Marinho Pinto tem-nos habituado a ouvir da sua boca afirmações polémicas. Algumas farão mais sentido do que outras. Concordo que mesmo os titulares de cargos com alguma importância, como é o de Bastonário da Ordem dos Advogados, devem poder expressar as suas opiniões. E esta, pelos vistos, é a sua opinião .
Mas confesso que me parece que estas afirmações são proferidas de ânimo leve, sem pensar cuidadosamente. Greve à democracia em dia de eleições?
Podemos estar todos cansados dos políticos que temos. Mas são eles que se propõem avançar numa altura em que é tão mais fácil falar do que agir. São eles que, dentro do que é o nosso sistema democrático, com todos os defeitos que possa ter, estão em posição de lidar com uma situação que, quer interna, quer exteriormente, é de uma exigência tal que a simples apetência pelo poder não justifica a vontade de o alcançar. Não são os melhores políticos do mundo. Pois não. Mas são os que, neste momento tão difícil, se chegam à frente. A todos nós, cidadãos, se exige que estejamos atentos. Claro que sim. A cidadania não se exerce só em dias de eleições.
Marinho Pinto diz que somos pouco exigentes com os políticos. Sim, porque sempre fomos pouco exigentes com nós mesmos. E nem falo no nosso pouco empenhamento nas causas públicas. Cada um de nós, no seu dia a dia, no trabalho, nas nossas relações com os outros desempenhamos tão mal o nosso papel, que se não começarmos por aí nunca teremos capacidade para exigir dos nossos representantes a correcta aplicação dos princípios que interpretamos como certos.
Falar em "refundação da república" é falar não de uma alteração na forma de entender o papel dos políticos, quer os que se encontram no poder, quer os que aspiram a lá chegar, mas de uma alteração da nossa forma de nos posicionarmos face à política, assumindo uma postura séria e virada para o bem comum mais do que para nós próprios. Só nessa altura saberemos exactamente o que exigir de quem nos representa. Mas para isso há que fazer primeiro greve a nós mesmos.
As declarações do bastonário dos advogados são sempre polémicas... mas sinceramente, consigo ver alguma lógica neste discurso. Queixamo-nos permanenetemente que uns e outros são incompetentes e nem sabemos em quem votar e depois dizemos que por consciência democrática temos de exercer esse direito adquirido com sacrifício... está bem... mas , para ficar tudo na mesma? E sabemos disso de antemão! Se não tomarmos medidas drásticas, não teremos mudanças profundas. Não tenho coragem para não ir votar, porque sei que não só não fará diferença (porque nunca seriamos em numero suficiente para causar estupefacção), como aumentarão apenas as estatísticas da abstenção, num momento decisivo do nosso País. Mas... num canto qualquer da minha indignação perante a totalidade dos políticos que temos, não sei se não precisavamos de lhes dar a todos uma lição de verdadeira democracia... claro que, irei votar... porque não sou capaz de não ir... Bom fim-de-semana! beijinho
ResponderEliminarHabituei-me a ignorar Marinho Pinto, não gosto do seu estilo trauliteiro, das suas acusações tipo Octávio Machado, "vocês sabem do que estou a falar" e depois das contradições em que incorre com ele próprio.
ResponderEliminarA lógica do discurso só deixa de existir quando defende a greve à democracia. O sistema de partidos que temos pode, de alguma forma, deixar de fora quem eventualmente pudesse fazer a diferença na governação, não querendo enquadrar-se neles. Mas a verdade é que, até agora, são praticamente inexistentes situações em que outro sistema conseguiu provar que configuraria uma melhor democracia, pelo menos em países com parlamento.
ResponderEliminarSinceramente não vejo em que é que o facto de não se ir votar contribui para alguma coisa de positivo. Pelo contrário, associo essa atitude a falta de interesse e resignação. Já o voto em branco poderá ter outra leitura. Mas é o associar a democracia a algo de menos bom que me assusta. E uma pessoa com a responsabilidade de Marinho Pinto não o deveria ter feito.
Tá tudo dito. Muito bem dito! :0
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