segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Vemos ouvimos e lemos. Não podemos ignorar?

Logo de manhã, a caminho da escola, a minha filha, de 9 anos, perguntou-me porque não podia votar, tal como nós. Expliquei-lhe que votar é muito importante pois é nessa altura que escolhemos quem são as pessoas que, nos próximos anos, vão tomar decisões que têm a ver com as nossas vidas. É por isso que temos que ser crescidos para podermos pensar nas coisas de uma forma ponderada.
Depois de falar apercebi-me que nunca o conseguiremos fazer, uma vez que as informações de que dispomos para formar a nossa opinião são, quase sempre, incompletas, quando não são manipuladas. Da parte dos partidos, como é da sua natureza, transmitem-nos intenções gerais e ideias que, em muitos assuntos são coincidentes, envoltas numa capa de programas a cumprir sabendo nós, ou, pelo menos, desconfiando, que esse cumprimento está dependente de tantos factores que os dirigentes não controlam e que, ao mesmo tempo que lhes dificulta a concretização das políticas, os desculpa perante quem neles votou. É como se fizessem exercícios Ceteris paribus sem divulgarem essa condição. Quanto ao que é transmitido na Comunicação Social nunca, como nesta fase pré-eleições, duvidámos tanto do conteúdo das notícias. Confundimos factos com opiniões, confundimos jornalistas com militantes de partidos, confundimos comentadores com analistas sérios, confundimos sondagens mal feitas com sondagens credíveis. Se, pelo menos, esta situação servir para aprendermos que as coisas quase nunca são o que parecem… Mas será que vamos aprender? Lembrei-me que actualmente, já nem a canção Cantata da Paz (com letra de Sophia de Mello Breyner Andresen e música de Francisco Fanhais) pode ser levada à letra.
Quanto à minha filha respondeu-me: "eu sei que o Jerónimo de Sousa fala a verdade sobre a vida das pessoas e o Sócrates fala tão bem dos “Magalhães” e eles estão todos a avariar". Fiquei a pensar que ela, na sua ingenuidade e simplicidade de raciocínio, tem mais certezas do que eu tenho.

5 comentários:

  1. Mas todo o saber é ceteris paribus e nenhuns-"D"eus podem conhecer a causa especifíca de um evento individual, pela razão sumária de que tal causa não existe; apenas reportamos efeitos de certo tipo que se seguem a eventos de um outro tipo ou classe; e supomos que assim continue, «tudo o mais constante»! :)

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  2. Muito perspicaz a sua filha, Analima. Dê-lhe um beijinho meu.
    Quanto ao resto, vamos manter-nos atentas.
    Um abraço.

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  3. Eu diria criança com uma capacidade cognitiva acima da média.

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  4. vbm: claro que tem razão e eu acho que a maior parte das pessoas sabe disso mas, em certas alturas, muitos esquecem que essa certeza é a única coisa que é constante.

    Maria Josefa: obrigada. Sim, "apesar dos pesares", continua a ser fundamental ver, ouvir e ler.

    Dulce: :) sê bem vinda! Eu acho que a simpatia que as minhas filhas demonstram ter pelo Jerónimo de Sousa tem a ver com o seu ar de avô mas lá que a têm, têm!

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  5. NAda melhor que a opinião sincera e crítica de uma criança.

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