sexta-feira, 29 de abril de 2011

Arte por arte

Tinha pensado escrever hoje alguma coisa sobre uma exposição que vi recentemente. Mas não me sai da cabeça o fantástico golo do Cardozo. Sim, já sei que o resultado não foi grande coisa mas são momentos como este que nos fazem lembrar que o futebol também é uma arte.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Uma questão de ritmo

A torre que encima o edifício, construído há umas décadas num dos locais mais cruzados do concelho, está com um aspecto degradado. As letras que, no início, estavam iluminadas dizem ainda "Oeiras marca o Ritmo". Por baixo o grande relógio, que guiaria quem por ali passasse, está, há muito tempo, parado.

Um mestre

Nunca fui sua aluna. Quando passei pela faculdade já ele não dava aulas. Mas a sua sombra, uma sombra sábia, pairava sobre o Departamento de Sociologia. Nos programas, na bibliografia que era impreterível ler, nas palavras dos professores que bebiam nele a sua inspiração.
Depois de, no final do Ensino Secundário, ter estudado a "Escola dos Annales", ler os escritos de Vitorino Magalhães Godinho era uma forma de pôr em prática aquilo que na altura parecia ser a forma mais correcta de abordar a História.
Hoje quando soube da sua morte pensei que, até pela forma como se empenhou na vida política, ele era um verdadeiro mestre.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Não me peçam brincadeiras à volta desta fotografia... do género...

Cartaz escolhido pelos membros da "troika" (FMI, BCE e CE) para colocar em todas as entradas do território português...
Bem, já está...

terça-feira, 26 de abril de 2011

No jardim da residência oficial do PM

A tarde estava quente. Depois de algum tempo na fila para poder entrar, o sítio mais cobiçado eram as espreguiçadeiras colocadas à beira da piscina. Esta encontrava-se cheia. Mas a água estava turva. Turva e cheia de impurezas.

Ao Carlos e ao Pedro

Agradeço...
- ao primeiro por esta simpatia;
- e ao segundo por esta referência e por esta outra.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

A última ceia... sem cangurus.

Já sei que já é sexta-feira santa para os que crêem na crucificação e morte de Jesus que precede a ressurreição. Mesmo assim, e apesar de algumas dúvidas de calendário, não resisto a partilhar este fabuloso momento dos Monty Python à volta da pintura de Miguel Ângelo: "A última ceia".

quarta-feira, 20 de abril de 2011

"Nada tem mais valor que a nossa casa"

Mesmo que essa casa não tenha sequer cozinha, mesmo que tenhamos como vizinhos mais próximos os mortos, mesmo que tenhamos que nos fechar no quarto quando os familiares de algum deles, que está enterrado na nossa sala, visita o seu túmulo.
Esta é a realidade da vida das famílias que habitam alguns cemitérios do Cairo e que ficamos a conhecer um pouco no surpreendente documentário de Sérgio Tréfaut. É uma visão de quem está de fora, como a da criança e do seu avô, na cena inicial. Mas que tem o cuidado de nos apresentar a perspectiva de quem reside naquele espaço tão especial, onde as circunstâncias históricas forçaram um convívio nem sempre vivido de forma positiva, mas sempre pacífico. Afinal, como se dizia, são os vivos que devemos recear e não os mortos.
E como dizia um outro morador: "temos que aprender a tirar sabedoria do sítio onde vivemos".

terça-feira, 19 de abril de 2011

Identificação

Na saúde e na doença... no casamento e no divórcio...

A pergunta do questionário era qual o número de pessoas que viviam na casa e qual o grau de parentesco entre elas.
A resposta: ela e o ex-marido. Acrescentou ainda:
- Ele não tem para onde ir e isto do casamento é para sempre, não é verdade?

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Finalmente!

Quando, no início dos anos 90 do século passado, trabalhei no realojamento das famílias residentes em barracas que existiam ao longo da velha Estrada da Circunvalação, no concelho de Oeiras, estava longe de imaginar que seriam precisos cerca de 18 anos para que a justificação para a sua saída apressada daquele local, a construção da CRIL, se concretizasse por completo. Hoje lembrei-me das caras de alguns desses moradores e imaginei que alguns deles já nem existem. Outros já pouco se lembrarão do tempo em que viviam naqueles terrenos. Há coisas que demoram mesmo muito tempo...

