Não, não vou falar do blogue do cão sem raiva.
Mas, a propósito do texto de ontem, achei que fazia sentido falar deste conjunto de sintomas que os médicos identificam como fazendo parte de um transtorno obsessivo compulsivo que leva, quem dele sofre, a acumular objectos velhos ou lixo, na ilusão de que ele fará falta ou é mesmo imprescindível. Muitos de nós sofrem, a uma escala não patológica, deste fenómeno. O coleccionador não está muito longe deste quadro. Mas quando a casa onde se vive está cheia, e quando digo cheia é mesmo cheia, de coisas que não servem para nada, que apresenta cheiro nauseabundo, de forma a ser um real problema de saúde pública, torna-se uma questão grave. (Ver também aqui)
Por razões profissionais já, por várias vezes, me deparei com situações destas. As pessoas que sofrem de síndrome de Diógenes, filósofo grego que viveu grande parte da sua vida como um mendigo, são normalmente idosas, sem distinção de sexo ou grupos económicos, vivem sozinhas e demonstram uma negligência extrema com a higiene, a alimentação, a saúde e a habitação. Algumas deixam de poder circular em algumas zonas da casa, de dormir nas suas camas, porque não conseguem lá chegar. Quase não saem, têm uma má relação com os vizinhos e uma desconfiança sem limites face aos “outros”. Qualquer tentativa de alterar a situação é muito mal recebida.
Quem estuda estas situações refere que há muitos casos de indivíduos com um percurso profissional bem sucedido e inteligência acima da média. Até agora ainda não foi possível perceber as razões que levam alguém, em determinada fase da vida, a adoptar comportamentos deste tipo. Confesso que é um tema que me intriga bastante. Mas a mente humana é mesmo complexa e, em certos casos, inexpugnável.
Também é um tema que me intriga bastante. O que leva o ser humano a encher a sua casa de «lixo»? A não ser capaz de deitar fora uma simples embalagem de iogurte? O jornal? A torradeira avariada? O velho televisor?... Não sofro desse mal. Mas levo muita coisa para a minha casa da blogosfera. Nesse sentido, podemos dizer que estou «doente». E no fundo talvez tenhamos todos um pouco do síndroma quando coleccionamos selos, moedas, pedras, insectos, caixas de fósforos, pacotes de açucar, cachimbos, penicos, etc, etc. A verdade, mesmo, é que o coleccionador é um sofredor, e tem consciência disso: quer sempre mais e mais e mais!
ResponderEliminarObrigado pela referência.
:)
cão sem raiva: sempre gostei do nome do seu blogue exactamente pela analogia com esta questão do encontrar coisas com significado e querer guardá-las. Mas com a sua "doença" nós podemos bem e na sua casa nunca vi "lixo". :)
ResponderEliminardescobri uma amiga com este problema, nem sei ainda como vou resolver sem ela ter conhecimento, estou chocadíssima...
ResponderEliminarCara anónima: pelo (pouco) que sei sobre este assunto não é nada fácil abordar estas situações. Em Portugal existem, na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, equipas interdisciplinares que fazem uma avaliação e que encaminham as situações mas a sua intervenção está dirigida a casos de pessoas sós, após serem alertados por vizinhos, por exemplo. As intervenções, nestes casos, são muito demoradas e, não raras vezes, acabam com a institucionalização. Para começar, se a pessoa em questão tem familiares ou amigos, como parece ser o caso, penso que estes devem tentar informar-se sobre esta patologia. Uma vez que nem todos os médicos estão sensibilizados para ela não será fácil encontrar quem efectivamente ajude. Mas o médico de família ou um psicólogo poderão dar algumas pistas.
ResponderEliminarDe certa forma o meio ambiente agradece já que os nossos aterros sanitarios estão insustentaveis.
ResponderEliminarVivo com uma pessoa assim, é inutil fazer alguma coisa. Abandonar o barco, fará com que naufrague, e se agrave a doença. É muito triste, ver a degradação de um familiar sem poder fazer nada. Tudo é importante, tudo é preciso.Não há espaço para as pessoas habitarem nem o espaço faz sentido, pois não se vêem os seus limites..a higiene é escassa..O espaço comum está sempre a ser invadido de tralha, que urgentemente tem que se eliminar para que haja diferença na forma de se habitar.
ResponderEliminarDeve ser bastante complicado, sim. Pelo que sei, quando se tenta, não há muitos casos de sucesso. Talvez com o avanço do estudo por parte de psiquiatras e psicólogos, acerca desta patologia, seja possível melhorar alguma coisa. Espero que a situação em que vive melhore também.
EliminarObrigada Analima, pelas palavras de conforto :)
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