quarta-feira, 12 de maio de 2010

Que bem se canta na Sé…

uns sentados, outros de pé.

Foi a expressão que me veio à memória ao assistir, esta tarde, à chegada de muitas pessoas que queriam estar presentes na missa que o papa daria no Terreiro do Paço. Era uma lição para as crianças que estão a falar na escola dos três grupos: clero, nobreza e povo. Na realidade, enquanto muitos se dirigiam para a praça com as suas vestes religiosas muitos mais tentavam encontrar um lugar de onde pudessem ver o papa e esperar até essa altura com algum conforto. O banquinho portátil era alvo de cobiça, para quem não se tinha prevenido. T-shirt’s e lenços eram vendidos enquanto dois jornais diários eram os monopolizadores das ofertas de bonés para o sol e das bandeirinhas.

Mas o que eu não tinha previsto era assistir à chegada dos convidados VIP, que tinham direito a uma entrada preparada para o efeito. Uns chegavam em carros reluzentes, a maioria com matrículas do corpo diplomático. “Por favor, pelo passeio”, diziam os seguranças à medida que quem vinha a pé se aproximava. “Por aqui só com convite”. E assim era. Não havia protestos. As diferenças no vestuário, nos cabelos, na pose era de tal forma grande que, imediatamente, quem não fazia parte do grupo dos privilegiados, se afastava. Os envelopes na mão eram o passaporte para entrar. Figuras públicas, presidentes de clubes de futebol, representantes da tendência monárquica, personagens do “jet-set” nacional, anónimos mas vestidos de modo a poderem ser fotografados para as revistas, todos convergiam para uma área, certamente mais restrita e de onde a cerimónia podia ser acompanhada de uma forma mais próxima e sem os constrangimentos a que estavam sujeitos todos os que não tinham o tal convite. Perante Deus e o seu Filho todos os homens serão iguais. Mas perante o representante máximo da Igreja Católica não são de certeza.

5 comentários:

  1. É uma festa e tudo continua na mesma!...Como eles vão, para se ver uns aos outros e se ajoelham! Mas será, que ao menos pensam quanto a sua alma está negra? O Papa perdoa, faz parte da mesma banda, mas se Deus existe perdoará?
    Pobre do povo que esquece tudo e embarca alienadamente!...
    Bjs,
    Manuela

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  2. Retomando o assunto «25 de Abril»...

    Com Abril, houve os que se chegaram logo à frente (mais espertos?) e puseram de lado alguns conceitos que tanto apregoavam. Foram tomando posse de praticamente tudo. Vemo-los todos os dias na tv e nos jornais.

    Como tudo se encaixa na perfeição!...
    Todos os animais são iguais, mas uns são mais iguais que outros.

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  3. Há séculos atrás, alguns teólogos cristãos 'resolveram' a contradição entre a crença de que "Deus criou os Homens à sua imagem e semelhança" e a existência de escravatura em países cristãos argumentando que os índios e os negros não tinham Alma, ou tinham mas era uma alma apenas sensitiva e não intelectual - pelo que não eram completamente humanos (não tendo portanto direitos nem merecendo qualquer consideração ética).

    Talvez os organizadores da missa considerem que os convidados VIP e os outros cristãos não têm todos uma Alma do mesmo género, pelo que uns têm mais direitos que os outros.

    Seja como for: graças a Deus, sou ateu!

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  4. De uma pequena fábrica instalada no rés do chão da Casa Nossa Senhora do Carmo sairam hóstias gigantes (de 25 a 30 cm de diâmetro, segundo a foto) para S.S. (não se leia schutzstaffel) Ratzinger.
    Mesmo para cristão é difícil de engulir.

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  5. Obrigada, amigos, pelos vossos comentários que, globalmente, apontam todos no mesmo sentido. Seja bem-vindo, Luís.

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