quinta-feira, 3 de junho de 2010

Uma das razões/poemas porque gosto de Margarida Vale de Gato

Mulher ao Mar

MAYDAY lanço, porque a guerra dura
e está vazio o vaso em que parti
e cede ao fundo onde a vaga fura,
suga a fissura, uma falta - não
um tarro de cortiça que vogasse;
especifico: é terracota e fractura,
e eu sou esparsa, e a liquidez maciça.
Tarde, sei, será, se vier socorro:
se transluz pouco ao escuro este sinal,
e a água não prevê qualquer escritura
se jazo aqui: rasura apenas, branda
a costura, fará a onda em ponto
lento um manto sobre o afogamento.

in Margarida Vale de Gato, Mulher ao Mar, Lisboa, Mariposa Azual, 2010, p. 8

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