Raramente vejo televisão. Não porque não queira mas porque não consigo arranjar tempo para o fazer. Já sei que perco imensas coisas interessantes.
Mas hoje vi parte do Telejornal da RTP. De tudo o que vi (e foi bastante) o tema foi sempre o mesmo: o mau tempo e as suas consequências por todo o país. Depois de se falar das situações em Vila Nova da Barquinha, no Porto, na Régua, em Faro e noutros locais; no início da 2.ª parte, José Alberto Carvalho introduz uma “notícia de última hora”: “e o mau tempo acaba de fazer 3 desalojados, numa derrocada junto a algumas habitações no concelho de Alenquer” (por causa do mau tempo, claro!).
Passando a emissão em directo para o local encontramos a repórter, Daniela Santiago, cuja primeira frase é: “tudo aconteceu às 9 da manhã!”. E lá ficámos a saber que, por volta dessa hora, (há cerca de 12 horas atrás) em Espiçandeira, freguesia de Meca, concelho de Alenquer, uma casa tinha ficado praticamente destruída devido à derrocada de algumas pedras o que tinha obrigado a protecção civil e os bombeiros a selá-la. Tirando uma pequena lanterna do bolso, qual MacGyver, gesto completamente ridículo, pois era a luz da câmara de filmar que iluminava a cena, Daniela Santiago apontou o foco ao interior da casa onde conseguimos ver o mau estado em que tinha ficado a habitação. Mas, quando pensávamos que era ali que vivia a família desalojada, a repórter diz: “ a sorte, neste azar, é que esta casa estava desabitada há dois anos”. Esta introdução era só para criar algum suspense.
Passámos então à casa do lado. Eu já imaginava que não havia duas sem três; afinal era mesmo ali que tinha sido necessário desalojar os residentes. A moradora, Cláudia de seu nome, muito nervosa, contou, numa voz trémula, e quase em lágrimas, o que tinha acontecido. Daniela Santiago, ia fazendo perguntas que já continham a resposta e acabou por dizer que “as pedras só não caíram para o seu quarto por uma sorte do destino”. Cláudia anuiu mas aposto que ainda agora estará a pensar nessa “sorte do destino” que a obrigou a ficar fora de casa não se sabe por quanto tempo.
O directo terminou com a frase: “é o desespero de uma mãe, com um filho de 4 anos” e um grande sorriso para a câmara. Bom trabalho, Daniela!
Assim, com notícias sempre em cima do acontecimento e tão bem documentadas, dá gosto ver televisão.
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