quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Democracias Imperfeitas ou as descrenças de Vasco Graça Moura

Vasco Graça Moura é uma figura pública. Escritor, poeta, tradutor e conhecido militante social democrata. É por isso normal que a comunicação social lhe dê espaço e tempo para expressar as suas opiniões.
No entanto, se, no que diz respeito às suas posições sobre o Acordo Ortográfico, até concordo, de forma geral, com o que defende, não posso deixar de expressar o meu repúdio pela forma como tem manifestado as suas opiniões sobre os resultados das últimas eleições legislativas.
De facto, nos seus artigos do DN e hoje, em declarações à TSF, VGM excede-se bastante ao pôr em causa os eleitores que, no dia 27, ao votarem, o fizeram em maior número no PS que, por isso, deverá formar governo, comparando-os até aos que, em 1932, elegeram Hitler.
Todos concordamos com a frase de Winston Churchill “a democracia é o pior de todos os sistemas à excepção de todos os outros” e todos sabemos que, nem sempre as escolhas feitas em determinada altura, se revelam as mais acertadas. Mas é exactamente para isso que existem diversos mecanismos, nomeadamente um fundamental que é a convocação de novas eleições, caso tal se revele necessário. O Presidente da República poderá sempre tomar essa decisão. Não seria aliás a primeira vez. Mas, provavelmente, para VGM, essa não poderá ser a decisão pois seriam novamente os “analfabetos políticos” a pronunciarem-se.
Pois é, ao contrário de VGM, que conseguiu, ao longo da sua vida, alfabetizar-se politicamente, há muitos portugueses que passaram a vida inteira sem ter essa oportunidade. O elitismo agora demonstrado só pode ter a ver com o facto de, à força de tanto estudar os clássicos, VGM acreditar numa democracia à maneira grega em que apenas alguns homens (cidadãos) tinham direito a participar na vida pública. E parece-me que já percebi quem seria um dos demagogos (orientadores do povo).
Mas a verdade é que, por muito que isso custe a VGM, nesta nossa “imperfeita” democracia todos os votos valem o mesmo.

5 comentários:

  1. Confesso que não consigo ler Vasco Graça Moura, porque não consigo dissociar a escrita do indivíduo, cujas posições políticas me são muito distantes. (Em tempo li o romance que venceu o Prémio do APE e fiquei estupfacto, tal a banalidade do mesmo.) De qualquer forma seria de esperar de um "homem culto" um outro tipo de raciocínio e linguagem: é que este tipo de crónica panfletária com linguagem rasca e raciocínio tolhido, leva-nos a pensar se não estaremos perante um caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde.

    ResponderEliminar
  2. E eu confesso que, de Vasco Graça Moura, nunca li nenhuma obra, à excepção de alguns poemas soltos. De alguma forma admiro o seu espírito aguçado e até a coragem de escrever o que escreveu sabendo que iria ser zurzido de todo o lado. Mas é isso mesmo que nós devemos fazer quando o Mr. Hyde se revela.

    ResponderEliminar
  3. Muito bem dito, Analima!
    Estou a aplaudir.
    Um abraço.

    ResponderEliminar
  4. O sr VGM que de vez em quando ressuscita do arquivo da gerentologia politica, não percebe que a democracia deste país e pelo seu discurso à TSF, mais parece um elemento do MRPP na decada de 70.

    O sr VGM não gosta de "paprika", pois tem razão, trata-se de um condimento que não fará parte dos mais utilizados na cozinha mediterrânica, onde porventura só MFL é que possui o toque culinário para elaborar a "açorda" governativa deste país, e participar nos festivais gastronómicos "gourmet" que VGM gostaria de ter o prazer de "degustar".

    O que fica deste discurso de incontida falta de respeito democrático e de respeito pelos cidadãos deste país, é um pouco preocupante, pois pode revelar o estado de espirito de muito outros sequazes, onde relativizando as comparações,com projecções que se ouviram na América Latina à alguns anos atás.

    ResponderEliminar