Sou daquelas pessoas (ou serei mesmo só eu?) que consideram a política uma nobre ocupação. A ideia de alguém se dedicar a pensar na melhor forma de resolver problemas que nos afectam a todos sempre me fez olhar os políticos como pessoas diferentes do resto dos cidadãos e que deveriam merecer o nosso respeito.
Considero, no entanto, que a escolha de uma carreira política quase nunca é baseada em motivos altruístas. Ou porque a família já possuía capital político, ou porque algum acontecimento na vida pessoal levou alguém a inscrever-se num partido, ou porque as organizações juvenis partidárias têm uns programas engraçados que levam os miúdos a inscreverem-se… Enfim as hipóteses são múltiplas. Mas aquilo que é verdadeiramente importante não é a forma como se chegou lá (desde que não seja de forma ilícita). É o que se faz com o poder que, inevitavelmente, se adquire quando se está em determinadas situações.
Se não me engano, foi logo no primeiro ano da faculdade que li um pequeno (mas só no tamanho) livro de Max Weber, “O Político e o Cientista”, que, ainda hoje, considero uma obra fundamental e a que recorro com frequência (a minha edição deste livro é a da Biblioteca Universal da Editorial Presença, Lisboa, de 1979).
Trata-se do conjunto de dois textos publicados, pela primeira vez, em 1919 e cujas ideias tinham sido previamente apresentadas numa conferência dirigida a estudantes em Munique.
Do primeiro, A política como vocação , porque as ideias nele contidas continuam válidas e sempre actuais, vou deixar uns excertos de vez em quando. Para começar:
“Que entendemos por política? O conceito é extraordinariamente lato... Por política entenderemos apenas a direcção ou a influência sobre a direcção de uma associação política ou seja, no nosso tempo, de um Estado (pág. 8)…
a política significará… a aspiração a participar no poder ou a influir na distribuição do poder entre os diversos estados ou, dentro de um mesmo Estado, entre os diversos grupos de homens que o compõem. (pág. 9).
Quem faz política aspira ao poder; ao poder como meio para a consecução de outros fins (idealistas ou egoístas) ou ao poder pelo poder, para desfrutar o sentimento de prestígio que ele confere. (pág. 10)
Pode fazer-se política,… como político ocasional, como profissão secundária ou como profissão principal. … Políticos ocasionais somos todos nós quando depomos o nosso voto, aplaudimos ou protestamos numa reunião política, fazemos um discurso político ou realizamos qualquer outra manifestação de vontade de natureza análoga. Para muitos homens, a isto se reduzem as relações com a política. Políticos semi-profissionais são hoje, por exemplo, todos os delegados e dirigentes de associações políticas que, em geral, apenas desempenham essas actividades em caso de necessidade, sem viver principalmente delas e para elas, nem no plano material nem no espiritual… (pág. 18)
Há duas formas de fazer da política uma profissão. Ou se vive “para” a política ou se vive “da” política. Os opostos não se excluem absolutamente. Pelo contrário, fazem-se geralmente as duas coisas, pelo menos idealmente; e, na maioria dos casos, também materialmente. Quem vive “para” a política faz dela a sua vida num sentido íntimo; ou goza simplesmente com o exercício do poder que possui, ou alimenta o seu equilíbrio e tranquilidade com a consciência de ter dado um sentido à sua vida, pondo-a ao serviço de algo. Neste sentido profundo, todo o homem sério que vive para algo, vive também desse algo." (pág. 20)
Analima,
ResponderEliminarÉ interessante que, há alguns meses, escolhi um outro excerto deste livro de Max Weber, que publiquei, salvo erro, sob o título "Vaidade e Poder".
Há textos que são sempre pertinentes.
Um abraço.
Viva
ResponderEliminaré realmente interessante, no entanto acho que no nosso país só vai para a politica quem não se safa em mais nada, não sinto que nenhum dos que lá está se esforça a sério por melhorar o país. São todos uns vendidos aos Bilderberg's, interesseiros, andam lá 8/10 anos na ansia de um tacho chorudo quando sairem e nada mais.
No outro dia li um artigo sobre um politico Sueco que após 20 anos de politica continua a ir ao parlamento deles de metro, é um sério defensor do povo e da sociedade, se ao menos nós tivéssemos meia dúzia como ele...
Cumps,
Maria Josefa: tem razão. Há textos que nunca devem deixar de ser lidos.
ResponderEliminarlunatik: parece-me que existirão algumas excepções ao que diz. Mas concordo que o problema é a situação de poder. É difícil não sucumbir à tentação de pensar só em si e esquecer quem os elege. Mas o texto continua e deixa-nos algumas pistas. Brevemente continuarei também a citá-lo.
ResponderEliminarBom D++++
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