Um exercício muito interessante. É o que tenho dito a quem me tem perguntado o que achei do filme.
A certa altura, a personagem principal, um rapaz na idade a que se convencionou chamar de adolescência, estudante interno num colégio americano, realiza um documentário a que o professor reage de forma muito negativa. Porque o que este esperava do trabalho não se aproxima, nem um pouco, do resultado final. Também António Campos, o realizador deste “Afterschool”, nos apresenta um filme diferente do que poderíamos esperar.
Aquilo que poderia ser o motor de um ataque ao mundo dos vídeos que se podem ver no YouTube ou em sites da Internet, alertando pais, mais ou menos desatentos da realidade, para os “perigos” que neles se encontram é, quanto a mim, apenas uma constatação de que é aquilo que nos rodeia que influencia os nossos comportamentos. E agora não precisamos sair de casa, do nosso quarto ou sala ou de onde for, para sermos testemunhas de cenas, que tanto podem ser reais como encenadas, mas que adquirem enorme importância quando a descodificação não é feita correctamente; quando, não compreendendo tudo o que se vê, não temos ninguém a quem fazer perguntas ou colocar dúvidas, conduzindo, por exemplo, como neste filme, a fenómenos de imitação, com trágicos resultados. E não é só na fase da vida de que nos fala o realizador que isto se passa, mas em todas. Nós sabemos disso por isso não é preciso moralizar nada.
A visão do realizador é conseguida através de corajosos enquadramentos em que, ao contrário do que é habitual, não é todo o corpo que nos aparece, nem sequer o rosto, mas outras partes desse corpo ou apenas os espaços que lhe estão contíguos, em que apenas imaginamos o actor/a personagem. Isso facilita-nos o processo em que podemos preencher o que está em falta como que a dizer-nos que aquelas personagens podiam ser qualquer um de nós. E podiam.
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