A morte de Helena Cidade Moura e
a importância que o seu trabalho na área da alfabetização teve faz-nos pensar
que, apesar dos esforços de muitos e das melhorias alcançadas, muito ficou por
fazer. É uma tragédia que ainda hoje existam adultos que não sabem ler nem
escrever mas é ainda pior que existam crianças e adolescentes que, mesmo com a
escolaridade obrigatória implantada há tantos anos, estão longe de conseguir
articular uma ideia ou interpretar um texto...
Mas o que me levou a escrever
sobre esta questão foi o facto de ter conhecido algumas pessoas que se
dedicaram a esta nobre tarefa que, apesar de constituir uma preocupação já
antes de Abril de 74, foi depois desenvolvida com outros pressupostos. Estas
campanhas de alfabetização mudaram a vida a muita gente. Lembro-me de uma amiga
me contar que o trabalho ia muito para lá do ensino das letras. Um dos
objectivos passava por um mínimo de auto-conhecimento, inclusive físico. Não
esqueci o que me disse relativamente a muitas mulheres que não tinham apenas
vergonha de mostrar o seu corpo a outras pessoas, mesmo que se tratasse do
próprio marido. Elas nunca se tinham visto inteiramente nuas num espelho e esse
era um trabalho para casa, simples mas complexo e cheio de significado. A
alfabetização era a mudança e Helena Cidade Moura e tantos outros sabiam-no.
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