domingo, 3 de janeiro de 2010

As gasolineiras e a (sua contribuição para a) emancipação feminina

Se há coisa que sempre me custou fazer foi pôr gasolina no carro nas bombas que têm “self-service”. E não é só por achar que são mais alguns postos de trabalho que se perdem. A verdade é que aqueles gestos, necessários à colocação da gasolina no depósito, sempre me foram tão hostis que sempre procurei bombas de gasolina onde empregados cumprem essa tarefa.

Tenho sempre a sensação que não vou conseguir abrir o depósito, que a agulheta não fica bem colocada, que a gasolina vai deitar por fora, que quem estiver a assistir se vai rir com a minha falta de jeito… enfim, um sem número de disparates que, no entanto, me deixam sempre atrapalhada e me fazem olhar com grande admiração para as mulheres que o fazem com grande à vontade (e parece-me que não sou só eu porque falei com algumas amigas que me disseram que sentiam o mesmo).

Pois agora o local onde habitualmente punha gasolina mudou de “operadora” e eu, fiel à marca, vi-me obrigada, um destes dias, a abastecer-me numa dessas bombas self-service. Custou-me bastante, é verdade. Mas afinal consegui dar conta do recado sozinha. Que vitória!

Saí de lá com a certeza que me tinha emancipado mais um pouco e percebi que o facto de as gasolineiras, com a valência de serviço incluído, estarem a desaparecer contribui para aumentar o nível de auto estima de algumas de nós.

8 comentários:

  1. Olá,
    Achei piada ao postal, porque eu também tenho inibições do género, até que um dia ouso fazer e aconteça o que acontecer!...É claro que depois sinto essa vitoriazinha. Tem sido assim que vou ultrapassando inibições, ousando fazer...
    Lamentável é tudo que é feito, para ir acabando com postos de trabalho, uma razão também deste desemprego terrível.
    Bjs. BOM ANO,
    Manuela

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  2. Se eu fosse o Freud, diria que há certamente, no bom sentido, um complexo peniano relativamente à mangueira. Mas não sou :)

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  3. lol,

    É o que logo se imagina, Hebron.

    :)

    No entanto, esta questão das ofertas-standard, seja de serviços, roupas e bens tem aspectos bem delicados porque há minorias - deficientes, doentes, velhos, gordos, crianças, seres imaginativos, criativos e artistas - para quem a extrema normalização de bens e serviços não permite satisfazer as respectivas necessidades materiais ou espirituais... Em tudo, há sempre minorias. Há que ser delicado. É uma questão de civilização, pelo menos tão importante quanto a da eficácia racional.

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  4. Bom augúrio nessa tua vitória para início de 2010. Nada como enfrentarmos o dia-a-dia sem mostrar medos. E se falharmos e se se rirem de nós... who cares?

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  5. Manuela: afinal esta inibição é comum a muitas mulheres. Parece-me que, tal como diz o Rui, temos mesmo que meter o Freud ao barulho.
    Um bom ano também para si. E o que é feito do Light?

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  6. E qual seria o mau sentido, Rui? Bem, Freud iria certamente mais longe na sua análise (aliás, ao escrever o segundo parágrafo não pude deixar de fazer algumas associações que nitidamente remetem para a sua teoria da sexualidade) mas, provavelmente, tem razão. E o que me preocupa é que sinto que, da próxima vez, as minhas dificuldades serão as mesmas. Acho que só com uma maior prática as vou ultrapassar. :)

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  7. Eu logo vi que a descrição daqueles gestos não seria indiferente a todos. :) E agora, mais seriamente, Vasco, tens toda a razão. Há situações que, se para nós são simples de ultrapassar (ou mais ou menos simples), para outros constituem barreiras intransponíveis.

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  8. Ah, António! Quem me dera ser capaz de dizer "who cares" com mais frequência.

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