quarta-feira, 25 de abril de 2012

A esta hora há 38 anos atrás...

Por vezes no Facebook surgem ideias muito interessantes. Esta do Centro de Documentação 25 de Abril, da Universidade de Coimbra é, sem dúvida, de louvar.

Miguel Portas

O pai foi meu professor quando passei pelo ISCTE. A mãe é minha colega de blogue, no Delito de Opinião. Miguel Portas já não assistirá a este 25 de Abril. Mas a ele e a tantos como ele devemos este dia. Por isso as homenagens e as palavras tão consensuais, acerca das suas qualidades, não serão de mais. Mas nada como os amigos para transformarem esta perda num momento de esperança.  

terça-feira, 24 de abril de 2012

O meu primeiro livro

Foi o meu primeiro livro. Uma edição de "O Capuchinho Vermelho", com desenhos que, ao abrir as páginas, se projectavam para fora das folhas. Liam-mo o meu avô, o meu pai, a minha mãe. Eu aprendi-o de cor. De tal forma que, com requintes de seriedade, o recitava enquanto os olhos seguiam as frases e as páginas eram viradas no momento certo, deixando boquiabertos os que viam tal proeza numa criança tão pequena. Eu não sabia ler. Mas tinha orgulho nessa exibição que, quando desmascarada, arrancava sempre uns sorrisos. 
Outros se seguiram e quando deixei de precisar de ajuda para descobrir as histórias que os livros continham, eles tornaram-se os meus melhores amigos. 
Não sei onde anda esse livro cuja lombada não resistiu e foi desaparecendo, deixando à vista os desenhos dobrados no interior. Gosto de pensar que não está perdido e que um dia o encontrarei e que, tal  como nessa altura, o conseguirei ler de olhos fechados.  

sexta-feira, 20 de abril de 2012

A D. Ilda

A sala é grande, grande de mais para ela que, talvez numa tentativa de se aconchegar, escolheu um canto afastado das janelas, para colocar a cama estreita e pouco confortável. Tapa-se com as mantas, num Abril que trouxe o frio que Março já tinha feito esquecer. Deitada sobre ela, a gata partilha o calor que mal lhe chega. Por todo o lado, na casa, objectos variados mostram-nos que ali funcionou um cabeleireiro. Numa das paredes, num cartaz já meio desbotado, uma modelo sorri. A D. Ilda, cega, não a vê. Nem o móvel com espelho, colocado mesmo ao meio, tem agora qualquer função. 

terça-feira, 17 de abril de 2012

Pegar e tocar

Olhar o rio

Olha o rio que está estranhamente agitado numa manhã tão calma.  Algumas caixas vazias pelo chão molhado mostram que o peixe já por lá passou. Mas agora a lota está deserta. Só ele permanece à porta, no lado que a sombra torna mais fresco, sentado numa cadeira de plástico. Está imóvel e os seus olhos estão fixados no rio. Parece esperar.

terça-feira, 10 de abril de 2012

É preciso ver...

Há alguns anos que as minhas filhas têm óculos para quando vêem televisão ou estão no computador.  Foi um oftalmologista que os receitou. Mesmo assim, esquecem-se muitas vezes de os usar. Ao longo das suas vidas escolares fizeram alguns rastreios, do género que é falado nesta notícia, mas sempre com autorização expressa dos pais. O que vai para lá disso não deixa de ser mais um caso de abuso por parte de empresas que transformam o marketing mais aguerrido em futuros possíveis problemas de saúde. Tal não sucedeu connosco. Mas não deixo de partilhar alguns desejos de feliz aniversário que recebemos alguns anos, por parte das ópticas onde os óculos foram comprados. 
Dizia um: "na manhã sorridente do dia do seu aniversário, estamos consigo para partilhar a felicidade de ter ganho à vida mais um ano de esperança"; e outro, "no dia do seu aniversário sugerimos-lhe que peça à memória que lhe traga apenas a lembrança dos dias felizes da sua vida passada". Ora, para além do piroso da coisa, o discurso não parece nada adequado a destinatários de 10 e 9 anos, respectivamente. É até um pouco assustador. Acho que não volto a comprar lá óculos.

domingo, 8 de abril de 2012

A infância de Brel



No dia em que também ele faria anos.

Para a M.

A infância está a ficar para trás. A adolescência ganha terreno. É exactamente nesta altura que percebes o quanto cresceste. Que começas a perceber que, como dizias ontem, o tempo passa muito depressa. Que aquilo que todos vivemos é irrepetível. Chegar mais perto de ser adulto é querer olhar para o que já passou e perceber que aquela da fotografia eras tu mas entretanto já és outra. É saber que se aproximam tantas primeiras vezes. Umas que acontecerão e outras que talvez venham a acontecer. Mas é a possibilidade que, por enquanto, enche os sonhos. E os sonhos também contam. Mesmo que só mais tarde o venhas a saber.

Óbvio

- Oh, mãe: estou quase a fazer 12 anos e ainda não viajei para o Canadá!
- Canadá? E porquê o Canadá?
- Ora, para ver os alces! 

M., 11 anos

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Sim, às vezes...

- Mãe, às vezes não te apetece ir para a janela e ficar ali a ver a vida?

M., 11 anos

"Porque se disse Como não disse?"

Depois das notícias desta quinta-feira terem agravado ainda mais o nosso estado de preocupação face ao que se avizinha fica-se com mais vontade de aguçar a nossa veia contestatária. 
Nada melhor, então, do que ouvir este Projecto Alvará que nos lembra os anos mais aguerridos de Sérgio Godinho. Ora atentem lá às letras do disco "Não é tarde, Nem é certo".

E para ilustrar aí vai um tema bastante a propósito de algumas coisas que se dizem e desdizem.. 

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Opiniões de génios...

A propósito de uma coisa que ouvi hoje lembrei-me de ter lido, em tempos, um excerto de uma carta onde Mozart descreve ao pai a que viria a ser sua mulher, Constanze.  Fui à procura e encontrei. Isto da internet é uma maravilha... 
"Não é feia e até chega a ser bela. Toda a sua beleza consiste em dois pequenos olhos pretos e numa bela figura. Não tem espírito, mas bom senso suficiente para ser capaz de cumprir os seus deveres de mulher e mãe. Não é dada ao luxo, longe disso - pelo contrário está habituada a andar mal vestida. (...) É verdade que ela gostaria de andar mais bonita e asseada, mas sem se distinguir. E a maior parte da roupa que uma mulher precisa ela é capaz de fazer sozinha. E também arranja o cabelo sozinha todos os dias. Sabe governar a casa, tem o melhor coração do mundo - eu amo-a e ela ama-me de todo o coração - diga-me se poderia desejar uma esposa melhor?" (Viena, 15 de Dezembro de 1781).

terça-feira, 3 de abril de 2012

Parece tão simples...

E é. Não é preciso complicar para fazer uma grande canção.



Podem ouvir-se todas as músicas do novo álbum aqui

Uma das razões/poemas porque gosto de Albano Martins

Como se fosses o mar

Antigamente
era assim: bastava
o voo duma ave
para te arrepiar a pele. Agora
os navios cortam
a linha de água e nem
um leve sobressalto
te percorre os rins.

in Albano Martins, Escrito a Vermelho, Porto, Campo das Letras, 1999, p. 79