quarta-feira, 17 de março de 2010

Uma das razões/poemas porque gosto de Luís Quintais

D.

No dia da tua morte
o que nos restou cobriu-se
de uma intensidade sem justificação.

Um homem desceu uma encosta,
um jornal dobrado em frente do rosto
protegia-o do fulgor da manhã.

Os semáforos fizeram cair
vermelhos amarelos e verdes
com um diabolismo que lhes não conhecia.

Um homem continuou a descer a encosta,
e a sua indiferença era um acontecimento
maior na história do universo.

As crianças regressavam à escola,
excesso de peso nas mochilas,
foi a notícia do dia.

in Luís Quintais, Canto Onde, Lisboa, Edições Cotovia, 2006, p. 32

8 comentários:

  1. Vendo as coisas de uma certa perspectiva é duro que alguém morra e quase tudo continue igual, que as rotinas não se alterem, etc.
    Mas como poderia ser de outro modo? Se tudo nos dissesse respeito e nos afectasse... rebentaríamos, não suportaríamos a vida.

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  2. Analima,
    ou é pecado meu ou as livrarias que visito não têm normalmente os autores que aqui anuncia e, como sabe, gostei de alguns de que já tomei conhecimento por seu intermédio.
    Normalmente ando pela Barata, pelo Circulo das Letras, pela Bertrand, and so on...e não os encontro.
    Se puder dê-me uma pista.
    Tal como os outros que já publicou, este também é muito bom.
    Um abraço.

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  3. PS.: Já agora, como abri um novo blog, o "João Olhos no Mar" (pode ter o acesso através do "Vermelho") gostaria de ter o sua opinião que para mim é importante.
    Um novo abraço.

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  4. Tem razão, Carlos. Mas é para nos lembrar estas perspectivas que temos a poesia... :)

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  5. Miguel: as livrarias onde entro normalmente são as que refere mais a Bulhosa, a FNAC, e outras, onde calha. Se não me engano este livro de Luís Quintais (nascido em 1968, professor de Antropologia na Universidade de Coimbra) foi comprado na Bertrand do CCB. Mas é uma questão de ir passando e ver o que têm. Refiro, no entanto, uma livraria pequena mas com muita coisa, especializada em poesia que se chama "Poesia Incompleta" e que fica na R. Cecílio de Sousa 11 (perpendicular à R. da Escola Politécnica, mas mais para o lado da Pç. das Flores). O proprietário é muito simpático e ajuda sempre que queremos. Tem edições recentes mas também coisas antigas. E tem um blogue: http://poesia-incompleta.blogspot.com/. Vá lá espreitar!
    Quanto ao "João Olhos no Mar" já lá andei a espreitar mas terei de regressar com mais atenção. :) Um abraço também para si.

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  6. Esqueci-me de referir as livrarias das próprias editoras que têm também muita coisa. A "Assírio e Alvim", que agora tem uma loja no Chiado e a Edições Cotovia (R. Nova da Trindade 24), por exemplo.

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