sábado, 23 de janeiro de 2010

A felicidade na sociedade de hiperconsumo (2)

(continuação)

Fim dos constrangimentos espacio-temporais ao consumo – actualmente consumimos em contínuo, em todo o lado e a toda a hora. O tempo da vida social alterou-se e o hiperconsumo implica a comercialização quase integral da vida. Uma das questões fundamentais e completamente recente, em termos históricos, é o consumidor internauta que não tem praticamente limites. Mas o conforto material obtido com o consumo já não chega. Os consumidores querem emoções. A exigência de qualidade chega em simultâneo com a de quantidade. A preocupação estética, com o design dos produtos está cada vez mais na ordem do dia. Nunca como hoje a decoração das habitações, dos jardins privados, a procura de serviços oferecidos para “cuidar do corpo”, em SPA’s, etc. constituíram áreas de consumo tão importantes.

Indiferença face ao futuro – perante o longo termo a atitude geral é a de não querer saber da degradação contínua da biosfera. Apesar dos desafios ecológicos e energéticos estarem na ordem do dia, a consciência dos males causados pelo hiperconsumo não é ainda significativa pelo que este tem ainda tendência para continuar sem que os alertas de quem luta pela sustentabilidade tenham eco real. (Ler a propósito este post).

“Qualquer que seja a intensidade das críticas apontadas à sociedade de hiperconsumo esta ainda só se encontra nos primórdios, sendo o cenário mais provável vir a alargar-se à escala do planeta numa época em que não há nenhum sistema alternativo credível. Nem os protestos ecologistas, nem as novas formas de consumo mais sóbrio, nem os «alterconsumidores» serão suficientes para pôr cobro ou travar a fuga em frente da mercantilização da experiência e dos modos de vida.” (*)

Depois de apresentar estes traços gerais, Lipovestsky avaliou então a sociedade no que respeita à “felicidade”. Segundo a sua opinião, vive-se uma situação paradoxal: vivemos cada vez mais tempo. Mas nem sempre isso nos torna mais felizes. O tempo do não trabalho diminui, a vida sexual é mais longa mas o stress negativo, mesmo a esses níveis, vai sempre aumentando.

A realidade é que, se em termos económicos, a dinâmica de crescimento é exponencial, a percepção da felicidade não cresce ao mesmo ritmo. Muitos convencem-se que a verdadeira solução é uma revolução interior e aderem aos movimentos que defendem que devemos mudar por dentro e assim, no mundo ocidental, temos cada vez mais seguidores do Budismo ou da “New Age”. Mas GL defende que ninguém possui a felicidade. Somos incapazes disso. A posse das coisas é só um dos elementos a ter em conta. Como ser incompleto, o homem precisa dos outros para ser feliz e não o será na sua individualidade. No entanto é fundamental ter sempre presente que não há felicidade perfeita. Na vida de cada um de nós há momentos de felicidade mas não existe o conceito de uma vida feliz.

“A sociedade de hiperconsumo é a da «felicidade paradoxal». Relativamente aos anos de 1960, consumimos o triplo da energia, contudo ninguém pode sustentar que somos três vezes mais felizes. Quanto mais se multiplicam as fruições privadas mais se afirmam as frustrações da vida íntima, as ânsias e as depressões, as desilusões afectivas e profissionais. As insatisfações próprias progridem proporcionalmente às satisfações proporcionadas pelo mercado.

O «trágico» da nossa época radica na dinâmica da individualização e em novas aspirações de vida feliz; quanto mais se afirma a exigência de felicidade privada, mais crescem, inevitavelmente, as insatisfações e desilusões de todo o tipo.” (*)

(* Excerto do texto distribuído na conferência)

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