O som era o de uma "melodia de sempre", daquelas que tanto se podem ouvir numa gravação enquanto esperamos que nos atendam o telefone numa empresa; ou num elevador num edifício onde não se acredita que alguém aguente o silêncio dentro de uma caixa fechada, com pessoas que podemos não conhecer.
O homem, já velho, sentado no banco em frente, permanece imóvel, como que enfeitiçado. A música parece ser-lhe indiferente. Ele olha aquelas teclas que, obedecendo a uma ordem pré-formatada, dão ao piano a ilusão de não precisar de pianista.
O seu ar não é de surpresa. É apenas de resignação, como se ele fosse aquele piano, tocado por umas mãos invisíveis que o obrigam a estar ali sentado a olhar o movimento das teclas que, de outra forma, não conseguiria acompanhar.
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