Já aqui fiz referência a textos de António Guerreiro, crítico literário do Expresso. Normalmente gosto de ler o que escreve. Mas às vezes... Reparem no que escreveu sobre um livro de poesia, de Luís Serra, editado recentemente:
(Passo a citar) ...Eis um poema que se chama 'Inverno': "Improviso uma época balnear;/ línguas/ estrangeiras marcam encontros lúbricos." E outro, baseado num processo de enumeração: "Uma mosca no resto doce do prato de veneno/ um rumo porno e cor de corrida/ um motor imóvel a dar um baile/ uma vontade de foder." Veja-se como esta poesia, mesmo na enumeração, não tem nada de descritivo (e, por conseguinte, também nada de confessional: ela desvia-se, aliás, da asserção subjectiva, não há uma única ocorrência do Eu). Toda a sua força está na instauração de sentido, na abertura de horizontes insuspeitados: "Formigas de asas em revoada: concerto para enforcados."
Expresso Actual 04 Julho 2009
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