No dia em que comuniquei aos meus
pais que me iria candidatar ao curso de Sociologia na universidade, eles
torceram um pouco o nariz. Achavam que era uma ciência "exótica" e,
mais que isso, temiam a forma como se faria a minha inserção no mercado
profissional. Direito, por exemplo, seria, para eles, uma escolha mais segura.
Mas sabiam que tudo o que dissessem não me faria mudar de opinião, eu que tanto
tinha hesitado (mas sempre à volta de áreas como a Filosofia e a História). E
por isso não me disseram muito. A vontade de que a sua única filha tirasse um
curso superior era tão grande que, desde sempre, outra alternativa não se
colocou. Neste caso foi o juntar de duas vontades pois a situação de estudante
era a única que eu via para mim na altura. Após o curso tudo correu bem.
Vivia-se em tempo de vacas gordas, com os fundos europeus a disponibilizarem
verbas para formações pós licenciaturas e com o mercado de trabalho a absorver
com facilidade quem saía das universidades. Tive várias oportunidades de emprego.
A minha veia mais sonhadora e menos economicista levou-me a optar, não pelas
que me dariam mais dinheiro mas pela que, achava eu, me permitiria trabalhar no
desenvolvimento de projectos em que acreditava.
Ao longo do tempo, muitas dúvidas
me assaltaram e muitas vezes questionei as minhas escolhas.
Actualmente, na equação a ter em
conta na altura da tomada de decisões acerca do futuro, as incógnitas são
tantas que a resolução é muito mais difícil. E penso nos pais que durante tanto
tempo defenderam os estudos superiores como forma de os filhos terem uma vida
profissional mais estável e financeiramente mais compensadora.
Continuo a achar que não devem
ser as retribuições financeiras esperadas a presidir às escolhas de futuro. Mas
para quem não tem a mesma opinião ou que, mesmo tendo, entende que a
retribuição deverá ser proporcional ao esforço, que confusão a situação que
notícias como esta retratam. Claro que não é só de agora que os bons
profissionais se fazem pagar bem, seja em que área for. E ainda bem que assim
é. Sabemos também que as leis do mercado obrigam a uma valorização do trabalho
que tem mais procura por parte dos empregadores e, ao contrário, desvalorizam
aquele que se encontra em excesso. E também é óbvio que se trata de anúncios no
portal do Instituto de Emprego e Formação Profissional, não permitindo qualquer
generalização. Mas só o facto de terem sido publicados é mais um indicador de
uma realidade que quem planeia e tem responsabilidades nas áreas da educação e
do emprego não poderá deixar de ter em conta. E, já agora, todos nós.
Mas tudo isto não poderá pôr em causa a importância do estudo e servir de argumento para os que consideram que a educação está do lado da despesa e que, portanto, os investimentos aí feitos poderão ser mais leves. É que os efeitos perversos destas ideias poderão tornar-se muito perigosos.
Ana,
ResponderEliminarexcelente o seu blog. Racional, contido, conciso (e com sizo, também). E sobretudo admirável pela simplicidade na abordagem dos assuntos. Cheguei aqui por acaso. Hei-de cá voltar assiduamente. Parabéns e continue.
José Carlos Teixeira
Obrigada pelas suas palavras. E sempre que voltar será bem vindo.
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