sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Calçada da Bica Grande

Do interior, muito claro, nenhum barulho nos chega. Agora a tesoura e a navalha passam a maior parte do tempo pousadas, em cima do móvel com espelho, onde já muitos se olharam. Nem do pássaro preso na gaiola, junto à janela, sabemos se ainda canta.

De bata azul, sempre muito limpa, a fumar, o barbeiro passa a maior parte do dia à porta. Os clientes, velhos conhecidos, continuam a passar por ali, descendo as escadas mais devagar. Mas agora é cá fora que dão dois dedos de conversa. Será a falta de dinheiro que os leva a entrar tão poucas vezes? Ou será a vontade de não se confrontarem consigo próprios? É que, lá dentro, o espelho é o mesmo. Eles é que não.

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