quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Postal ilustrado e em movimento

No seu percurso turístico, Woody Allen passou por Roma. Visitou os monumentos mais importantes; dirigiu actores italianos, uns mais conhecidos, outros menos; deu um papel a uma espanhola que fez bem de italiana; trouxe a Itália alguns actores americanos; fez uma homenagem a alguns realizadores italianos; abordou alguns temas muito actuais de forma crítica; deu-nos a conhecer algumas árias de ópera. Isto chega para fazer um bom filme? Não, nem pensar. 
Uma encomenda que uma entidade ligada ao turismo poderia ter feito. Terá sido o município de Roma a pagar tudo?
Lisboa não será tão cedo um episódio nesta série dedicada às cidades da Europa. Não que não exista interesse. Mas é que a crise torna difícil pagar um postal ilustrado e em movimento deste género.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Resolvam lá isso!

Sou benfiquista. Desde que me lembro. E desde sempre que a rivalidade com o Sporting é algo inerente à condição de benfiquista. Os jogos entre as duas equipas sempre foram momentos com alguma magia. Tal como acontece noutras cidades, em Lisboa, amigos, vizinhos da mesma rua, casais, namorados, em tudo o mais unidos, em dia de jogo, torcem cada um pelo seu clube. Nos dias a seguir aos jogos, nos cafés, os temas de conversa vão sempre aí parar e as discussões são, muitas vezes, bem acaloradas. Mas, ultimamente, isso já não acontece. Vemos, sim, os adeptos de outros clubes a consolarem os sportinguistas pelos maus resultados e pela situação complicada em que se encontra o clube. E assim não tem graça nenhuma. Por isso, vá lá, caros dirigentes do Sporting, a bem do equilíbrio da cidade e dos seus habitantes, esta benfiquista pede-vos: resolvam lá isso!

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Olhares que não se cruzam

Gosto do Largo do Regedor, em Lisboa. Tem uma dimensão muito simpática, os edifícios são interessantes, o espaço público está bem cuidado.  Em relação aos frequentadores é heterogéneo o suficiente para ter uma amostra de vários elementos de diferentes camadas da sociedade. Ocupando os degraus das traseiras do Teatro Nacional encontramos os sem-abrigo que ali vão dormindo, comendo, estando. Em fila, que começa do outro lado do teatro, os taxistas esperam os clientes. À espera, também, estão os motoristas de carros novos, grandes e luzidios ali estacionados e que ocupam grande parte do largo, sob o olhar protector do agente da polícia, de serviço ali na esquadra. Esperam que saiam, pela porta mais discreta, aqueles que, depois de um almoço cujo preço eu só posso imaginar (que o Gambrinus não é de fazer menus económicos) se sentarão naqueles estofos limpos e a cheirar a novo.
Interessante é notar que, se no caso dos sem-abrigo tem havido um aumento do seu número, já a quantidade de carros para onde entram os que acabam de sair do restaurante não parece diminuir, antes pelo contrário. E se o olhar dos primeiros segue estes últimos, quem sai de barriga cheia não olha à sua volta.

sábado, 20 de outubro de 2012

Os poetas também morrem

Os poetas também morrem. Essa é a sua principal falha: não terem aprendido a trocar as voltas à morte. Tudo o resto eles sabem fazer.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Como míscaros, os homens

Vento sul-sudoeste fraco; céu nublado. Tempo de míscaros. Matérias orgânicas que alastram nos muros e nos fossos, bolores negros, lodos, fungos, vidas persistentes, possuídas de uma animação vegetal crescendo sobre a decomposição, sobre a ruína, nos lôbregos refegos da terra, nos podres esconsos, nos charcos parados, debruados de lamas. Como míscaros, os homens parecem brotar na rua, ressumar das pedras, pardos e cor de azebre, cor de pão de rala, com as suas faces vazias, as mãos que são como raízes impregnadas de água.

in Agustina Bessa-Luís, Contos Impopulares - Míscaros, Guimarães Editores, 2004, pág. 15

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O partido, os automóveis e o agradecimento que se impõe

Fantástica a forma como uma conhecida marca automóvel francesa aproveita a boleia que lhe é dada por um partido político português! No meio disto tudo ficam a ganhar algumas empresas construtoras de automóveis (umas directamente, outra através da publicidade grátis). Parece que nós também ganhamos alguma coisa porque esta solução é mais económica que a que existia e por isso sai-nos mais barata a democracia. Conclusão: temos todos que estar agradecidos ao tal partido. A verdade é que, com este assunto, pelo menos temos estado menos concentrados no que se prevê que venha a ser o OE para o próximo ano. Da minha parte obrigadinha...

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Crianças que brincam

O arco pendurado entre dois edifícios é um resquício das festas do Verão na cidade. O nome do bairro e fado são duas palavras que sobressaem. Por baixo dele duas meninas brincam. Correm de um lado para o outro. Escondem-se numa porta, saltitam no passeio... Falam uma língua que não reconheço e vão compondo os seus véus que esvoaçam.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Um adeus duplo ao feriado

A última vez que se comemora o 5 de Outubro num feriado (pelo menos nos próximos anos) e eu tenho que ir trabalhar...

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O dinheiro dos outros

A última pessoa que ali esteve não o levou e o talão cai, perto da caixa multibanco. A mulher pega-lhe e fica a olhar para ele. Está sentada no chão. E ali ficará. Até que a sua barriga de grávida comova pessoas suficientes e as moedas deixadas  no copo compensem as cãibras que sente.