sexta-feira, 8 de abril de 2011

A autorização

Os nove meses estavam no fim. No dia anterior o médico aconselhara-lhe:
- Vá amanhã ao hospital ver o que lhe dizem.
Por isso naquela manhã de sábado, dia 8 de Abril, ela foi. Quando a observou, o médico de serviço disse-lhe:
- Pode ir para casa mas, se quiser ficar, com a dilatação que tem, ela nasce hoje.
Os receios da sua mãe cumpriam-se. Quando soubera que ela estava grávida e que a criança nasceria nos primeiros dias de Abril partilhou consigo o receio que tinha:
- Deus queira que ela não nasça a 8 de Abril.
Fazia, nesse ano, nesse dia, 26 anos que o seu pai, avô da sua filha, e bisavô da M. tinha morrido. Era portanto um dia triste e o nascimento da sua neta não devia acontecer num dia triste.
A., que compreendia a importância destas coisas para a sua mãe, antes de dizer ao médico se ficava ou não, fez um telefonema.
- Mãe, o médico diz que ela pode nascer hoje. O que achas? Fico já cá?
- Ó filha, claro que sim, respondeu sem hesitação.
Ela ficou. M. nasceu nesse dia às 22 horas.
A morte e o nascimento lembrados num só dia que nunca mais foi apenas um dia triste.

4 comentários:

  1. A voz da Maria Rita é muito bonita, mas a Simone a cantar isto, é sublime :))
    O meu irmão faz anos no dia em que morreu a minha avó... com o tempo a tristeza dilui-se nas alegrias novas da vida... inevitavelmente.
    Parabéns à M! Beijo

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  2. Obrigada, Eva. Quanto à canção eu gosto de a ouvir cantada pelo próprio Milton. E a Simone canta-a muito bem, sim. :)Bom fim-de-semana.

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  3. Ainda bem que um dia infeliz, também trouxe felicidade...

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  4. Pois, não há dias perfeitos, António. Nem no bom, nem no mau sentido. :)

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