domingo, 30 de janeiro de 2011

Memórias que não queremos ter

O dia internacional em memória das vítimas do holocausto foi nesta semana que passou (em  27 de Janeiro de 1945, tropas soviéticas libertaram o campo de concentração de Auschwitz). Nome grande para uma data mas pequeno para todos os que sofreram e sofrem as consequências do que aconteceu e também para os que, num grau incomparável, apenas tomaram conhecimento dos acontecimentos como mais uma das muitas provas, ao longo da história, da falta de humanidade do ser humano.
Lembrei-me nesse dia de um projecto, do qual ouvi falar na comunicação social, da Escola Secundária de Valpaços, desenvolvido após uma visita de um professor a Auschwitz. Feito em parceria com uma escola daquela localidade, jovens portugueses e polacos trocaram informações e memórias e encontraram-se depois na Polónia onde visitaram os principais locais. Um dos objectivos do projecto era a publicação de um livro. Não sei se se concretizou. Mas certamente fez crescer quem nele participou.
A visita aos antigos campos deixa-me sempre dúvidas. Dúvidas relativamente à minha capacidade de o fazer. Nunca se proporcionou mas penso que se isso acontecer terei muita dificuldade em me decidir. Tal como a personagem principal do livro de David Lodge, "Deaf sentence", oscilo entre a consideração de que a visita é quase uma obrigação moral e o medo que tenho da impressão que me causaria aquele lugar. Medo da reacção à presença de um espaço onde as atrocidades conhecidas não deixarão de estar terrivelmente presentes ou medo de, num processo de racionalização que o nosso cérebro utiliza nestes casos, tornar historicamente entendível o que nunca se poderá compreender. De uma forma ou de outra as vidas perdidas de homens e mulheres estarão sempre à nossa frente tornando insuportável qualquer pensamento sobre o que ali aconteceu.

2 comentários:

  1. Um local que eu seria incapaz de visitar.

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  2. Mas o Holocausto aconteceu?
    Pois, há quem pense assim! Parece que a História não preenche todos da mesma maneira, e, sem querer ser Cassandra, o futuro adivinha-se preocupante.

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