Por detrás destes despojos da noite podem estar muitas histórias diferentes: felizes ou infelizes, com amores ou desamores, repletas de alegria ou de mera alienação (alcoólica e não só). Mas disso já se falou muito e há sempre pessoas disponíveis para falar mais. Um aspecto da situação que não costuma ter cronistas é o ponto de vista das pessoas que têm o azar de viver próximo dos bares. São pessoas que se sentem prisioneiras na sua própria casa: não conseguem dormir à noite, se têm de sair são muitas vezes incomodadas por pessoas barulhentas e que, independentemente da quantidade de álcool já ingerido, acham (com a cumplicidade das Câmaras Municipais) que o seu direito à diversão é absoluto e que as pessoas que se sentem incomodadas não passam de uns medíocres e cinzentões. O que pode dizer uma mãe a uma criança de 3 ou 4 anos que não conseguem adormecer devido ao barulho ensurdecedor de música techno que vem do prédio em frente ou ao lado? E um cirurgião que precisa de se levantar de madrugada para iniciar uma maratona de operações? E o professor que tenta preparar aulas ou corrigir testes? Um dia destes ainda descobrimos que são despojos da civilização, e não apenas da noite.
Carlos: Obrigada pela visita. Em termos gerais concordo consigo. Mas, como sempre, o fenómeno tem muitos outros aspectos que é necessário não esquecer. A realidade do Bairro Alto, em Lisboa, por exemplo, que é a que conheço melhor, diz-nos que a situação dos moradores que se sentem prejudicados pelo funcionamento de bares ou outros estabelecimentos, que funcionam até altas horas, em edifícios de habitação, convive com o sentimento de que, sem esses estabelecimentos, o “seu bairro” não seria o mesmo. Até porque em termos económicos, essas actividades têm um peso importante ao fazerem do bairro um local que atrai muita gente, mesmo durante o dia. E, neste caso concreto (à falta de estudos vale o conhecimento empírico), os bares são empregadores de muitos jovens residentes. O papel das Câmaras não é fácil pois têm que conjugar interesses dos moradores e dos agentes económicos, muitas vezes opostos. E, no caso do Bairro Alto, a questão principal é, não as horas de encerramento dos estabelecimentos, mas o consumo fora deles. Muitas vezes assiste-se a grupos de jovens que compram as bebidas em supermercados e levam-nas para consumir nas ruas. E é essa situação que mais problemas cria.
Por detrás destes despojos da noite podem estar muitas histórias diferentes: felizes ou infelizes, com amores ou desamores, repletas de alegria ou de mera alienação (alcoólica e não só).
ResponderEliminarMas disso já se falou muito e há sempre pessoas disponíveis para falar mais.
Um aspecto da situação que não costuma ter cronistas é o ponto de vista das pessoas que têm o azar de viver próximo dos bares. São pessoas que se sentem prisioneiras na sua própria casa: não conseguem dormir à noite, se têm de sair são muitas vezes incomodadas por pessoas barulhentas e que, independentemente da quantidade de álcool já ingerido, acham (com a cumplicidade das Câmaras Municipais) que o seu direito à diversão é absoluto e que as pessoas que se sentem incomodadas não passam de uns medíocres e cinzentões.
O que pode dizer uma mãe a uma criança de 3 ou 4 anos que não conseguem adormecer devido ao barulho ensurdecedor de música techno que vem do prédio em frente ou ao lado? E um cirurgião que precisa de se levantar de madrugada para iniciar uma maratona de operações? E o professor que tenta preparar aulas ou corrigir testes?
Um dia destes ainda descobrimos que são despojos da civilização, e não apenas da noite.
Carlos: Obrigada pela visita. Em termos gerais concordo consigo. Mas, como sempre, o fenómeno tem muitos outros aspectos que é necessário não esquecer. A realidade do Bairro Alto, em Lisboa, por exemplo, que é a que conheço melhor, diz-nos que a situação dos moradores que se sentem prejudicados pelo funcionamento de bares ou outros estabelecimentos, que funcionam até altas horas, em edifícios de habitação, convive com o sentimento de que, sem esses estabelecimentos, o “seu bairro” não seria o mesmo. Até porque em termos económicos, essas actividades têm um peso importante ao fazerem do bairro um local que atrai muita gente, mesmo durante o dia. E, neste caso concreto (à falta de estudos vale o conhecimento empírico), os bares são empregadores de muitos jovens residentes.
ResponderEliminarO papel das Câmaras não é fácil pois têm que conjugar interesses dos moradores e dos agentes económicos, muitas vezes opostos. E, no caso do Bairro Alto, a questão principal é, não as horas de encerramento dos estabelecimentos, mas o consumo fora deles. Muitas vezes assiste-se a grupos de jovens que compram as bebidas em supermercados e levam-nas para consumir nas ruas. E é essa situação que mais problemas cria.