sábado, 16 de abril de 2011

Greve a nós mesmos

Marinho Pinto tem-nos habituado a ouvir da sua boca afirmações polémicas. Algumas farão mais sentido do que outras. Concordo que mesmo os titulares de cargos com alguma importância, como é o de Bastonário da Ordem dos Advogados, devem poder expressar as suas opiniões. E esta, pelos vistos, é a sua opinião .
Mas confesso que me parece que estas afirmações são proferidas de ânimo leve, sem pensar cuidadosamente. Greve à democracia em dia de eleições? 
Podemos estar todos cansados dos políticos que temos. Mas são eles que se propõem avançar numa altura em que é tão mais fácil falar do que agir. São eles que, dentro do que é o nosso sistema democrático, com todos os defeitos que possa ter, estão em posição de lidar com uma situação que, quer interna, quer exteriormente, é de uma exigência tal que a simples apetência pelo poder não justifica a vontade de o alcançar. Não são os melhores políticos do mundo. Pois não. Mas são os que, neste momento tão difícil, se chegam à frente. A todos nós, cidadãos, se exige que estejamos atentos. Claro que sim. A cidadania não se exerce só em dias de eleições.
Marinho Pinto diz que somos pouco exigentes com os políticos. Sim, porque sempre fomos pouco exigentes com nós mesmos. E nem falo no nosso pouco empenhamento nas causas públicas. Cada um de nós, no seu dia a dia, no trabalho, nas nossas relações com os outros desempenhamos tão mal o nosso papel, que se não começarmos por aí nunca teremos capacidade para exigir dos nossos representantes a correcta aplicação dos princípios que interpretamos como certos.
Falar em "refundação da república" é falar não de uma alteração na forma de entender o papel dos políticos, quer os que se encontram no poder, quer os que aspiram a lá chegar, mas de uma alteração da nossa forma de nos posicionarmos face à política, assumindo uma postura séria e virada para o bem comum mais do que para nós próprios. Só nessa altura saberemos exactamente o que exigir de quem nos representa. Mas para isso há que fazer primeiro greve a nós mesmos.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

É uma injustiça, pois é! Abusam porque sou pequenino...

É importante que alguém chame a atenção para esta realidade. Mas não podemos cair na Síndrome de Calimero. Como sempre o difícil é encontrar o ponto de equilíbrio. E vamos ter que o fazer. O país e todos nós individualmente.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Janela com árvore

A parede preta está visível apenas do lado em que o reflexo do sol a atinge. A janela com o gradeamento também preto, observada do interior, distingue-se no azul claro do céu totalmente limpo.
No canto inferior esquerdo a parte mais alta da copa da árvore, de um verde dourado, é a única nota de movimento. 

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Um engano de sintonia

Procurava a rádio que ouço normalmente. Pela proximidade da frequência julguei que estava na que pretendia e como a música era boa deixei estar. Entretanto um novo programa começa. Duas mulheres falam dos Censos. Foi aí que percebi o engano. Estranhei a falta de preparação, a ligeireza com que se abordavam as questões, os exemplos sem substância. Mesmo nos casos em que a questão levantada podia fazer sentido, a forma como era tratada deitava tudo a perder. Gostaria de poder colocar aqui alguma ligação para se poder ouvir o programa mas não consegui. Eu sei que com tantos comentadores a falar de tantos assuntos nem todos podem ser bons. Mas também não exageremos.

O coração e a cabeça

A mim não me preocupa se o coração de Fernando Nobre bate à direita ou à esquerda. Afinal um médico sabe bem onde se encontra o coração. Eu gostava era de saber onde tem ele a cabeça. É que para quem tanto pugnava contra os políticos profissionais convenhamos que presidente da AR é um cargo bastante irónico.

domingo, 10 de abril de 2011

O meu avô

O meu avô era sapateiro. Punha meias solas, arranjava as almas partidas (isto é tão bonito de se dizer), engraxava, puxava o lustro. Mas ele também fazia sapatos. Das lojas do Poço do Borratém trazia os couros, as linhas, as solas. E cortava, montava, cosia, dando a todas essas coisas um aspecto de sapato. As encomendas lá vinham chegando. A Casa do Gaiato era cliente habitual. Provavelmente o único.
O meu avô trabalhava em casa. Parte da cozinha era a sua oficina. As ferramentas como o martelo, a sovela, o alicate; os materiais, os cheiros faziam parte da minha infância. Ainda hoje o cheiro da cola e da graxa me fazem regressar ao passado. Quando estava em casa sentava-me perto dele e via-o trabalhar. O rádio ligado não impedia que fosse conversando comigo. Falava-me das notícias que ouvia e lia nos jornais. Todas as manhãs o ardina passava e atirava o jornal para a varanda do primeiro andar onde morávamos. Tinha que estar sempre informado e sabia sempre tantas coisas. Poucos anos depois da chegada do Homem à Lua defendia ainda, junto da minha mãe, sua filha, que apesar de muito mais nova estava muito céptica, todas as coisas boas que as novas descobertas trariam à humanidade.
O meu avô morreu no mês de Abril de 1974, dias antes do dia 25. Ele teria gostado de o viver mas o seu coração não deixou.
O que aprendi com ele não sei explicar. Mas sei que, sem ele, não seria eu. Tinha 7 anos e nunca ninguém mais me ensinou tanto.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

E hoje também é dia de Brel.

