“Cruz de madeira vestida com aspecto de boneca, associada a cultos de fertilidade, utilizada para afastar o perigo das trovoadas”.
Várias destas bonecas, em miniatura, perfilavam-se no parapeito da janela de uma casa abandonada situada no percurso para o castelo. Era aí que a D. Maria interpelava os turistas que passavam. O mesmo fez comigo: “desculpe, senhora, não quer comprar uma bonequinha para as suas meninas?” O ar frágil dos seus 70 e muitos anos fez-me parar e dar dois dedos de conversa. “O meu marido está doente, sabe? Está de cama acolá naquela casa” e apontou para uma rua mais abaixo. “E a reforma é tão pequena que, para ajudar a comprar os medicamentos, à noite faço estas bonecas que vendo aqui.” Podia até nem ser exactamente assim. Mas, enquanto conversávamos, não pude deixar de reparar que o seu cabelo cinzento se confundia com o granito que ali imperava, quer nas enormes pedras que definiam o traçado das ruas, quer em blocos, constituindo as paredes das casas. A verdade do granito confundiu-se então, também, com a de quem nele se camuflava. Comprei-lhe duas bonecas.
País triste, o nosso, gente triste. Dia muito triste. Estava a ver se escrevia alguma coisa sobre tudo isto, mas não sai. Gostei de a ler. É bom saber que o sentimento não é só meu.
ResponderEliminarBj
Podia até nem ser exactamente assim, tens razão em teres achado que isso não importava... alguém se abriu por momentos em calor humano, numa história que era a sua, sonhada, vivida ou simplesmente inventada!
ResponderEliminarNicolina: é um dia triste, sim. Mas quando escrevi o post não era minha intenção relevar nada negativo na situação. Lendo o seu comentário percebi que essa é uma leitura plausível :)
ResponderEliminarÉ isso mesmo, Manuel. Muitas vezes as histórias podem não ser verdadeiras mas se as pessoas as sentem como suas a sua veracidade acaba por ficar provada. :)
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