"De Viva Voz". Era esta a expressão que nos convidava a entrar na sala onde os poetas, sentados por entre o público, ouviam outros poetas ler… poemas, como não podia deixar de ser. E, quando chegava a sua vez, lá se levantavam para, também eles, lerem alguns dos seus.
Foi assim que ouvi Pedro Tamen, Nuno Júdice, Armando Silva Carvalho, Teresa Rita Lopes e Tolentino Mendonça. Mas nem só os consagrados tinham voz. Também alguns poetas mais novos nos mostraram que a poesia, em Portugal, está bem e recomenda-se.
Quando o apresentador, André e. Teodósio, chamou Miguel-Manso lembrou-nos que, fisicamente, havia uma semelhança com Herman Melville. E de facto… Mas o que realmente interessa é a sua poesia e essa vale a pena descobrir. Este foi um dos poemas por si escolhido para ler nessa tarde:
o deus Silêncio ostenta as Inumeráveis
águas nesta apertada livraria de Lisboa
também ainda o primeiro título (poesia) de Manuel
António Pina em ano de revolução que
nesse tempo eram mesmo
a sério as revoluções e podíamos acrescentar-lhes pela rua
o nosso carme as madrugadas flores
agora um amigo diz-me: “esta
revolução não dá um passo!”
concedo, mas não desisto
incorro em certos delicados actos de guerrilha
por exemplo deixo poemas em cafés ou em pequenas
livrarias que ainda apoiam em segredo esta causa
revolucionária
depois mando as coordenadas sigilosas à amada
que no dia seguinte quase sempre
pela tarde os vai buscar
[in Quando escreve descalça-se, Trama, 2008]
Fui "buscar" o poema aqui.
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