Comprei-o o mês passado. Nem a propósito. Este pequeno livro, de José Ricardo Nunes, tem como título "Versos Olímpicos". Teriam sido inspirados pelos últimos jogos olímpicos, em 2008. Depois de assistir a parte da cerimónia de hoje lembrei-me logo deste poema que aqui deixo.
Cerimónia de Abertura
Entram no estádio e desfilam
as delegações: uma bandeira
por país, um capitão
a comandar os implicados
no crescimento do comércio global.
Os desportistas sorriem, acenam,
cumprem à risca o seu papel de figurantes.
Digo-lhe que não sei parar as imagens.
Reina a paz e a concórdia.
Mesmo os que vieram apenas para competir,
perder, sonham com o milagre
que lhes turva os olhos de glória. E eu,
sentado neste sofá suburbano
que treme à passagem do comboio,
acredito no que lhe digo.
Lembra o comentador, algo comovido
pelas últimas notícias, que na Grécia
faziam tréguas durante os Jogos.
Alguém é dono da verdade? Resta-nos
o poder de mudar livremente de canal
ao sabor dos nossos humores tão variáveis.
Estou sempre a dizer isto à Jacinta.
in José Ricardo Nunes, Versos Olímpicos, Deriva Editores, 2009, p. 5
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