quinta-feira, 29 de abril de 2010

N(amor)o violento não é amor

Este é o lema de uma campanha que foi promovida pela Comissão para a Cidadania e Igualdade do Género e que visa alertar para a violência no namoro. E foi exactamente devido a uma conversa entre um rapaz e uma rapariga, que não pude deixar de ouvir no comboio, numa das minhas curtas viagens diárias, que este assunto me suscitou maior interesse. Não vou aqui explicar o teor da conversa mas digamos que me impressionou a forma como a rapariga aceitava e parecia achar que merecia a agressividade do seu namorado.

Descobri então que, tanto a nível nacional como europeu, os números relativos a esta questão são preocupantes. Alguns estudos mostram que a violência no namoro é, para muitos jovens, entendida como uma manifestação de amor. As condutas violentas, ou o abuso sexual existem e são minimizados ou negados, considerando, muitas vezes, os rapazes, que as raparigas são inferiores. Os sinais de abuso identificados entre adolescentes e jovens namorados vão desde a humilhação, o insulto, o controlo e uso de objectos do parceiro (por exemplo, o telemóvel) até a restrições a relações de amizade, modo de vestir, de falar e comportamentos que podem chegar a impedir que o outro prossiga com os seus estudos ou projectos pessoais.

Observa-se assim que a violência doméstica é, muitas vezes, um prolongamento de uma situação já existente numa fase anterior. O que mais me faz pensar é a aparente passividade de quem é vítima e o facto de vítima e o seu agressor estarem ambos confiantes nas razões que associam ao seu comportamento.

2 comentários:

  1. Isso observa-se nas Escolas Secundárias. Alguns exemplos.
    Há raparigas que recusam sentar-se ao lado de um colega pois o namorado (de outra turma) não quer. Há raparigas que não vão a visitas de estudo porque o namorado não quer. Há raparigas insultadas ou mesmo empurradas nos corredores pelo namorados ou pelos amigos dele. Para não falar em mensagens ameaçadoras ou insultuosas no telemóvel e nas redes sociais.
    Os professores mesmo que saibam pouco podem fazer - pelos motivos imediatamente perceptíveis por quem leia o actual Estatuto do Aluno e as inenarráveis propostas de revisão que agora estão a ser discutidas no Parlamento (a do governo é de longe a pior, mas as da oposição - seja de direita ou de esquerda - pouco valem e pouco têm a ver com a realidade).

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  2. Carlos: muito obrigada por este testemunho, com conhecimento de causa. Infelizmente não conheço o estatuto do aluno como deveria (pois tenho duas alunas cá em casa) mas suponho que tem razão quando fala da impotência dos professores face a situações destas. E será que os pais não se apercebem deste tipo de coisas?

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