Se me comovesse o amor
Se me comovesse o amor como me comove
a morte dos que amei, eu viveria feliz. Observo
as figueiras, a sombra dos muros, o jasmineiro
em que ficou gravada a tua mão, e deixo o dia
caminhar por entre veredas, caminhos perto do rio.
Se me comovessem os teus passos entre os outros,
os que se perdem nas ruas, os que abandonam
a casa e seguem o seu destino, eu saberia reconhecer
o sinal que ninguém encontra, o medo que ninguém
comove. Vejo-te regressar do deserto, atravessar
os templos, iluminar as varandas, chegar tarde.
Por isso não me procures, não me encontres,
não me deixes, não me conheças. Dá-me apenas
o pão, a palavra, as coisas possíveis. De longe.
in Francisco José Viegas, Se me Comovesse o Amor, V. N. Famalicão, Edições Quasi, 2008, p. 35
Excelente poema! Como tem um conteúdo tão profundo! Não conhecia, vê lá nem sabia que o Viegas escrevia poesia!
ResponderEliminarBjs,
Manuela
Muito boa escolha.
ResponderEliminarGosto mais do outro Viegas.
ResponderEliminarEste é uma espécie de vendido, traidor da língua portuguesa (como mais alguns) por ter enveredado pelo «pato ortográfico». Imperdoável!
:(
Boa noite, Manuela. E eu confesso que, para além do que Francisco José Viegas escreve na imprensa, ainda só li poesia e nenhum dos romances. Não por falta de curiosidade mas porque ainda não aconteceu. Mas da poesia gosto bastante.
ResponderEliminarObrigada, Daniel.
ResponderEliminarBem, cão sem raiva, eu não sou propriamente a favor do acordo ortográfico e preferia que ele não fosse assumido como uma regra. Mas alguns dos argumentos a favor, por vezes, fazem sentido. E a realidade é que, se a língua é viva, as mudanças vão-se sempre fazendo. Sobre a posição deste autor sobre o assunto pode ler-se este texto: http://fjv-cronicas.blogspot.com/2007/11/acordo-ortogrfico-talvez-sim.html E note-se, mais uma vez, que tenho imensas reticências em relação à aplicação deste acordo.
ResponderEliminarNada de acordo com o F.J. Viegas! Mas entendo-o muito bem... oh se entendo!
ResponderEliminarA língua é viva e é na diferença que está a riqueza. A língua é de quem fala e escreve, não de alguns políticos pensantes que querem globalizar a coisa.
De fato não tenho fato para ir ao enterro da Língua Portuguesa. Só se fizermos um pato durante o jantar - que vai ser pato - e me emprestar de fato o seu fato. É que assim não ato nem desato e preocupa-me o fato de não poder ir ao ato de fato.
:)
OK, cão sem raiva, provou o seu ponto de vista. Mas na realidade até se percebeu bem o seu texto :) E olhe que eu nem sou defensora deste acordo.:)
ResponderEliminareh eh, foi só para mostrar o quanto é ridículo o que ali tentei escrever...
ResponderEliminar:)