quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Operação adiada

A operação estava marcada há algumas semanas. A pedra na vesícula biliar iria finalmente ser retirada. No dia marcado C. apresentou-se no hospital e deu entrada a seguir ao almoço. Durante o resto do dia esteve a soro e fez todos os preparativos. No seu caso o apoio de uma auxiliar tinha que ser constante devido à sua cegueira. Para tomar duche ou apenas ir à casa de banho precisava de alguém presente. A tensão arterial reflectia o seu estado de ansiedade e, por várias vezes, teve que tomar medicamentos para a baixar. Para dormir também só com calmantes.

No dia seguinte repetiu-se tudo até às duas da tarde, hora a que foi chamada para o bloco operatório. Antes ministraram-lhe mais um medicamento para ajudar a debelar a ansiedade que a situação causava. Aguardava a anestesia mas a verdade é que já estava meio a dormir.

Depois lembra-se de estar já mais desperta. Foi nessa altura que lhe contaram o sucedido: o telefonema da médica anestesista informando que estava doente e não poderia ir trabalhar; a constatação de que não havia outro médico disponível; a impossibilidade de evitar o adiamento da intervenção. Quando estava bem acordada percebeu finalmente: o estado de ansiedade não terminaria nesse dia. O médico veio mais tarde pedir-lhe desculpas pelo sucedido. C. aceitou-as com resignação. O que poderia ela fazer?

Para a semana há mais. Os preparativos repetir-se-ão mais uma vez. E pode ser que, dessa vez, ninguém adoeça.

5 comentários:

  1. Impressionante pensar, estar numa situação destas e não haver médicos disponíveis para substituir os que faltam e, no outro dia passar pelo mesmo!...
    Manuela

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  2. Meu Deus... Que história! Que nos dê, pelo menos, um final feliz!

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  3. Daqui uns anos devemo-nos perguntar o que fizemos com o nosso estado social e como o trocámos pelos mega-obscenos-ordenados de meia dúzia de iluminados.

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  4. É uma história que, provavelmente, é mais comum do que se pensa. Talvez em tempo de férias situações destas sejam mais frequentes. Neste caso a dificuldade de mobilidade torna tudo mais penoso. Como é óbvio, imponderáveis há sempre. Mas preveni-los não seria, de todo, uma má ideia.

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