sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Os Jornalistas

Considero a profissão de jornalista de uma importância vital. São eles que nos transmitem aquilo que acontece e que, não raras vezes, nos chamam a atenção para coisas que, de outro modo, não saberíamos, não conheceríamos.
O poder da comunicação social é, por isso, enorme. São eles, no caso os editores, nos jornais, nas rádios, nas televisões, que decidem quais as notícias que nos vão dar e de que forma as vão transmitir. E nós, aos jornalistas, não os elegemos para formarem a nossa opinião. No entanto é quase sempre isso que acontece. Estamos habituados a desconfiar das palavras dos políticos e a acreditar nas dos jornalistas.
Quantas vezes, ao longo da história, as atitudes de determinados jornalistas não condicionaram a forma como determinado assunto se desenrolou. E se alguns casos nos são dados a conhecer, até através do cinema, a verdade é que são, normalmente, aqueles em que o trabalho jornalístico consegue desvendar uma teia de corrupção, um escândalo financeiro ou político. Deixam-se para trás muitas situações em que, por causa de um trabalho descuidado, a vida de determinadas pessoas foi irremediavelmente alterada, de forma negativa.
Ora é por isso que, embora comum a todas as profissões, a responsabilidade de um jornalista tem de ser levada ao extremo. E nós devemos exigir esse comportamento responsável. Na realidade esse rigor, que deveria ser uma qualidade sempre presente, está frequentemente, ausente.
Na minha vida profissional sempre que foram transmitidos dados à comunicação social, no caso jornais, aquilo que foi publicado não correspondia ao que tinha sido dito; eram coisas sem importância mas sempre me fez desconfiar do que leio, ou pelo menos relativizar. Acredito que a maior parte das vezes não se cometem erros deliberadamente mas sim por falta do tal rigor e zelo profissional.
Lembrei-me disto a propósito da entrevista que Bárbara Reis, a nova directora do jornal Público, deu esta semana a Carlos Vaz Marques, no programa Pessoal&Transmissível da TSF, na qual contou a sua experiência de ter sido, entre 2000 e 2002, porta-voz da missão de Paz das Nações Unidas em Timor Leste, chefiada na altura por Sérgio Vieira de Mello. Nessa qualidade, segundo disse, não era raro as notícias que eram postas a circular não corresponderem ao que era transmitido aos jornalistas. Esperemos que, por tudo isto, a direcção do jornal Público dê prioridade ao tal rigor de que tanto precisamos.
Jean Daniel, jornalista há décadas, que considera o jornalismo o ofício mais belo do mundo e que esteve recentemente em Lisboa para apresentar o livro, Com Camus – Como aprender a resistir, dizia numa entrevista, ao JL: “o poder de denegrir de que um jornalista dispõe é incrivelmente forte e incrivelmente injusto. É um poder enorme. Os limites desse poder são por vezes não independentes… O poder de um jornalista é a sua própria consciência. Já uma vez escrevi … que o jornalismo é o fruto da delação e da impostura. Porquê da delação? Porque estamos incumbidos de transmitir qualquer coisa a outrem e essa tal coisa, por assim dizer, não está presente, o que é uma forma de delação. Uma vez dei uma conferência a jovens jornalistas e disse-lhes que todos os dias, no momento de escreverem, devem desconfiar. Têm de ser contra a delação. Por exemplo, não se meterem na vida privada das pessoas, não publicarem coisas não confirmadas… A impostura? Essa acontece quando pedem ao jornalista que trate de um assunto que ele não conhece. O jovem jornalista deve evitar ambas as situações se quiser tornar-se um homem e praticar um ofício de homem.”

10 comentários:

  1. A Autoridade para a Comunicação Social deveria ter um corpo de profissionais responsável por qualificar e avaliar anualmente jornais e jornalistas segundo o mérito ou demérito objectivo da sua actividade noticiosa. Assim, a opinião pública ia sendo animada ou envergonhada pela opinião sobre os que tendem a influenciar a sua própria opinião... Não há motivo para que a corporação dos jornalistas não seja julgada como todas as outras.

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  2. começa a faltar na comunicação social o jornalismo pelo jornalismo.

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  3. Analima,
    Gostei muito desta sua reflexão, que eu fiz a 19 de Sembro no «Restolhando», não por palavras minhas mas citando quem estudou os meandros da comunicação social, o Dr. Rogério Santos, professor universitário e investigador nesta área, sobre "jornalistas e fontes", e onde ele expõe como as coisas funcionam.
    Um abraço.

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  4. vbm: com efeito desconheço o sistema de avaliação dos jornalistas. Suponho até que, a existir, será criado e aplicado em cada um dos órgãos de comunicação social de diferentes formas, criando até alguma arbitrariedade. Mas a verdade é que, se consultarmos o Código Deontológico dos Jornalistas Portugueses, por exemplo no sítio do sindicato dos jornalistas, vemos que, se ele fosse aplicado, seriam evitadas muitas confusões. Claro que o código deontológico não é tudo. A respeito pode ler-se este texto em http://dn.sapo.pt/inicio/interior.aspx?content_id=1003141

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  5. Daniel: não sei se alguma vez existiu o jornalismo pelo jornalismo. Na realidade nenhuma notícia existe por ela própria. Há sempre pessoas envolvidas, há sempre ideias que se transmitem, mesmo que não de forma explícita. Mas acho que percebo o que quer dizer. O problema é que também os jornalistas são pessoas. E com a formação cada vez mais exigente que têm é normal terem cada vez mais opiniões e não se limitarem a debitar notícias que são também, elas mesmas, cada vez menos claras.

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  6. Maria Josefa: isto só significa que andamos todos preocupados ou, pelo menos, curiosos com estas questões. É que, de facto, cada vez mais é a comunicação social que determina a forma como pensamos e nos comportamos. E a maior parte das pessoas não questiona o que lê, o que ouve ou o que vê, o que deveria ser feito.

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  7. A senhora Bárbara Reis devia estar caladinha sobre a sua permanência em Timor-Leste durante o triste "reinado" de Sérgio Vieira de Melo.
    E por que não salientar tantos que aldrabam os jornalistas?

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  8. jes: obrigada pelo seu comentário.
    Relativamente a Bárbara Reis, pelo que percebo, possui outras informações que eu não tenho pelo que não posso falar sobre o assunto.
    Em relação à questão que coloca tem toda a razão. Nem sempre as informações prestadas aos jornalistas são correctas. Umas vezes porque, na ânsia de querer dizer alguma coisa, os que transmitem informações acrescentam palavras, histórias, números, … Outras, por tentativa de manipulação. Mas o jornalista deverá tentar, sempre, validar essas informações. De qualquer forma a minha perspectiva, a de que não podemos considerar como factos provados tudo o que a comunicação social noticia, parece-me mais reforçada ainda, com a introdução deste elemento de dúvida, anterior à elaboração da própria notícia, e é válida para todos os outros aspectos da vida. É preciso interrogarmo-nos sempre pois, perante qualquer questão, nunca há apenas um lado.

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  9. jes: obrigada pela referência no "seu jornal".

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  10. A minha, pouca, experiência com jornalistas, coincide com a tua, Ana, em que a mensagem transmitida acaba por vir deturpada na notícia escrita. Foram coisas sem importância de maior, mas... E, por vezes, é tão simples quanto isto, por dominarem mal a sua própria língua, sobretudo escrita, e a falta de cultura geral, certos jornalistas invertem o sentido das frases que foram proferidas pelos entrevistados, com as consequências, quantas vezes nefastas, que daí advêm. Brio profissional é coisa que, infelizmente, começa a rarear. Em todas as áreas.

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