quarta-feira, 5 de maio de 2010

"A desonestidade e o lápis azul"

Porque achei interessante esta situação publico aqui o que escreveu uma amiga, a propósito do que lhe aconteceu com a publicação de um texto num jornal. Eu sei que eles se reservam o direito de publicar ou não e que o espaço é escasso. Mesmo assim:

"O destacável Fugas sai ao sábado, aconchegado pelo jornal Público. Este saiu neste 1.º de Maio. Neste destacável há uma rubrica aberta aos leitores intitulada As Fugas dos Leitores. Por única condição, em rodapé, o texto não deve ultrapassar o limite de 3000 caracteres.

No rescaldo de uma viagem à China, decido participar. Redijo o texto, contabilizo os caracteres, que respeitam o limite imposto, subscrevo com pseudónimo (o nome de uma das minhas bisavós, Catarina Duarte), anexo uma fotografia da muralha da China e envio-o por mail, declarando nesse momento a minha identidade, em conformidade com o meu endereço electrónico.

O jornal Público prescinde do seu direito de não publicar o texto e publica-o mas, com o exercício de um lápis azul, censura-o. Sem poder alegar excesso de caracteres, faz desaparecer um pequeno parágrafo, entalado entre o relato da experiência de visitar dois templos, um taoista, o Templo do Céu, e o outro budista, o Templo Lama. A propósito do ritual taoista de sacrifício de animais atirados a fogueiras, escrevi e foi censurado “Contemporâneos a estas fogueiras, e também em nome do Céu, são os auto-de-fé do meu país e da minha cidade de Lisboa, que serviam para atrofiar a populaça e consolidar o poder da igreja católica apostólica romana.”.

Do modo como foi publicado, o texto não apresenta qualquer vestígio de censura: é como se o parágrafo e o tipo de relação histórica entre os autos-de-fé e a igreja católica nunca tivessem existido. Mas, apesar desta divina intervenção, a linha editorial do Público insiste na subscrição do texto por uma única autora, que já não está sozinha. Porque o Público proibiu o meu direito de liberdade de expressão e porque omitiu a sua própria acção, concluo que, afinal, os outros tempos não são outros, são mesmo estes."

O texto e o título são da autoria da protagonista desta situação.

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