O nome escrito num autocolante na cadeira de rodas lembra-nos que vem de um lar ou centro de dia, onde durante as 24 horas só a posição de estacionamento das cadeiras muda: frente a uma mesa durante o dia, lado a lado durante a noite.
Mas agora está cá fora. Na esplanada, onde o sol, na tarde fria, aquece as cadeiras de metal. Não que a ela faça diferença. Há muito que aquela é a única cadeira onde se senta.
O homem que está consigo, filho ou neto, num gesto que se adivinha de um imenso amor, segura numa mão uma chávena de café onde, instável, se encontra uma palhinha enquanto com a outra lhe segura a cabeça que teima em pender para o lado direito. Num tom que para nós é demasiado alto mas que se vê obrigado a usar, se quer ser ouvido, incentiva-a a sorver o café o que demora algum tempo a acontecer.
Bebido o café num esforço partilhado, o dedo mais pequeno da frágil mão daquela mulher ergue-se e toca a mão do homem, numa expressão de agradecimento sincero. Ele aperta-lhe o dedo enquanto lhe limpa a boca.
Quando se vão embora da esplanada e a cadeira se vira vejo a cara da mulher pela primeira vez. É linda e o seu sorriso não engana: está feliz.
Uma história de afecto! Bem descrita, que até
ResponderEliminarnos faz acreditar que o mundo é melhor do que
na realidade é.
belo momento.
ResponderEliminarAfectos, é o que falta muitas vezes.
ResponderEliminarUma situação que me tocou, de facto.
ResponderEliminar