sábado, 2 de abril de 2011

Crónica de uma ruína anunciada

O nome de Aristides Sousa Mendes desperta sempre em nós algum orgulho. Após uma carreira diplomática bastante rica, foi colocado em Bordéus, como cônsul, por Salazar. O seu papel, contra as ordens do Presidente do Conselho, na concessão de vistos a refugiados, nomeadamente a judeus, permitiu que muitas vidas fossem salvas de uma morte certa. Salazar não lhe perdoou a desobediência e puniu o seu comportamento. Não foram , por isso, fáceis os seus últimos anos de vida.
Ao longo dos últimos tempos várias homenagens lhe têm sido prestadas. Mas uma coisa ainda não se conseguiu, apesar dos esforços da Fundação que tem o seu nome: criar um museu na sua antiga casa, a Casa do Passal, em Cabanas de Viriato, concelho de Carregal do Sal.
A 3 de Março deste ano esta casa, onde A. Sousa Mendes viveu, foi considerada pelo governo, como apresentando um "excepcional interesse nacional", tendo sido, por isso, classificada como Monumento Nacional.
Quis o acaso que, três dias depois, eu passasse em Cabanas de Viriato e, apesar da dificuldade em fotografar a casa sem apanhar os carros alegóricos (era domingo de Carnaval e a tradição é forte, naquela terra, por essa altura), lá consegui algumas imagens:






A história tem sido longa e os episódios sucedem-se, como se pode ler, à laia de exemplo, aqui e aqui. A dimensão do edifício e as verbas necessárias para a sua recuperação dificultam a resolução do problema.
O título do post não pretende ser derrotista. Mas a verdade é que, caso nada for feito a muito curto prazo, é mais um monumento nacional a ser lembrado em memórias e fotografias e não como um testemunho vivo de alguém que se cruzou, de uma forma humanamente tão correcta, com milhares de vidas e de uma época da nossa História que, mesmo que, por vezes, se prefira esquecer, convém ser, para sempre, lembrada.

3 comentários:

  1. Mais um belo edifício em ruínas... como tantos outros... Que faria se não fosse classificado munumento nacional... compreende-se que nesta altura não haja verbas para tão avultada obra, mas que é pena é... salva-se a vontade de uns e outros... mas não chega. É pena...
    beijo

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  2. Um à parte, Salazar não lhe perdoou, mas aproveitou para insinuar junto dos aliados, que desconfiavam da sua neutralidade, no pós-guerra, algumas facilidades que Portugal concedeu, tal como vendeu volfrâmio aos alemães enquanto fornecia facilidades militares aos aliados...

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  3. Estou tão desanimado em relação ao que se faz - ou não faz, como é o caso - ao património construído que já nem consigo articular qualquer comentário. E não se pode exterminá-los?

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