O gato era ainda pequeno. Mesmo assim parecia à vontade no meio daquele amontoado de objectos que, cheios de pó, se acumulavam em prateleiras um pouco improvisadas e no chão. À nossa entrada deslocou-se para uma posição em que nos podia ver mas que nos dificultava, a nós, a tarefa de o descortinarmos no meio dos cestos de vime, dos artefactos de madeira, das cadeiras artesanais, dos potes de vários tamanhos, que podíamos imaginar cheios de outros potes mais pequenos e outros artigos dirigidos aos turistas que, mesmo não sendo muitos, lá iam entrando de vez em quando. O Sr. Fernando estava sentado numa dessas cadeiras. Não fez qualquer menção de se levantar. Provavelmente por perceber que seríamos mais uns que acabariam por não comprar nada. Mesmo assim ainda perguntou: “de onde são?”, menos como interesse estatístico e mais como forma de conversar com alguém. A tarde estava quente e dentro da loja estava-se muito bem. Por isso foi fácil responder e ficar um pouco por ali. “Ah, de Lisboa?” e acrescentou: “eu trabalhei 42 anos em Lisboa”. Da conversa que se seguiu pude perceber que desses 42 anos guardava uma nostalgia que o acompanhava sempre. A sua vida tinha mudado muito desde que tinha voltado para a sua terra. A agitação da cidade estava agora muito longe. Mesmo nos meses em que a loja permanecia fechada as deslocações para fora da aldeia eram raras. Aquela era a sua terra mas a recordação dos dias felizes passava por outro lugar.
Sem comentários:
Enviar um comentário