quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

A felicidade na sociedade do hiperconsumo (3)

A conclusão de Gilles Lipovestsky é que apesar do crescente domínio tecnológico não podemos controlar a felicidade, conceito múltiplo mas que todos reconhecemos como associado a uma certa alegria por estar vivo. A análise da felicidade escapa à matriz que normalmente utilizamos. Claro que a qualidade de vida objectivamente aumentou. Mas quando pensamos na vida subjectiva o padrão é completamente diferente. Sem dúvida que, ao contrário do que muitos ainda dizem, são os que se dizem mais pobres os menos felizes. Mas a verdade é que, à medida que somos mais ricos, não somos mais felizes. Os bens materiais dão-nos felicidade até um determinado limite, a partir do qual já não o fazem.

Quando se cruza a questão do consumo com a da felicidade facilmente nos apercebemos que o excesso do primeiro é criticável ao torná-lo um fim da existência em si mesmo. Ao viver para consumir há uma parte dessa vida que é desperdiçada nesse acto que não nos traz compensações, de forma proporcional. O consumo só fará sentido enquanto um meio. O objectivo principal do homem deve ser sempre pensar, progredir, ultrapassar-se.

Mas como reduzir a “paixão consumista” quando tudo à nossa volta nos empurra para tal? Lipovestsky pensa que não será a razão que irá subjugar a paixão mas sim uma nova paixão. Devem ser apresentadas aos indivíduos outras paixões, outros centros de interesse que, consoante as situações, podem ser o trabalho, a política, a arte ou outros. Interessa, acima de tudo, dar a capacidade aos seres humanos de viverem para lá do consumo, criando um novo equilíbrio, uma “ecologia da vida”. Mas para isso há que ter instrumentos. E é aí que o papel da escola se apresenta como fundamental. Perante a mundialização do consumo somos impotentes. Mas na educação temos margem de manobra. É por isso aí que deve ser concentrado o investimento.

“Impõe-se constatar que o nosso poder sobre as coisas segue uma curva exponencial, mas o nosso poder sobre a alegria de viver mantém-se muito fraco. As chaves que abrem as portas da felicidade não progridem, teimando em escapar ao controlo dos homens. Manifestamente, o projecto de poderio ilimitado dos modernos atinge aqui os seus limites.

Sem pessimismo, nem optimismo radical: resta-nos viver tendo a consciência de que a felicidade é o enigma indomável, imprevisível, inultrapassável de hoje como de amanhã.” (*)

(* Excerto do texto distribuído na conferência)

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