- Eu, menina, nunca usei calças de ganga.
A conversa tinha começado com o dono do café. Para além dele éramos as únicas pessoas presentes. A senhora, muito bem cuidada, deixando a um canto as minhas calças de ganga e o blusão já com alguns borbotos, continuou:
- E olhe que já tenho 81 anos! Não me leve a mal, a si ficam-lhe bem as calças mas eu experimentei-as uma vez e percebi logo que não era roupa para mim. E olhe que eu, quando era nova, era de fazer parar o trânsito.
Depois de me perguntar a idade e, na sequência da resposta, me ter passado a tratar por senhora, acrescentou:
- Em 1958, quando cheguei a Lourenço Marques, fiquei doente durante 6 meses, o tempo que lá estive. Não conseguia perceber como é que pessoas normais conseguiam vestir aquilo. Aqui, em Portugal, só os varredores das ruas as usavam. Luanda não, Luanda era como Lisboa. Nenhuma diferença! Mas em Moçambique, tão próximo da África do Sul, era de mais.
Para lá da soberba contida na explicação, achei engraçada a forma como defendia o seu ponto de vista.
Depois de algumas palavras trocadas, saí do café. Não sem antes a senhora me desejar muitas felicidades para o futuro e o dono do café me dizer:
- Esperemos que a menina chegue àquela idade assim.
E eu, pensando na idade desta mulher e na forma como se percebia estar bem consigo própria, dei-lhe razão.
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