Eclipses V
Ama de novo a sombra, essa verdade
resistente às palavras.
Ama outra vez as labaredas
à espera de um segredo, da cratera
onde possam arder
já fora do teu peito, muito longe
desse abrigo deserto a que chamavas
coração.
Ama de novo a lama, todo esse
lodo que lava o mundo e que redime
os nossos passos,
o suor tão mal gasto, a primavera
das vozes iludidas, sempre em busca
do primeiro colapso. Cada corpo
justifica outro corpo e alimenta
o sono da cidade, tantas ruas
iguais a cicatrizes que anoitecem
sobre a espuma dos rostos.
Ama ainda essa porta
por onde nunca entraste, o precipício
que alguém escolheu prá tua alma,
e saboreia a queda.
Ama de novo a sombra quando a noite
romper as tuas veias.
in Fernando Pinto do Amaral, A Luz da Madrugada, Dom Quixote, Lisboa, 2007, p. 73
Gosto deste poema de Fernando Pinto do Amaral.
ResponderEliminarPassei por aqui por indicação de outro blogue
e registei-me como seguidor.Conheço Algés,
trabalhei uns anos em Pedrouços.
Virei aqui mais vezes. Cumprimentos/Irene
É um belo poema, sim, Irene. Obrigada pela visita.
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