quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Do PIB para a FIB

O Produto Interno Bruto é eficiente para medir a quantidade de riqueza que um país consegue gerar com as suas actividades produtivas – comércio, indústria e serviços, mas não mede, por exemplo, a degradação do meio-ambiente, o desaparecimento dos recursos naturais ou o declínio na qualidade de vida de todos os humanos. É assim, uma medida unidimensional que não tem em conta todos os outros aspectos que fazem do homem um ser multidimensional. Porque não, então, pensar num novo conceito que considere essas variáveis e o bem-estar psicológico, a manutenção do equilíbrio. Foi o que fez, em 1972, o rei do Butão, Jigme Singye Wangchuck, tendo-o definido como a Felicidade Interna Bruta. (Ver o vídeo sobre este tema que, em Setembro, foi publicado no Sustentabilidade é Acção).
Enquanto os modelos tradicionais de desenvolvimento têm como objectivo primordial o crescimento económico, o conceito de FIB baseia-se no princípio de que o verdadeiro desenvolvimento de uma sociedade humana surge quando o desenvolvimento espiritual e o desenvolvimento material são simultâneos, complementando-se e reforçando-se mutuamente. Os quatro pilares da FIB são, assim, a promoção de um desenvolvimento sócio-económico sustentável e igualitário, a preservação e a promoção dos valores culturais, a conservação do meio-ambiente natural e uma boa gestão dos recursos dos países através de acções eficientes e eficazes dos governos.
Hoje em dia, depois de estudado por especialistas do Canadá, dos Estados Unidos, da Europa e da Ásia, este conceito inclui também questões ligadas à educação de qualidade, à saúde, à protecção ambiental, ao acesso à cultura, entre outros. Pretende-se assim agregar aos elementos disponíveis para os decisores políticos, até agora da ordem do económico, ligados sobretudo ao consumo; os valores éticos e culturais que remetem não só para os critérios dos Índices de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, mas também para a sistemática análise de factores ambientais, culturais e ecológicos, ligados ao bem-estar.
Vem esta questão a propósito da intenção, anunciada pelo instituto que produz as estatísticas na Inglaterra, de seguir o exemplo do governo francês e começar a analisar estes índices. (Ouvir aqui). Não deixa de ser interessante observar um país que tanto contribuiu para o desenvolvimento de novos meios de produção, tendo sido pioneiro na Revolução Industrial, aceitar que a definição das políticas públicas deve passar também por estes índices.
E claro que a maior importância dada a conceitos como o FIB terá certamente a ver com a tomada de consciência de que a busca incessante de mais riqueza de forma mais rápida tem conduzido a um modelo de desenvolvimento económico cujos efeitos colaterais negativos estão à vista de todos.

2 comentários:

  1. Analima

    Guiar os destinos das nações pelo PIB, já demonstrou que é uma opção totalmente errada, porque o mais importante não é valorizado.

    Obrigada pelo post e pela referência ao Sustentabilidade é Acção.

    Beijinhos

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  2. O mais difícil, quanto a mim, será encontrar instrumentos de medida cada vez mais correctos para estes novos índices. Mas os especialistas lá chegarão.
    E, Manuela, sempre às ordens! :)
    Um bom resto de semana.

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