era totalmente despropositado até porque a amena cavaqueira dos jovens retirava seriedade ao acto de guardar um segredo. Fiquei logo sem vontade nenhuma de conhecer "O último...". Mas devo perder uma grande obra que, segundo o autor, procura “a verdadeira identidade de Jesus Cristo”. Muito bem. Quem quiser ler o livro até ao fim depois conte-me...

sábado, 22 de outubro de 2011

"...per l'alto mare aperto"

Felizmente já o tenho. Vindo directamente de Itália. Falo do novo disco de Vinicio Capossela, todo dedicado ao mar. 



Mais informações aqui.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O saldo

Sentou-se ao meu lado no metro, vestida com um traje tipicamente africano. Na mão trazia um talão do multibanco. Passado um pouco pediu-me para lhe ler, porque não tinha óculos, o saldo. Eu li: 22 euros e 20 cêntimos. Ela agradeceu. Não disse mais nenhuma palavra. Mas até sair vi-a limpar, por várias vezes, as lágrimas que corriam pelo seu rosto.

A inversão do provérbio

Dá Deus dentes a quem não tem nozes.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O seu nome não era João

Não sabemos o seu verdadeiro nome. Desta vez, muito bem, o jornal preservou a identidade da família e do próprio. Sabemos que tinha 19 anos. Dizem-nos que era um exemplo. Para o seu irmão, para os seus colegas. Para todos nós. Alguém que, dadas as dificuldades à sua volta, conseguia fazer a diferença deverá ser merecedor dos maiores elogios. Da minha parte, que já conheci alguns miúdos como o "João", sei que os dias ficarão muito mais imperfeitos sem ele.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Uma das razões/poemas porque gosto de Rui Tinoco

nesta época de tempestades, o que é
possível acrescentar? já dobrei, 
estiquei e dividi o recolhimento.
soprei, uma a uma, as sombras
das minhas mãos. poisei as 
mãos em cima da mesa,
perguntando-me: «para que serve
o homem?», não sei que dizer...
e se um de vós souber,
o que é que saberá?

in Rui Tinoco, O Segundo Aceno, Águas Santas, Edições Sempre-Em-Pé, 2011, p. 22

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Uma palavra muito feia

Estas coisas das campanhas, já se sabe, valem o que valem. Mas quando, a uma causa maior se alia um trabalho bem feito, fica tudo mais interessante. Por isso...



E já agora em francês...

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Quinta-feira, 13 de Outubro, ao final do dia

Saiu do supermercado com dois sacos de compras, um em cada mão. Não mais do que isso. À sua volta rodopiavam carrinhos quase cheios, empurrados por mulheres bem vestidas e com sapatos de salto alto. Dirigiam-se para os seus automóveis reluzentes e jipes que nunca viram uma estrada de terra. Algumas exibiam penteados elaborados recentemente por cabeleireiros e unhas bem tratadas. Mas o que mais a feriu foram os sorrisos, sorrisos de quem, aparentemente, não pretende vir a ser tocado pelas dificuldades. Aproximou-se do seu carro, que utiliza para transportar as crianças e pouco mais. Há já algum tempo que pensa no que fará quando ele deixar de trabalhar. Sabe que não terá possibilidades de comprar um novo. Sentou-se ao volante. Não chegou a pôr a chave na ignição. Lembrou-se do que tinha ouvido na rádio há uns minutos atrás. Encostou a cabeça ao banco e chorou. Chorou com um misto de raiva e pena de si própria. Sabia que este cenário poderia vir a tornar-se real. Mas perante o facto consumado reagiu como se lhe tivessem dado um murro no estômago. Não que pensasse que não conseguiria sobreviver nos anos mais próximos. Mas porque, até àquele momento, não tinha conseguido chegar mais longe. 

"The future was wide open"

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

E antes que acabe o dia... Parabéns Mr. Simon

Espero que ainda esteja "crazy after all these years"

Um momento alto televisivo

Horário nobre das 20 horas. Eu vi no telejornal da RTP mas estavam lá outras televisões. Na tentativa de obter um depoimento de Isaltino Morais sobre a recusa do último pedido de recurso, interposto junto do Tribunal Constitucional, os repórteres deslocam-se ao local onde o presidente da Câmara de Oeiras está prestes a inaugurar um conjunto escultórico de Pedro Cabrita Reis. Durante um tempo, que em televisão é precioso, assistimos aos cumprimentos entre os convidados para a inauguração, às conversas meio segredadas, e às instruções para alguém telefonar a um vereador que, pelos vistos, estava atrasado. Finalmente lá chegam à fala com Isaltino que, como seria de esperar, não diz nada de novo. E nem a escultura consegui ver!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Ver e fotografar

A minha máquina fotográfica está a ser reparada e por isso não tenho hipótese de ir tirando umas fotografias por aí. A fotografia digital tem destas coisas. Tiramos fotografias sem olhar a quantidades, sem ajustar qualidades, confiando que, em 10 ou em 20, alguma há-de escapar. Mas a ânsia de fotografar não se poderá sobrepor ao prazer da observação não mediada pela lente. A não ser em situações especiais, por exemplo, profissionalmente, este deverá vir em primeiro lugar e só depois dispararemos. 
Vem isto a propósito de ter visto hoje, novamente, naqueles autocarros de turismo que percorrem as ruas da cidade, alguns turistas que, com a preocupação de não conseguirem registar tudo, não largam as câmaras fotográficas ou as de filmar que, à altura dos olhos, não lhes permitem ver ao vivo, tudo o que verão mais tarde, no ecrã do computador.
Fazer o registo "para mais tarde recordar" é importante. Mas viver os locais também me parece indispensável.

sábado, 8 de outubro de 2011

Bem vivos!

Estive para ir hoje vê-los ao Sport Clube Intendente. O programa prometia. Não fui. Mas aqui fica um "aperitivo" para o último álbum:



E entretanto um tema anterior: 

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Um processo natural

"Envelhecer é, em si mesmo, um processo natural e um homem de 65 ou 75 anos, desde que não queira ser mais jovem, será tão saudável e normal como um de 30 ou de 50. Infelizmente nem sempre estamos de bem com a nossa idade, no nosso íntimo é frequente andarmos adiantados, mas ainda mais frequente é sermos apanhados e ultrapassados - a consciência e a disposição íntima estão menos amadurecidas do que o próprio corpo, reagem contra as suas manifestações naturais, exigem dele algo que este já não consegue cumprir."

in Hermann Hesse, Elogio da Velhice, Algés, Difel, 2003, p. 51

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Praça do Município, 2011

Eu sei que os tempos não estão propriamente para comemorações mas não deixa de ser impressionante a quantidade de pessoas que, mesmo com o feriado no dia seguinte, passa por aqui e não percebe porque é que os Paços do Concelho estão engalanados.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Em tempos de GPS um mapa de bolso muito avançado...

A dificuldade vai ser não o deitar fora, confundindo-o com algum papel que já não serve. Este é muito útil e já não é preciso perder tempo a desdobrá-lo e a dobrá-lo cada vez que chegamos a um cruzamento onde parece que já passámos há 10 minutos atrás; nem temos que o guardar sempre que chove. Este é de Lisboa mas já há de 12 cidades.

Imagem retirada daqui.

Comentar não está fácil

Até podia não haver quem quisesse deixar qualquer comentário por aqui. Mas a verdade é que, devido a um problema que ainda não identifiquei, todos os que têm tentado fazê-lo, nos últimos dias, não têm conseguido. Espero que a coisa se solucione. Até lá, espero que desculpem.