terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Lhasa de Sela (1972-2010) (2)

Foi sobre ela o meu primeiro post, com a etiqueta música, que fiz aqui nos dias imperfeitos. Nesse dia tinha comprado o seu último disco, “Lhasa”. Comprei-o sem precisar de o ouvir antes. Sabia, desde o primeiro, que ela não me desiludiria. E não o fez, de facto. Ainda mais melancólico que os anteriores, tem textos lindos, todos da sua autoria. Eu não sabia mas, na altura, já a doença a afectava.

Hoje, na TSF, voltou a passar uma entrevista, já de Janeiro de 2005, onde Carlos Vaz Marques, sempre brilhante, a leva a contar-nos pormenores da sua vida e do seu pensamento. Naquela altura ela nunca tinha ido a Lhasa, capital do Tibete, cujo nome, ao ser lido pela sua mãe, cinco meses depois de a filha ter nascido, a fez decidir-se. Os seus pais, “hippies radicais”, como disse, não a levaram à escola até aos 13 anos. No entanto parece ter aprendido tudo o que é realmente importante.

A palavra filosofia foi muitas vezes utilizada. Contou-nos que já nasceu triste, nostálgica, melancólica e que as questões sobre a morte e a vida sempre ocuparam o seu pensamento. Disse que a música triste não lhe trazia tristeza e que, com os anos, tinha aprendido que a vida é dura, para a maior parte das pessoas e que, por isso, era mais fácil a tristeza. Mais difícil era ser alegre.

A sua visão do mundo permitia-lhe falar das fronteiras entre países como uma tentativa de proteger uma determinada cultura, mas que, simultaneamente, os fecham, os tornam mais pobres. Também no caso das pessoas, as fronteiras existem e, para Lhasa, devíamos ter a capacidade de as defender sem exércitos. Por isso não compreendia a palavra inimigo.

Quando Carlos Vaz Marques lhe perguntou, dada a sua visível melancolia, se se sentia mal no mundo ela respondeu que não. Pelo contrário amava a vida e gostava muito de viver nesta época.Que isto nos sirva de consolo.

Numa das canções do último disco ela dizia:
"I can wait another year or two
But not one moment more"

Lhasa de Sela não voltará a cantar as canções que encheram já os nossos dias imperfeitos. Mas os seus discos estão aí para nos acompanhar em muitos dos que ainda temos para viver.


7 comentários:

  1. Pois é, Spark! E a verdade é que she "got caught in a storm".

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  2. Morrem cedo aqueles que os deuses amam, disse Fernando Pessoa quando Sá Carneiro morreu.

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  3. Meditação do Duque de Gandia sobre a morte de Isabel de Portugal


    Nunca mais
    A tua face será pura limpa e viva
    Nem teu andar como onda fugitiva
    Se poderá nos passos do tempo tecer.
    E nunca mais darei ao tempo a minha vida.

    Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
    A luz da tarde mostra-me os destroços
    Do teu ser. Em breve a podridão
    Beberá os teus olhos e os teus ossos
    Tomando a tua mão na sua mão.

    Nunca mais amarei quem não possa viver
    Sempre,
    Porque eu amei como se fossem eternos
    A glória, a luz e o brilho do teu ser,
    Amei-te em verdade e transparência
    E nem sequer me resta a tua ausência,
    És um rosto de nojo e negação
    E eu fecho os olhos para não te ver.

    Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

    Sophia de M. B. Andresen

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  4. Vera: obrigada pela sua visita. Belo poema que aqui deixou. Nunca nos habituaremos a ver desaparecer quem tem tanto talento e ainda tanto para dar.

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  5. Obrigada AnaLima. Poe me teres apresntado esta excelente música. J

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