A autorização

Os nove meses estavam no fim. No dia anterior o médico aconselhara-lhe:
- Vá amanhã ao hospital ver o que lhe dizem.
Por isso naquela manhã de sábado, dia 8 de Abril, ela foi. Quando a observou, o médico de serviço disse-lhe:
- Pode ir para casa mas, se quiser ficar, com a dilatação que tem, ela nasce hoje.
Os receios da sua mãe cumpriam-se. Quando soubera que ela estava grávida e que a criança nasceria nos primeiros dias de Abril partilhou consigo o receio que tinha:
- Deus queira que ela não nasça a 8 de Abril.
Fazia, nesse ano, nesse dia, 26 anos que o seu pai, avô da sua filha, e bisavô da M. tinha morrido. Era portanto um dia triste e o nascimento da sua neta não devia acontecer num dia triste.
A., que compreendia a importância destas coisas para a sua mãe, antes de dizer ao médico se ficava ou não, fez um telefonema.
- Mãe, o médico diz que ela pode nascer hoje. O que achas? Fico já cá?
- Ó filha, claro que sim, respondeu sem hesitação.
Ela ficou. M. nasceu nesse dia às 22 horas.
A morte e o nascimento lembrados num só dia que nunca mais foi apenas um dia triste.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

O Coliseu atirado aos leões

Há uns meses atrás quando ouvi a notícia relativa ao restauro do Coliseu de Roma, financiado por uma empresa que detém a marca de sapatos Tod's, não se falava em qualquer contrapartida a não ser a publicidade à empresa que nem sequer a faria directamente no monumento. Apesar de ter sentido alguma estranheza fui ingénua o suficiente para achar que as coisas eram mesmo assim.
Agora as notícias são um pouco diferentes. Não me parece propriamente uma privatização mas o acordo celebrado entre a empresa e o governo de Berlusconi dá demasiado poder a um privado sobre um bem que não é só de Itália mas do mundo inteiro.

Lembrei-me logo da canção do "meu" Vinicio, "Al Colosseo", aqui acompanhada de imagens do local:



segunda-feira, 4 de abril de 2011

Na poesia cabe tudo...

um rio e uma ponte que o atravessa, uma maça que se observa mas que é melhor ainda comida,  a descoberta de que se está doente, o confronto com alguém que apenas se julgava que se conhecia, um caderno que se enche de palavras ou de chuva, a dor de sentir as dores dos outros como as nossas, a tentativa de fazer o que está certo antes de se partir, a dificuldade de se escrever um poema.

sábado, 2 de abril de 2011

Crónica de uma ruína anunciada

O nome de Aristides Sousa Mendes desperta sempre em nós algum orgulho. Após uma carreira diplomática bastante rica, foi colocado em Bordéus, como cônsul, por Salazar. O seu papel, contra as ordens do Presidente do Conselho, na concessão de vistos a refugiados, nomeadamente a judeus, permitiu que muitas vidas fossem salvas de uma morte certa. Salazar não lhe perdoou a desobediência e puniu o seu comportamento. Não foram , por isso, fáceis os seus últimos anos de vida.
Ao longo dos últimos tempos várias homenagens lhe têm sido prestadas. Mas uma coisa ainda não se conseguiu, apesar dos esforços da Fundação que tem o seu nome: criar um museu na sua antiga casa, a Casa do Passal, em Cabanas de Viriato, concelho de Carregal do Sal.
A 3 de Março deste ano esta casa, onde A. Sousa Mendes viveu, foi considerada pelo governo, como apresentando um "excepcional interesse nacional", tendo sido, por isso, classificada como Monumento Nacional.
Quis o acaso que, três dias depois, eu passasse em Cabanas de Viriato e, apesar da dificuldade em fotografar a casa sem apanhar os carros alegóricos (era domingo de Carnaval e a tradição é forte, naquela terra, por essa altura), lá consegui algumas imagens:






A história tem sido longa e os episódios sucedem-se, como se pode ler, à laia de exemplo, aqui e aqui. A dimensão do edifício e as verbas necessárias para a sua recuperação dificultam a resolução do problema.
O título do post não pretende ser derrotista. Mas a verdade é que, caso nada for feito a muito curto prazo, é mais um monumento nacional a ser lembrado em memórias e fotografias e não como um testemunho vivo de alguém que se cruzou, de uma forma humanamente tão correcta, com milhares de vidas e de uma época da nossa História que, mesmo que, por vezes, se prefira esquecer, convém ser, para sempre, lembrada.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Prémio: não me digam! Eu estava mesmo convencido que era licenciado!

O administrador dos CTT, Marcos Batista diz que "sempre esteve convencido que o percurso académico com oito anos de frequência universitária e elevado número de cadeiras concluídas, em mais do que um plano de estudos curriculares, corresponde a um curso superior à luz das equivalências automáticas do processo de Bolonha" (citado deste artigo).
Ora, eu estive a fazer as contas e à luz de Bolonha e atendendo ao meu percurso académico, o meu doutoramento já está assegurado. A partir de agora tratem-me por Doutora, se fazem favor!